Nos últimos dias passamos a acompanhar a briga entre duas gigantes do mundo da tecnologia, uma disputa que mesmo já tendo mostrado algum resultado positivo para os consumidores, tem tudo para se arrastar por um bom tempo pelos tribunais. O detalhe é que por mais que não exista mocinhos neste embate, a cobrança de 30% por parte do dono da plataforma é algo bem antigo, nos levando lá para o início da década de 80, quando o mundo conheceu o Nintendo Entertainment System, o nosso Nintendinho.
Tudo começou quando, de olho no crescente sucesso que o Nintendinho vinha fazendo no Japão, executivos da Namco e da Hudson Soft Co se aproximaram da Nintendo com o objetivo de convencer a fabricante a permitir que seus jogos fossem lançados para aquele aparelho. Para isso as editoras propuseram um pagamento de 10% sobre cada título que eles vendessem no Famicom, como era conhecido o Nintendinho japonês.
Porém, os criadores da série Bomberman tinham uma barreira na sua frente, que era a incapacidade da empresa de produzir os cartuchos. Assim, a Hudson sugeriu o pagamento de uma taxa adicional de 20% para que a produção daquelas “fitas” ficasse sob os cuidados da própria BigN.
Mesmo com a ideia inicial da Nintendo sendo de permitir que o videogame rodasse apenas jogos criados internamente, a ideia agradou o alto escalão. Então, após fechado o acordo, nascia ali não só um videogame que receberia títulos de inúmeros estúdios, mas também a cobrança de uma taxa de licenciamento e que se tornaria uma das maiores fontes de renda das fabricantes de consoles.
É verdade que ao longo dos anos a porcentagem cobrada variou, tendo se tornado menor na época do primeiro PlayStation devido ao menor custo de produção dos CDs, mas hoje em dia o mais comum é que os mesmos 30% do valor de um jogo fique com a dona da plataforma. Isso acontece com Apple, Google, Microsoft, Sony, Valve e até com a própria Nintendo, independentemente do título estar sendo vendido física ou digitalmente. É o padrão da indústria e que só recentemente a Epic Games decidiu desafiar.
Para o CEO da Epic, Tim Sweeney, este é um modelo de negócio que está ultrapassado e por isso a sua loja chegou no final de 2018 com uma taxa de royalties de apenas 12%. Para o consumidor aquilo podia não representar muito, mas junto com uma política agressiva para conquistar exclusividades, a loja rapidamente foi ganhando títulos de peso e aumentando sua base de usuários.
Contudo, uma coisa é uma empresa lançar sua própria loja numa terra de ninguém como o PC, outra bem diferente é ela querer desafiar um ecossistema fechado como o iOS ou o Android. Como a chance de Apple ou Google reduzirem essa taxa parece muito pequena, há até quem acredite que uma nova plataforma possa surgir desta batalha, uma em que os donos do conteúdo recebam uma fatia maior pelas suas criações. Parece improvável? Talvez, mas é algo que não devemos descartar.
Vale lembrar que a Epic possui uma arma poderosíssima nas mãos, uma que atende pelo nome Fortnite e que poderia ser utilizada para convencer muitas pessoas a virarem as costas para Apple, Google, Nintendo…
Fonte: Bloomberg
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