Um grupo de cientistas indianos desenvolveu um novo teste capaz de detectar casos de covid-19 e que pode mudar os rumos da identificação de pacientes contaminados pelo novo coronavírus. Batizada de Feluda em homenagem a um famoso detetive fictício do país, trata-se de uma tecnologia que custa cerca de US$ 6,75 (aproximadamente R$ 37, em conversão direta) e que entrega resultados em menos de 1 hora. É o primeiro exame do mundo baseado em papel e criado para essa finalidade.
A novidade foi aplicada inicialmente em amostras de 2 mil pessoas, incluindo algumas que já haviam sido comprovadamente infectadas, e apresentou índices de 96% de sensibilidade (evitando falsos negativos) e 98% de especificidade (eliminando grande parte de falsos positivos). A agência reguladora local já a aprovou para uso comercial, que será explorado pelo Grupo Tata, conglomerado industrial fundado por Jamsetji Tata.
Equipe por trás do novo teste capaz de detectar covid-19.Fonte: Reprodução
Mais 100 mil mortes causadas pelo Sars-CoV-2 já foram registradas na Índia, em um cenário de mais de 6 milhões de casos, levando à coleta de 1 milhão de amostras para exames diariamente, as quais são distribuídas por mais de 1,2 mil laboratórios da região. Duas metodologias são utilizadas: PCR (padrão-ouro, custando quase US$ 33 ou R$ 183) e um modo mais rápido com antígenos.
Anant Bhan, pesquisador em saúde global e políticas de saúde, explica qual é o cenário atual por lá: “Ainda há longos tempos de espera e indisponibilidade de kits. Estamos fazendo muitos testes rápidos de antígenos que apresentam problemas com falsos negativos”. De acordo com ele, o exame inédito tem potencial de substituir a abordagem problemática por ser mais barato e preciso.
“O novo teste tem a confiabilidade do PCR, é mais rápido e pode ser feito em laboratórios menores que não têm máquinas sofisticadas”, complementa Anurag Agarwal, diretor do Institute of Genomics and Integrative Biology, à BBC.
Mais de 6 milhões de casos já foram registrados na Índia.Fonte: Reprodução/EPA
O que temos e o que podemos ter
Semelhante ao PCR, o Feluda exige que um swab seja inserido no nariz para verificar se há coronavírus na parte posterior da passagem nasal. Entretanto, ao contrário do já estabelecido exame, o lançamento se vale de uma técnica de edição de genes para detectar o vírus conhecida como Crispr, que destaca a assinatura do microrganismo na amostra e a exibe diretamente no papel: duas linhas azuis indicam resultado positivo; uma, negativo.
Stephen Kissler, pesquisador da Harvard Medical School, explica a importância de alternativas eficazes e inéditas: “Os testes continuam sendo um recurso limitado, e precisamos fazer tudo o que pudermos para melhorar sua disponibilidade. Portanto, Feluda é um passo importante nessa direção”. Sendo assim, diversas companhias dos Estados Unidos e do Reino unido correm atrás do desenvolvimento de soluções semelhantes à indiana.
“O teste ideal e definitivo será aquele em papel que você pode fazer em casa”, afirma Thomas Tsai, do Harvard Global Health Institute. Até lá, se depender da ciência, não estaremos totalmente despreparados.
Source link