As séries dos anos 80 eram insanas, vistas em retrospectiva, mas a gente adorava. Até por falta de alternativa. Hoje as novas gerações não sabem o mundo maravilhoso que as cerca, repleto de opções, séries com altíssima qualidade de produção e roteiro, TVs 4K, streaming, etc. Vamos então mostrar aos millenials os fatos da vida, 14 séries dos anos 80 que a gente adorava, ainda adora, mas reconhece que eram… complicadas.
1 – Manimal
- Título original: Manimal
- Temporadas: 1
- Episódios: 8
- Data: Setembro de 1983 a Dezembro de 1983
Jonathan Chase, explorador, milionário, detentor dos segredos da África, conhecedor dos mistérios do Tibet, ele aprendeu a invocar o poder oculto e se transformar em qualquer animal, mas assim como o Mutano na série dos Titãs, ele só vira um felino, no caso uma pantera negra (tudo bem, na época não era apropriação cultural). Quando não era a pantera, ele era um gavião, pois foi tudo que o orçamento dos efeitos conseguiu bancar.
Manimal era uma das inúmeras séries dos anos 80 aonde um sujeito com algum truque esquisito auxiliava a polícia a resolver casos. Depois de uns dois episódios o truque cansou, e não é surpresa que Manimal tenha sido cancelada sem cerimônia com 8 episódios.
2 – Automan
- Título original: Automan
- Temporadas: 1
- Episódios: 13 (um não-exibido)
- Data: Dezembro de 1983 a Abril de 1984
Nos rastros de Tron, de 1982, surgiu Automan, uma série aonde um programador da polícia ao invés de criar a Kelly LeBrock, inventa um combatente do crime bonitão digital, com superpoderes elétricos e até um sidekick, o Cursor.
Sem a verba da Disney, Autronman usava gráficos desenhados na mão mesmo, o Cursor criava um wireframe, um efeito especial safado inseria um Lamborghini Countach LP400 com várias faixas de adesivo reflexivo coladas, e pronto.
Claro, a gente adorava quando o carro fazia curvas de 90 graus. E não, ninguém na cidade reparava num cara azul brilhando, e pior ainda, um sujeito inventa uma IA superpoderosa e não corre pra vender pro Pentágono ou pro Bill Gates.
Automan também tinha uma moto e eventualmente um helicóptero, afinal todo mundo tem que vender brinquedos.
3 – Operação Resgate
- Título original: Salvage 1
- Temporadas: 2
- Episódios: 20 (4 não-exibidos)
- Data: Janeiro de 1979 a Dezembro de 1979
Chupa Elon Musk, Operação Resgate foi a série dos anos 80 que antecipou a SpaceX em décadas! Operação Resgate contava a história de um dono de ferro-velho que resolveu construir um foguete usando sucata, e recuperar o material deixado na Lua pelas missões Apollo, que seria vendido na Terra por uma fortuna.
Para fazer isso ele contrata um ex-astronauta, uma especialista em combustíveis e constroem o Abutre, um foguete SSTO (Single Stage To Orbit) aonde o módulo de comando é uma betoneira. Isaac Asimov foi consultor dessa deliciosa bobagem, mas pelo visto só pegou o cheque e assinou seu nome nos créditos.
Depois da missão original, eles ficarem sem ter pra onde ir e acabaram combatendo o crime em Los Angeles, derrubando ditadores africanos, você sabe, o usual.
4 – A Supermáquina
- Título original: Knight Rider
- Temporadas: 4
- Episódios: 90
- Data: Setembro de 1982 a Abril de Abril
Um vôo de sombras no mundo perigoso de um homem que não existe. Pois é, o pior que essa narração brega é tradução literal da versão original. Mas não importava, pra gente era o máximo a história de um policial que foi dado como morto, foi resgatado por uma organização secreta bancada por um milionário e transformado em combatente do crime.
Junto de Michael Knight, seu carro KITT (Knight Industries Two Thousand, quando o Ano 2000 era um futuro distante), uma inteligência artificial cheia de personalidade, além de um monte de recursos, como hackear telefones e um modo turbo que o fazia ir mais rápido de um lado pro outro na cidade do interior aonde invariavelmente a ação acontecia.
5 – Moto Laser
- Título original: Street Hawk
- Temporadas: 1
- Episódios: 13
- Data: Janeiro a Maio de 1985
Imagine que você quer aproveitar o sucesso da Supermáquina, mas só tem orçamento de conserto de geladeira. O Jeito é um downgrade. Surge Moto Laser, a história de um ex-policial que foi convocado para um projeto secreto do governo, aonde combate o crime com ajuda de uma super-moto.
A tal moto consegue correr a 480Km/h, tem lasers, metralhadora, foguetes, câmeras, computares e a decência de não falar nada, que é o que eu deveria fazer ao invés de admitir que adorava o seriado.
6 – O Super-Herói Americano
- Título original: The Greatest American Hero
- Temporadas: 3
- Episódios: 45 (5 não-exibidos)
- Data: Março de 1981 a Fevereiro de 1983
Essa talvez seja uma das mais simpáticas séries da década. A música-tema é um delicioso chiclete, e se os defeitos especiais eram paupérrimos mesmo na época, a gente perdoava. A história de Ralph Hinkley foi talvez o primeiro herói atrapalhado da TV.
Ele era um professor de escola pública que sobre uma abdução por alienígenas, mas ao invés da tradicional sonda anal, ele ganha de presente um traje que confere ao dono um monte de superpoderes, limitados somente pela imaginação dos roteiristas.
O problema é que Ralph é um sujeito atrapalhado, e perde o manual. Ele mal consegue voar, e passa mais tempo brigando com o traje do que com bandidos. Ralph foi o primeiro de muitos heróis atolados, mas bem-intencionados, e nós o amávamos por isso.
7 – Tal Pai, Tal Filho
- Título original: Doogie Howser, MD
- Temporadas: 4
- Episódios: 97
- Data: Setembro de 1989 a Março de 1993
Doogie Howser era tipo o Shaun, do The Good Doctor, com a diferença que nunca tomou vacinas. Filho de um médico famoso, o garoto é um gênio, com memória fotográfica, conhecimento enciclopédico. Doogie terminou o segundo grau com 6 anos, se formou em Princeton com 10, e concluiu o curso de medicina com 14 anos de idade.
Na série ele está com 16 anos, e é residente em um hospital, dividido entre os problemas de ser um gênio, e ser adolescente.
O segredo da série é o f҉a҉b҉u҉l҉o҉s҉o҉ digo fabuloso Neil Patrick Harris, aka Barney Stinson, que viria a se tornar um dos sujeitos mais queridos e admirados de Hollywood, e em Doogie Howser já despertava talento, apesar da improvável premissa de um moleque de 16 anos tratar pacientes em um hospital.
8 – O Incrível Hulk
- Título original: The Incredible Hulk
- Temporadas: 5
- Episódios: 80 (mais cinco filmes para TV)
- Data: Novembro de 1977 a Maio de 1982
Um belo dia a Universal descobriu umas moedas perdidas nas almofadas de um sofá. Juntou US$4,65, ligou para a Marvel e falou “Marvel meu Rei, vamos fazer uma série?” A Marvel respondeu “Só se for agora” e surgiu a série do Hulk.
Esqueça Vingadores, esqueça Ed Norton, esqueça tudo. Elimine o Universo Marvel mais eficientemente do que Thanos. O dinheiro só deu pra contratar um Halterofilista e comprar uma lata de tinta verde. Pois é. O Gigante Esmeralda era um sujeito comum (em termos) pintado de verde com uma peruca ridícula.
Ao invés de ameaças intergalácticas, Hulk enfrentava capangas, xerifes corruptos e seu maior inimigo era um jornalista, mas para uma criança o que importa era ver o verdão arretado! E a musiquinha no final, direto nos feels.
9 – Buck Rogers no Século XXV
- Título original: Buck Rogers in the 25th Century
- Temporadas: 2
- Episódios: 37
- Data: Setembro de 1979 a Abril de 1981
Buck Rogers sem-querer virou uma das séries dos anos 80 mais influentes, apesar de vida curta. O personagem é bem antigo, foi criado em 1928, bem antes do mais conhecido Flash Gordon, que é de 1934.
A história começa no distante futuro de 1987, quando um acidente tira de curso a nave do Capitão William Buck Rogers, que é congelado por séculos, até o ano 2491, quando é salvo e passa a viver em uma Terra meio utópica, enfrentando todo tipo de desafios, incluindo anões telepatas tarados e princesas malignas alienígenas.
A série era bem cara, mas dava pra ver o dinheiro bem-gasto. Os caças eram lindos, os visuais ótimos. Um monte de tropes que vemos até hoje surgiram em Buck Rogers, e o Birdperson de Rick and Morty? É uma homenagem óbvia a um dos personagens da série, o Hawk.
Ah sim, a Coronel Wilma Deering foi o que disparou a puberdade de um monte de meninos, e algumas meninas também.
Na segunda temporada para baratear a produção Buck Rogers virou uma espécie de Viagem ao Fundo do Mar, com os personagens embarcando em uma nave para explorar a galáxia, ou algo assim. Não ornou. Esse tipo de soft reboot aliás era comum em séries dos anos 80.
10 – Águia de Fogo
- Título original: Airwolf
- Temporadas: 4
- Episódios: 80
- Data: Janeiro de 1984 a Agosto de 1987
As séries dos anos 80 tinham uma trope em especial; era muito comum a história girar em torno de algum veículo com um monte de upgrades. Carros, motos, Thunder, no caso da série do Hulk Hogan, e aqui, um helicóptero. Mas não um helicóptero comum.
O Águia de Fogo era um helicóptero Mach 1+ armado até os dentes, com um cockpit repleto de tecnologia. Foi a primeira vez que um monte de gente viu um CD-ROM. As histórias às vezes eram bem dark. Stringfellow Hawk era o protótipo do mocinho atormentado e quietão.
A música-tema é uma das mais marcantes da década, e a gente adorava ver aquele lindo Bell-222 modificado rugindo feito um dinossauro. Águia de Fogo era e ainda é o mais avançado helicóptero de combate do mundo e não importa que era fictício. Não aceite imitações.
11 – Trovão Azul
Eu falei não aceite imitações.
12 – Os Gatões
- Título original: The Dukes of Hazzard
- Temporadas: 7
- Episódios: 147
- Data: Janeiro de 1979 a Fevereiro de 1985
Eram só dois bons garotos que não queriam fazer mal a ninguém. Hoje eles são basicamente Hitler 1 e Hitler 2 por terem um carro chamado General Lee, com a bandeira dos Confederados pintada no teto, mas na época ninguém se importava.
Bo e Luke Duke viviam no Condado de Hazzard, em condicional por terem sido condenados por contrabando de bebida. A vida deles era infernizada pelo Chefe Hogg, o cara mais rico da cidade, corrupto e ganancioso até o osso. Ele controlava tudo, inclusive o incompetente xerife Rosco.
Os Dukes viviam passando a perna nos esquemas do Chefe Hogg, e se safando no último momento, em geral graças a acrobacias feitas com o General Lee, um Dodge Charge 1969. Ou melhor, 309, a quantidade de carros usados na série. Hoje ele é um dos veículos mais icônicos da história da TV, bem como sua buzina:
13 – O Homem do Fundo do Mar
- Título original: Man from Atlantis
- Temporadas: 1
- Episódios: 13 (mais 4 filmes)
- Data: Setembro de 1977 a Junho de 1978
A premissa era realmente original, ao menos para a época. Mark Harris é um sujeito que foi achado em uma praia, sem memória. Ele tem guelras, consegue respirar debaixo d’água, mas não fala com peixes como Aquaman, nem é um imenso babaca como o Deep, afinal uma regra de todas as séries dos anos 80 era que o mocinho deveria ser bonzinho.
Ele se junta à Fundação de Pesquisas Oceânicas, uma organização secreta do Governo (claro) e se seguem muitas aventuras molhadas. Basicamente toda criança dos Anos 80 tentou imitar o nado estilo enguia do Patrick Duffy, e falhou miseravelmente.
14 – Galactica – Astronave de Combate
- Título original: Battlestar Galactica
- Temporadas: 1
- Episódios: 24 (Com um revival de mais dez em 1980)
- Data: Setembro de 1978 a Abril de 1979
Com o sucesso de Guerra nas Estrelas em 1977 todo mundo tentou faturar em cima do filão de ficção científica. Glen a Larson, um criador/produtor já experiente na época aproveitou para vender seu projeto de estimação: Battlestar Galactica, uma série contando a história de um grupo de humanos fugindo de um império maligno que destruiu sua civilização, em busca de um planeta lendário, que teria sido a origem das Colônias: A Terra.
Galáctica é um samba do crioulo doido que mistura Eram Os Deuses Astronautas com cultura egípcia, anjos, maias, e principalmente, mitologia Mórmon; boa parte da série é basicamente uma versão disfarçada da obra de Joseph Smith, mas como Mórmons são do Bem, ninguém reclama.
Galactica mistura ação pura com filosofia, mitologia, momentos épicos, tudo sob a supervisão do Comandante Adama, interpretado pelo magnífico Lorne Greene, um sujeito com tanta força, dignidade, respeito que parece o Morgan Freeman usando whiteface.
Galactica também tem caubóis, vilões mastigando o cenário, um cachorro-robô horrendo, crianças irritantes e diálogos constrangedores, hoje eu reconheço.
Infelizmente Galactica era cara demais, e foi cancelada, voltando um ano depois com uma temporada aonde quase ninguém do elenco original sobreviveu, e que tinha até nazistas. Em TV é assim, na falta de idéia, use nazistas. Não ornou.
O reboot de 2003 foi excelente, expandiu e subverteu a mitologia da série, mas quem viu o original sempre prefere os personagens que cresceu assistindo, mas eu reconheço que a nova versão foi responsável pela cena mais épica da história do combate espacial, a Manobra Adama.
Ronald Moore, o produtor e showrunner da série disse na época em seu podcast:
“We’d better get a fucking Emmy por isso” (É bom que a gente ganhe um danado de um Emmy por isso”.
Eles ganharam o danado do Emmy.
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