PIX pode acabar servindo para nada na Black Friday; entenda

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O PIX, nova plataforma brasileira de pagamentos instantâneos, será lançado 1 semana antes da Black Friday, mas parece que o varejo, principalmente o online, não vai conseguir aproveitar a novidade em 100% do seu potencial no grande destaque de vendas deste ano.

Como a pandemia está forçando as pessoas a ficarem mais em casa, espera-se que o evento seja ainda mais online do que nunca no Brasil, existindo inclusive a possibilidade de algumas grandes lojas do e-commerce nacional desistirem de adotar o PIX em novembro. Isso porque o recurso conhecido como PIX Link teve sua disponibilização adiada pelo Banco Central (BC) devido a possíveis problemas de segurança e algumas incompatibilidades do iOS. O serviço, como o nome sugere, seria uma forma de iniciar um pagamento simplesmente clicando em um botão em um site ou em um link compartilhado via mensageiros.

Como a maioria das vendas na internet brasileira já é feita através do celular, o PIX pode acabar servido para nada nessa Black Friday, uma vez que não dá para escanear um QR Code na tela do smartphone usando o próprio aparelho para isso.

Experiência truncada e segurança

A experiência esperada pelo BC para o usuário era de que, ao clicar no PIX link, o smartphone pudesse mostrar todos os apps compatíveis com os deeplinks do PIX, permitindo escolher com qual banco ou carteira digital realizar o pagamento. No Android, isso é perfeitamente possível, mas no iOS não.

Fora isso, existe o temor de que apps piratas capturem os links do PIX e interceptem o pagamento do cliente com uma espécie de clone do aplicativo original do banco que a pessoa escolheu. É claro que isso só seria uma possibilidade em celulares comprometidos por malware, de pessoas que caíram em algum tipo de golpe de phishing ou instalaram APKs de fontes desconhecidas.

Ainda assim, foi o suficiente para o BC decidir adiar o lançamento dos links de pagamento e se concentrar no uso de QR Codes e “chaves” ou “apelidos” para os clientes. “Grandes representantes do e-commerce brasileiro estavam frustrados com o adiamento do PIX Link. Para muitos deles, a maior parte das vendas é feita através de celular, não desktop”, disse Carlos Neto, CEO da Matera, empresa diretamente envolvida no desenvolvimento do PIX junto ao BC.

Sem o PIX Link, a experiência no celular fica muito ruim

Neto explicou em entrevista exclusiva para o TecMundo que, com esse modelo de link, o cliente poderia iniciar o pagamento com um clique e, em segundos, ver o status da compra atualizado no site ou app da loja escolhida. Com o adiamento, a mecânica realizada pelo usuário no celular será parecida com a do pagamento via boleto.

“Agora, o e-commerce vai ter que gerar um QR Code em forma de PDF, pedindo para o usuário compartilhar ou abrir aquele documento com o app do banco”, explicou Neto. Nesse caso, o programa do banco escolhido teria que conseguir ler QR codes dentro de PDFs para que a operação funcionasse, gerando mais passos e possibilidades de desistência por parte do cliente.

É claro que, uma vez concluído, o pagamento também seria processado em segundos; contudo, pessoas menos familiarizadas com tecnologia poderiam desistir no meio do procedimento devido à falta de simplicidade dele.

Ninguém ficou feliz. Isso até desestimulou alguns grandes players de lançar o PIX bombando já em novembro

E se o PIX cair?

Outro ponto que pode levar os grandes varejistas online a não adotarem o PIX já na Black Friday, ou pelo menos não fazerem tanto alarde quanto a isso, é o receio de que o sistema caia durante o evento de vendas. O PIX é algo muito novo e já terá que passar por uma prova e fogo na maior Black Friday já realizada no Brasil.

“Existe um risco de o PIX cair, de alguma outra coisa cair, já na primeira Black Friday da pandemia, e isso está deixando o pessoal nervoso, ansioso. Será a primeira Black Friday com um e-commerce que cresceu demais nos últimos meses”, observa Neto.

“A Black Friday antigamente era um pesadelo. As coisas viviam ‘capotando’, com fila de espera para entrar em sites. Eles resolveram tudo isso. O e-commerce hoje está bem melhor, mas esses traumas ainda continuam presentes na memória dos executivos, apesar de a gente, consumidor, já ter esquecido”, completa.

O PIX Link não morreu

É importante ressaltar que o PIX Link ainda está nos planos do BC, e a autoridade financeira nacional não pretende desistir dele muito fácil. Essa experiência truncada com os PDFs é apenas uma medida paliativa, que será utilizada até os entraves do PIX Link serem resolvidos.

Neto explicou que a alternativa foi escolhida em conjunto pelos representantes do BC e do varejo por ser uma coisa familiar para o consumidor. Afinal, estamos acostumados a fazer compras na internet, baixar um boleto comum e, em seguida, ir para o app do banco fazer o pagamento por meio do PDF.

O Link não morreu, ele apenas ficou suspenso

“O que eu sugeri para alguns varejistas foi: pega sua área de dev e coloca na consulta do BC sobre o PIX”, revelou Neto. “Eles têm uma baita experiência com dezenas de milhões de pessoas baixando seus apps e fazendo compras todos os dias. Essa experiência que eles têm em mãos é única, e eles precisam aproveitar o fato de que o BC ouve a comunidade, e não ficar esperando o regulador definir todo o nosso futuro”.

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