Muito tem se falado sobre Jane Foster, a Thor Mulher que aparecerá no quarto filme da franquia, interpretada pela poderosa Natalie Portman, mas quem é essa personagem e qual sua importância na HQ e nos filmes do MCU?
Para entendermos Jane Nelson Foster (o nome mudou, seu maiores explicações depois das duas primeiras histórias) primeiro precisamos entender Thor.
A versão da Marvel foi criada em 1962 por Stan Lee, Larry Lieber e Jack Kirby. Ela segue os preceitos básicos das mitologia (que é como a gente chama a religião dos outros) nórdica; Thor é um deus jovem e arrogante, que se preocupa mais em guerrear e celebrar do que em cumprir seu papel divino.
NOTA: Ao contrário da DC, no Universo Marvel deuses são basicamente criaturas alienígenas muito poderosas. Mesmo os próprios deuses agem assim, embora gostem de se gabar de sua condição divina.
Cansado da arrogância do filho, Odin exila Thor na Terra, sem suas memórias, forçando-o a viver a vida de um médico manco, Donald Blake. Aos poucos ele aprende sua lição de humildade, encontra seu martelo Mjolnir em uma caverna e o usa para se transformar em Thor.
Jane Foster apareceu na segunda história do herói, publicada em Journey into Mystery #84.
Jane era enfermeira no hospital onde Donald Blake trabalhava quando não estava sendo Thor, e aos poucos foi rolando um clima, mas enquanto Thor pegava geral, Donald Blake tinha vários problemas de autoestima, incluindo ser deficiente físico nos anos 60. Como resultado ele nunca teve coragem de chegar junto, apesar de Jane estar dando total condição.
Aos poucos Jane começou a notar Thor, e com Donald Blake se encaminhando sozinho pra Friendzone, ela arrastou asa praquele deus grego, digo asgardiano, e Thor retribuiu a atenção, criando uma situação claramente kibada do triângulo Super-Homem, Lois Lane e Clark Kent, e que rendeu momentos constrangedores de puro duplo-sentido e malícia:
Apesar de ter começado como adereço de cena, Jane Foster logo se tornou personagem recorrente nas histórias do Deus do Trovão, ele inclusive contrariou Odin e revelou sua identidade secreta a ela.
Em 1966 Jane foi levada para Asgard, onde ganha imortalidade e a chance de virar uma deusa, mas ela falha e como punição Odin apaga sua memória e a manda para a Terra, onde Jane acaba conhecendo e se casando com um tal Dr Keith Kincaid, enquanto Thor volta sua atenção para Lady Sif.
Antes disso foram várias aventuras ótimas para o Ego de Jane Foster, ela chegou a ser objeto de disputa entre Thor e Hércules.
Jane em algum momento deixou de ser enfermeira e virou médica, participando da maioria dos grandes eventos da Marvel, como Guerra Civil e Guerras Secretas, mas a grande mudança na vida da personagem foi acontecer em 2013, quando seu ex-marido e filho morrem em um acidente de carro, e logo depois ela descobre que está com câncer.
Thor enquanto isso convida Jane Foster a ser representante da Terra no Congresso dos Mundos, um corpo diplomático com representantes dos Dez Reinos, sediado em Asgardia. (Asgard não existe mais, mas isso é outra história)
Jane divide seu tempo entre o Congresso e a Terra, onde faz tratamento quimioterápico tentando curar seu câncer. Thor oferece a ela os médicos asgardianos, mas Jane rejeita qualquer tratamento baseado em magia.
E o Thor?
Thor tem outros problemas. Durante um daqueles arranca-rabos cósmicos Nick Fury sussurrou algo no ouvido de Thor que o fez perder toda a confiança em si mesmo, ele não se sentiu mais digno de Mjolnir, que foi parar na Área Azul da Lua. Tentando recuperar o martelo, Thor se descobriu incapaz de erguê-lo, e logo os deuses asgardianos peregrinaram para o local tentando levantar Mjolnir, mas nenhum conseguiu.
Nem mesmo Odin.
Em meio a isso tudo Malekith, o Elfo Negro está colocando em ação seu plano de conquistar os Dez Reinos, e enfrenta Thor em uma base submarina da Roxxon. Durante a batalha Malekith arranca o braço do Deus do Trovão, deixando-o para morrer no fundo do oceano.
Na Lua uma figura se aproxima de Mjolnir, e ao pegar em seu cabo, a inscrição brilha:
“Quem segurar este martelo, se ele for digno, possuirá o poder de THOR”
Sendo que nesse momento a inscrição é alterada:
“Quem segurar este martelo, se ela for digna, possuirá o poder de THOR”
Na página seguinte vemos a Deusa do Trovão, em toda sua glória!
A notícia se espalha, e por vários números ninguém sabe quem é a nova deusa do trovão, nem os leitores, mas infelizmente você já sabe, e seria impossível esconder isso em um filme, mas Thor fica desesperado, chega a fazer uma lista de suspeitas, que incluía até Freyja, sua mãe.
Odin considera Lady Thor uma usurpadora, mas aos poucos a ficha vai caindo; ela não escolheu ser Thor, ela foi escolhida pelo Martelo.
Mjolnir na mão de Thor (ela não quer ser lady de ninguém) revela ter vontade própria, consciência. Jane é quase parceira dele, e não mera usuária, mas surge um problema: A quimioterapia não está funcionando mais. Jane Foster estar morrendo.
Ela logo descobre que cada vez que se transforma em Thor, Mjolnir limpa seu corpo de todos os venenos e impurezas. A medicação quimiterápica é veneno, já o câncer, é parte dela. Cada vez que Jane se transforma, ela anula seu tratamento.
Há males que vem pra pior
Jane está cada vez mais fraca, tendo que escolher entre fazer seu tratamento ou ser Thor, mas isso nem sempre é uma escolha. Ela foi sequestrada pelos deuses de Shiar, teve que defender Asgard contra os Elfos Negros e a Rainha das Brasas, e acabou fazendo o sacrifício supremo quando Mangog, o destruidor de deuses lançou Asgardia no Sol, e derrotou todos os deuses, incluindo Odin.
Na batalha final Thor prendeu mangog com as Gleipnir. a corrente criada para conter Fenris, o lobo do Ragnarok. A outra ponta ela amarrou em Mjolnir e lançou o martelo no Sol, onde ele foi destruído junto com Mangog.
Thor, longe do martelo se transforma de volta em Jane Foster, pela última vez, mas seu coração não bate mais, como previsto ela não aguentou o esforço.
Os curandeiro de Asgard não podem fazer nada, Jane deixou o reino mortal e aparece nas portas do Valhalla, mas antes de entrar é interrompida com Odin, que começa antagonizando-a mas logo reconhece que ela mereceu o título de Thor, e que salvou não só Odin como tudo e todos que ele ama.
Odin apresenta a ela o Valhalla, mostrando como sua vida eterna será cheia de paz, amigos valorosos, festas, bebidas… mas eis que Jane Foster grita de dor. Na Lua algo acontece.
Quando Mjolnir foi destruído ele libertou o Deus Tempestade que era a entidade dentro do martelo, uma tempestade cósmica que existia desde o início da Criação. O Deus Tempestade se aproximou da Lua e de Jane Foster. Odinson (o nome com que o antigo Thor se apresentava agora) percebeu o que a Tempestade estava tentando fazer, e usando seu poder de Deus do Trovão, canaliza a tempestade para o corpo de Jane.
O braço mecânico de Thor começa a derreter, Odin diz que a Tempestade é forte demais para ser controlado mesmo por um deus. Mas não por dois.
Jane é ressuscitada com a força de Thor Odin e do Deus Tempestade, mas nada mudou, ela ainda tem seu câncer. Ela volta pra Terra e retoma seu tratamento.
Em um raro caso nas histórias em quadrinhos, ela não é salva por um Deus Ex Machina, todo seu tratamento, as inúmeras histórias onde ela enfrentou o câncer, perdeu amigos no hospital e encarou a morte, nada disso foi esquecido ou minimizado. Jane Foster foi curada pela boa e velha ciência, pela medicina humana.
Fazendo as pazes com Odinson, Jane diz que ele deve voltar a ser Thor, mesmo sem Mjolnir, e que foi uma honra ter usado aquele nome por um tempo. É o fim da Deusa do Trovão.
Guerra dos Reinos
Jane Foster combate as forças de Malekith junto dos outros deuses, mesmo sendo uma simples mortal, e depois que Odin e Freyja são capturados ela é empossada como Mãe de Todos, suprema líder de Asgard. Recitando que “sempre deve existir um Thor”, Jane ergue o martelo do Thor da Guerra, um martelo de um universo alternativo, e mais uma vez se torna a Deusa do Trovão.
O martelo novo é instável, só resistirá por algum tempo. mas é o suficiente para que Jane desestabilize as tropas de Malekith, junto com vários Thors de períodos de tempo diferente, enquanto Thor Odinson está no Sol, com um fragmento de Mjolnir.
Ele usa o fragmento e junto com o Deus Tempestade, criam um novo martelo, Thor fez as pazes consigo mesmo, ele agora é Thor o Indigno.
Depois do último golpe o martelo de Jane Foster se esfacela, mas ao invés de se destruir, vira um bracelete que se transforma na arma mais adequada para cada tipo de combate.
Pós-Guerra
Jane tenta voltar ao trabalho no hospital, enquanto a humanidade se recupera, e enquanto trabalha no necrotério, recebe a visita de Thor. Ela fala que sente o bracelete tentando mudá-la, transformá-la em algo, mas não em Thor. Nessa hora o espírito de Brunhilde, a maior das Valquírias aparece e oferece a jane a oportunidade de ser a nova Valquíria, levando Justiça ao mundo dos mortais e conduzindo os mortos valorosos ao Valhalla. Ela aceita e essa é a mais nova fase de Jane Foster.
No MCU
Jane Foster no cinema é doutora ainda mas em Astrofísica, no primeiro Thor, de 2011 ela é a cientista que descobre Thor na Terra e se torna “a” especialista em buracos de verme e tecnologia asgardiana, além de virar namorada do Trovoada.
No segundo filme, Thor: The Dark World Jane sem-querer se torna portadora do Éter, uma das Jóia do Infinito, no caso da Jóia da Realidade.
Depois disso Natalie Portman não apareceu mais no papel, sendo apenas mencionada ou mostrada em imagens de arquivo, mesmo em Endgame. É mencionado que ela e Thor não são mais um casal, e por isso foi uma grande surpresa saber que ela topou voltar em Thor: Love and Thunder, e como Deusa do Trovão.
A Primeira Polêmica: É Lacração, Thor Mulher?
Bem, Thor já foi um alienígena, Bill Raio Beta, já foi um sapo, na verdade dois (Throg, o Sapo do Trovão é membro dos Pet Avengers), Thor já foi até um gordo, na verdade dois (Volstagg nos quadrinhos e Chris hemsworth em Endgame). Thor ser uma mulher não é exatamente algo revolucionário, os fãs sabem que isso já aconteceu, mais precisamente 41 anos atrás, em Agosto de 1978 na edição número 1 da revista What If.
Se quiser ser pedante, dá até pra lembrar que Thor Mulher é literalmente canônico, uma das muitas lendas vikings conta que uma vez o gigante Thrym roubou Mjolnir, e como Thor não conseguiria enfrentar todos, seguiu o conselho de Loki e se infiltrou entre os inimigos, os dois vestidos como formosas donzelas, Thor se ofereceu como noiva a Thrym e conseguiu reaver Mjolnir antes da lua de mel. Dizem.
Mais do que barba, para ser Thor é preciso ser digno, e poucas pessoas são mais dignas que Jane Foster.
A Segunda Polêmica: O feminismo estragou Thor?
A resposta é sim, mas não do jeito que você está pensando. As vendas no começo foram bem ruins, o título teve uma rejeição muito grande, a Marvel estava na fase de tentar mirar em novos mercados, desprezando os antigo, sem entender a máxima de que “quem chilica não consome”.
O marketing vendeu a Thor como uma ícone para meninas empoderadas, e não há nada de errado nisso, exceto o fato de que ela não é diferente de centenas de outras heroínas. Ela é honrada, forte, guerreira, nobre, ela é um arquétipo de tudo que se espera de um herói, independente do sexo. A Jane Foster de 2014 não é diferente da Jane Foster dos últimos 40 anos. Quem acompanha a personagem sabe que ela é digna. Quem acompanha quer que as pessoas conheçam, “veja, não é novidade ela sempre foi ótima!”
Eu li mais de 500 páginas para relembrar os arcos e fazer este texto. Quem me acompanha sabe que eu odeio lacração e militância, então acreditem quando falo: Estas são as QUATRO páginas lacradoras que todo mundo usa pra apontar como a Thor é ruim.
Em um momento completamente aleatório o Homem-Absorvente (sem piadinhas) está brigando com a Thor. Do nada ele começa a reclamar de feministas e ela, literalmente uma DEUSA se ofende como uma tumblerina. Para tornar tudo mais inacreditável ainda a esposa do Mr Modess (num resisti), Titânia, outra supervilã nocauteia o marido, celebrando aquele momento de girl power que é ter um Thor Mulher, e se recusa a enfrentar a heroína.
É horrendo, reconheço, mas é um momento totalmente atípico, e é revoltante que ele seja usado por militantes de ambos os lados para denegrir a imagem de uma personagem tão complexa, complicada e profunda.
Meninas podem se inspirar em Jane Foster? Devem, todo mundo, meninas e meninos devem se inspirar em Jane Foster, em Steve Rogers, Em Jean Grey, em Matt Murdock, em Eddie Brock. OK, Eddie Brock não.
Esses personagens existem para isso, não são propriedade de ninguém, de nenhum gênero, de nenhum grupo. É dever de todo fã compartilhar, e não regular seus personagens preferidos e as lições que eles nos repassam.
O Futuro de Jane Foster no MCU
O arco do câncer dificilmente será repetido, principalmente por se assemelhar demais com Guardiões da Galáxia e o segundo Homem de Ferro, e sendo realista não teremos Guerra dos Reinos também. O mais provável é que tenhamos uma história onde Thor desaparece e os Vingadores recrutam Jane Foster para encontrá-lo, e ela acaba descobrindo Mjolnir e no final Thor é salvo mas decide não voltar, pois o martelo está em boas mãos.
Infelizmente (de novo) não teremos o momento mais épico da Jane como Thor, e que comprova que a “briga” se resume a pseudo-fãs e militantes irracionais: Odin manda o Destruidor atrás de Thor, pare recuperar Mjolnir. Ela enfrenta a armadura encantada, mas ele é poderoso demais. Thor está prestes a ser derrotada, quando a Byfrost se abre e em seu socorro aparece Odinson e todas as mulheres da lista que ele suspeitava poderiam ser a Thor.
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