Há pouco mais de um ano, um dos maiores projetos aprovados no site de crowdfunding Kickstarter dominava as manchetes de todos os sites de tecnologia: haviam inventado uma caneta que desenhava no ar , e a campanha para esta pequena prodígio se tornar realidade quebrara todas as expectativas. Em apenas 30 dias de exposição do projeto, a arrecadação da 3Doodler, a primeira caneta 3D da história, ultrapassou seus US$ 30 mil de meta e foi até os US$ 2.344.134 ( cerca de R$ 5 milhões ). Financiamento coletivo: listamos 10 projetos bem-sucedidos em 2013 A embalagem da 3Doodler vem com muitos refis coloridos, além da caneta (Foto: Renato Bazan/TechTudo) O TechTudo teve a chance de botar as mãos nessa nova ferramenta e podemos dizer sem dúvida: esse objeto criado pela WobbleWorks pouco tem a ver com uma caneta. Mesmo que seu formato lembre, de longe, aquele de um adereço para escrita, a semelhança termina aí – a 3Doodler é muito mais. Desenhando com plástico A 3Doodler, fielmente descrita, é mais semelhante a uma impressora 3D do que qualquer objeto do dia a dia. O processo de impressão é exatamente o mesmo, aliás: através de um sistema de superaquecimento e subsequente extrusão de um filete de plástico que brevemente se solidifica. saiba mais YouPix 2014 em fotos: testes com Oculus Rift e caneta 3D se destacam Qual sabor? Impressora 3D criada pelo MIT fabrica sorvetes em 15 minutos Fone fabricado por impressão 3D promete encaixe perfeito na orelha 3D Systems chega ao Brasil e pode deixar impressoras 3D mais baratas Impressora 3D adaptada se transforma em ‘máquina de tatuar’ Uma ponta metálica em constante superaquecimento vai ocupando posições no ar e deixando seu rastro de plástico. A diferença é que, ao invés de uma estrutura de trilhos que leva a ponta da ferramenta de impressão para coordenadas específicas, existe a mão do usuário.
Qual a melhor impressora multifuncional?
Opine no Fórum do TechTudo. Tipo de plástico Ela pode usar plásticos do tipo ABS e PLA, como a maioria das impressoras 3D domésticas, e emite o mesmíssimo aroma peculiar de borracha queimada durante o trabalho. O uso de PLA, no entanto, tem que ser feito com cautela: sua composição química é altamente reativa com o papel, e não se desgrudará com facilidade se o usuário trabalhar sobre o jornal ou algo do gênero. Duas velocidades A caneta conta com duas velocidades diferentes, teoricamente pensadas uma para os traços longos e outras para os trabalhos de precisão. No entanto, há uma limitação grave: quando acionada em sua variação mais veloz, o fluxo inconstante do fio plástico impossibilita a precisão nas formas. A gravidade é a principal vilã, sempre. Pois distorce os fios para baixo assim que eles deixam a ponta. Por causa disso, é quase impossível orientar o traçado em curvas – para tal, faz-se obrigatório um suporte no formato curvilíneo desejado, para que o fio de plástico possa contorná-lo até que solidifique. Construir as formas em três dimensões exige raciocínio e planejamento (Foto: Renato Bazan/TechTudo) Todo o processo criativo lembra o trabalho de um engenheiro, mais preocupado com a viabilidade estrutural das formas: traços verticais precisam ser apoiados pelo desenhista até que enrijeçam, formas suspensas precisam de pilares e a economia de traços é essencial para que nada desabe sozinho. Tecnologia de anteontem Fora os desafios inerentes ao uso de filetes de plástico, a própria construção da 3Doodler não ajuda muito na criatividade do usuário. Cada refil é pequeno demais, e a troca atrapalha em muito o andamento e criação de peças longas que precisam de mais de uma carga. A troca de cores, então, é uma grande dor de cabeça. O refil não pode ser removido quando está perto do fim, é preciso gastar tudo e esperar que a caneta encontre o novo fio para continuar. Uma bagunça. O tipo de processamento do plástico escolhido para o processo de extrusão, via calor, cobra seu preço. É preciso tomar muito cuidado ao manusear a caneta, pois sua ponta fica muito quente durante o derretimento do plástico. Um toque de leve pode ser suficiente para provocar uma queimadura superficial, e isso vai acontecer – muitas vezes –, será preciso interromper o caminho do plástico perto da ponta, como forma de voltar atrás no traço e continuar o desenho. Forma e peso Nem tudo é ruim, felizmente. É preciso reconhecer: apesar de ter um corpo muito largo para o que se pretende ser uma caneta, seu peso é relativamente leve, e seu formato tem uma pegada boa, que afasta o calor da queima de plástico das áreas de contato. O plástico rígido e os botões emborrachados no centro da 3Doodler parecem bastante resistentes ao manuseio, e a decisão de deixar o fio elétrico na ponta oposta à da saída do plástico tem um efeito estabilizador sobre a movimentação. O papagaio apoiado nesta torre foi feito exclusivamente pelo uso da 3Doodler (Foto: Renato Bazan/TechTudo) Primeiros traços Não seria justo julgar por uma experiência tão curta a real funcionalidade de um objeto tão incomum, mas é possível afirmar: o primeiro contato com uma caneta 3D é menos do que amigável. Quem quer que vá esperando algo como um lápis mágico terá uma sincera decepção, pois há um longo aprendizado até que o usuário consiga dominar a 3Doodler e produzir belezas como a da foto acima. Será preciso algum conhecimento e muita “tentativa e erro” até lá. A tecnologia, afinal, há pouco nem existia. Nem mesmo a 3Doodler chegou, uma variação mais avançada já tomou as manchetes em maio: a caneta 3D Lix Pen , prospectada para chegar ao mercado em janeiro de 2015 . Além de realmente parecer uma caneta no seu formato e manter um fluxo de plástico melhor, sua ponta não é aquecida – ao invés disso, a caneta usa um material reativo à luz para solidificar o traçado tridimensional. Vale reforçar o que disse Ricardo Cavallini, sócio da Makers do Brasil – empresa entusiasta que trouxe e exibiu a caneta 3D no youPix – ao TechTudo: “A 3Doodler tem muito mais a ver com o exercício da
criatividade do que com precisão artística. Ainda não há condições para a
criação da perfeita caneta 3D”. Onde encontrar Quem se interessou pela 3Doodler pode visitar a página do Kickstarted para conhecer o início do projeto. Encomendar uma caneta 3D com 50 cargas de cores por US$ 99 no site oficial – o refil de cada carga custa US$ 9,99. Há ainda um canal no YouTube com o passo a passo da impressões.