Há cerca de 66 milhões de anos, um asteroide de aproximadamente 12 quilômetros de extensão atingiu a Península de Iucatã, situada no que hoje conhecemos como México, e seu impacto vaporizou rochas, iniciou incêndios de proporções inimagináveis e criou uma nuvem gigantesca de fuligem que cobriu a Terra, cujo resfriamento causou a extinção de 76% das espécies do planeta, incluindo os dinossauros.
Pensava-se, até então, que as condições inóspitas responsáveis pela aniquilação de grande parte da vida tinham sido geradas apenas pela incineração de elementos superficiais, mas uma nova pesquisa publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences traz uma teoria inédita.
Cientistas decidiram investigar a composição química de sedimentos da cratera de Chicxulub, ponto de “desembarque” do objeto espacial, e de dois lugares distantes dela no fundo do mar, um no oceano Atlântico Sul e outro no Índico. Com isso, descobriram que a onda inicial de carbono veio de fontes fósseis rapidamente aquecidas, o que sugere que a fuligem dos incêndios florestais, apesar de não ter ajudado na situação, potencializou o inverno global e o prolongou.
Dinossauros não teriam sido extintos “apenas” por incêndios superficiais.Fonte: Pixabay
Por décadas, foram encontrados materiais da época em diversas amostras, incluindo carvão, fuligem e produtos químicos chamados hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAPs). “Esses compostos normalmente são formados quando as coisas são aquecidas”, explica Shelby Lyons, geóloga da Universidade Estadual da Pensilvânia e coautora do estudo.
“Você pode encontrá-los ao grelhar carnes, no escapamento de um carro, na fumaça dos incêndios florestais na Califórnia, no carvão abandonado. Havia vários processos em andamento que culminaram na extinção”, complementa a pesquisadora. Ainda assim, resta uma pergunta difícil de responder: qual foi a intensidade do pulso de calor do impacto e dos incêndios florestais resultantes?
Compostos são originados de qualquer tipo de aquecimento.Fonte: Pixabay
Destruição generalizada
Clay Tabor, um paleoclimatologista da Universidade de Connecticut que não participou do projeto, reconhece que a hipótese tem fundamento e que é “um passo importante no esclarecimento das fontes dos marcadores de queima”, mas questiona a isenção, mesmo que mínima, do papel da destruição de habitat decorrente do evento. Lyons e sua equipe, entretanto, continuam firmes.
Isso porque, na análise de HAPs, foram identificados formatos peculiares. Segundo Lyons, aqueles originados de incêndios florestais apresentariam uma estrutura química diferente. “O material tinha propriedades que pareciam queimar com extrema rapidez, mas a fonte inicial era de carbono antigo”. Complementando a ideia, ela descreve que a maior parte dos fragmentos vegetais teria permanecido na parte mais baixa da atmosfera e sido removida pela precipitação, desacelerando o acúmulo em partes mais altas. Estimativas, é claro, fazem parte do pacote.
Composição química da fuligem pode indicar de onde veio.Fonte: Unsplash
De acordo com a pesquisa, um peso equivalente ao de 7.550 edifícios Empire State do antigo carbono teria sido lançado ao céu e circulado ao redor do globo em questão de horas. Essa fuligem, junto com grandes quantidades de poeira e compostos contendo enxofre da rocha vaporizada, teria bloqueado a luz do Sol e iniciado o inverno. “Ela teria se acomodado na atmosfera superior e permanecido lá por anos”, defende Lyons.
“O material queimado da rocha-alvo é colocado na atmosfera superior da Terra em poucas horas, enquanto o de incêndios florestais pode levar meses. É possível que mesmo uma pequena parte tenha sido a mais impactante”, finaliza a cientista.
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