Neste ano, Clube da Luta completou 20 anos e apesar de não ter tido sucesso comercial no ano do seu lançamento, o filme marcou época e a sua influência cultural é notável e visível até hoje. Mas qual foi o principal motivo para Fight Club ter se tornado um verdadeiro filme cult? Suas críticas ainda são válidas? Esses são os temas que vamos abordar neste post.
Antes de continuarmos, um aviso: esse texto vai quebrar as duas primeiras regras do clube da luta e aqui vamos falar sobre o filme e o livro Fight Club, além das suas duas sequências em quadrinhos, Fight Club 2 e Fight Club 3.
Um filme incendiário e revolucionário
Vamos começar pelo filme em si. O roteiro de Jim Uhls foi inspirado no livro de mesmo nome de Chuck Palahniuk, lançado alguns anos antes, em 1996, mas o próprio autor gostou tanto do resultado cinematográfico, que diz preferir o filme ao Clube da Luta livro. O motivo é que o final do romance é bem diferente da conclusão do filme, muito menos ambicioso e explosivo.
É preciso fazer um reconhecimento a Fight Club. O filme de David Fincher consegue a façanha de se manter atual mesmo duas décadas depois do seu lançamento, e a maioria das suas críticas mordazes ainda são muito pertinentes, algumas ainda mais do que eram na época.
Muitos dos alvos de Clube da Luta estão presentes na sociedade até hoje, alguns mais fortes do que nunca, como o consumismo, incentivado pela indústria da publicidade, que conta com a sua própria cultura. O filme bate muito na tecla de que o espectador precisa deixar de ser simplesmente um consumidor, manipulado pelas agências de publicidade e seus clientes, que decidem o que ele deve gostar e, portanto, consumir.
Escrevo essas palavras em um blog de tecnologia, e nós aqui sabemos bem que hoje em dia criou-se um ciclo anual de atualização de smartphones e, embora tablets e computadores durem bem mais do que isso, vemos cada vez mais ser colocada em prática uma obsolescência programada que certamente iria tirar Tyler Durden mais ainda do sério. Nem todo mundo troca de celular todo ano, mas garanto que a maioria das pessoas sente vontade de fazer isso.
Vamos falar um pouco da trama. No começo do filme, o narrador ainda está tentando se encontrar, quando conhece Marla Singer (interpretada pela atriz Helena Bonham Carter) em suas visitas a grupos de apoio para doenças que nenhum dos dois possui.
Sua vida começa a mudar aí, mas muda definitivamente no momento em que ele conhece Tyler Durden (o sempre excelente Brad Pitt em uma das melhores atuações de sua vida) em um voo, e depois da explosão do seu apartamento, precisa ir morar com ele.
Os dois começam uma relação simbiótica que transforma a vida do narrador, e organizam um clube da luta, a princípio inocente, só um ambiente no qual os homens podem extravasar sua raiva e colocarem para fora seus demônios de forma saudável, mas que é o tubo de ensaio para algo bem mais sinistro, uma organização terrorista niilista, o Projeto Destruição, ou Project Mayhem.
Em muito pouco tempo, os clubes da luta se espalham pelo país, e rapidamente se transformam nesta organização, que é liderada justamente por Tyler Durden, que o narrador descobre em um belo plot twist, é ninguém menos que outra identidade dele mesmo.
Desta forma, além da crítica ao consumismo, o filme também fala sobre a doença mental do seu protagonista, que sofre de um transtorno dissociativo de identidade que o leva a criar uma nova personalidade para fazer o que ele inconscientemente acredita que precisa ser feito. O narrador projeta em Tyler tudo que ele gostaria de ser, e na verdade até é, mas inicialmente não faz ideia disso.
Até o confronto final, o filme também mostra um curioso triângulo amoroso formado entre o narrador, Tyler (ou seja, a mesma pessoa) e Marla. O objetivo do Projeto Destruição é formar um exército para destruir a civilização moderna.
A organização consegue atingir seus objetivos, ao explodir os prédios no final do filme, seguindo os planos de Tyler Durden. Alguns chegaram a acusar o filme por ter servido de inspiração para os atentados de 11 de setembro de 2001.
Clube da Luta custou US$ 63 milhões e rendeu pouco menos de US$ 101 milhões nas bilheterias, só que apenas US$ 37 milhões no mercado americano, o que ficou bem abaixo da expectativa da 20th Century Fox. De qualquer maneira, se não fez sucesso financeiro, certamente marcou sua geração.
Além das excelentes atuações de Brad Pitt, Edward Norton, Helena Bonham Carter, que brilham nos papéis principais, o elenco de apoio do filme também é ótimo, e conta com atores como Meat Loaf, Jared Leto e Rachel Singer.
Inexplicavelmente, Fight Club não foi indicado a nenhum Oscar, a não ser em uma categoria técnica, a de melhores efeitos sonoros. Trata-se de uma imensa injustiça da Academia com o roteiro, direção e atuações desse filme, isso para não falar na edição, todos simplesmente sensacionais.
As sequências em quadrinhos
Após muitos anos acreditando que tinha encerrado a história definitivamente, Palahniuk mudou de ideia, e escreveu uma sequência para o Clube da Luta, Fight Club 2, uma história ilustrada por Cameron Stewart, com capas desenhadas por David Mack.
Fight Club 2 se passa dez anos após a história original, e que conta a história de como Sebastian (o alter-ego de Tyler Durden, que não chega a ser nomeado no filme) acaba caindo na rotina em seu relacionamento com Marla e seu filho Júnior, de 9 anos, que parece ter aprendido alguns truques com Tyler.
Tudo parece estar normal, mas o tédio (e a saudade de Tyler) começa a tomar conta de Marla e, eventualmente, a personalidade de Tyler terá que despertar mais uma vez. A sequência é focada no Project Mayhem, e também na ideia de que Tyler Durden é algo que existe há séculos, e não uma aberração que brotou na cabeça do narrador.
Chuck Palahniuk segue escrevendo a história do Clube da Luta, com mais um lançamento, Fight Club 3, no qual Marla e Sebastian (agora chamado Balthazar) têm outro filho, ou melhor, ela e Tyler, pois é ele quem está interessado em um novo herdeiro que possa moldar conforme o seu pensamento.
Como está o autor hoje?
Em uma entrevista pouco antes do lançamento do filme, o autor Chuck Palahniuk conta como já ganhava refeições de graça em restaurantes e lanchonetes, por conta de uma cena do livro na qual Tyler Durden não precisa pagar pelo que consumiu. O autor também conta como alguns detalhes sobre a história vieram da sua própria vida, especificamente de seis de seus amigos, além de falar sobre quais foram as suas influências literárias.
Hoje em dia, as coisas não estão fáceis para Palahniuk. Apesar do autor recentemente ter lançado outro livro, Adjustment Day, ele não está podendo colher os frutos do seu trabalho, já que está enfrentado muitas dificuldades financeiras, depois que um dos seus contadores foi preso e acusado de roubar todo o dinheiro de royalties e negociações de direitos de filmes da agência literária na qual trabalhava. O fato do autor ganhar almoços e jantares de graça pode ser útil agora que ele está passando por estas dificuldades.
Frases Clube da Luta
O livro Clube da Luta rendeu frases memoráveis, que depois foram reproduzidas no filme, e a maioria delas é dita por Tyler Durden:
Você não é o seu emprego, você não é quanto dinheiro tem no banco, você não é o carro que você dirige, você não é o que tem na carteira, você não é suas calças caquis fudidas, você é a toda cantante, toda dançante merda desse mundo.
As coisas que você possui acabam se tornando suas donas.
Eu vejo todo esse potencial, e eu vejo ele desperdiçado. Uma geração inteira abastecendo carros, atendendo mesas – escravos com colares brancos. A publicidade nos faz perseguir carros e roupas, trabalhos que odiamos para comprar merdas que não precisamos. Nós somos a criança do meio da história, cara. Sem propósito ou lugar. Nós não temos uma Grande Guerra. Não temos uma Grande Depressão. Nossa grande guerra é espiritual… Nossa grande depressão é a nossa vida. Nós fomos criados pela televisão para acreditar que um dia seríamos todos milionários, ou deuses do cinema, ou estrelas do rock, mas não vamos. Nós estamos lentamente aprendendo este fato. E nós estamos muito, muito putos.
Só quando perdemos tudo que estamos livres para fazer qualquer coisa.
Ouçam bem, minhocas! Vocês não são especiais. Vocês não são um belo e único floco de neve! Você é feito do mesmo material em decomposição que todo o resto! Nós somos a merda dançante e cantante do universo! Somos todos parte do mesmo monte de adubo.
A primeira regra do Projeto Destruição é: você não faz perguntas.
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