Gail Halvorsen, último herói a bombardear Berlim completa 100 anos

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Pela janela de seu quadrimotor o Coronel Gail Halvorsen via Berlim se aproximar. Antes inexpugnável, nenhuma das baterias antiaéreas que protegia a cidade existia mais. A capital do Reich que duraria mil anos jazia em ruínas, tropas soviéticas mantinham a cidade virtualmente cercada. Que a guerra estava perdida para a Alemanha, não importava.

Crédito: USAF

Ajeitando o curso com pequenos movimentos de manche, o piloto avisou à tripulação para se prepararem, estavam chegando no alvo nas cercanias da única base aérea ainda em atividade. Próximo à pista, ele viu uma movimentação.

Um grupo de crianças marcadas pela guerra se reunia em campo aberto. Com um sorriso, o Coronel alinhou seu avião para que, se a tripulação fizesse o lançamento no momento exato, acertasse as crianças em cheio. “Agora!” disse ele. Os tripulantes corresponderam a seu treinamento e seu vacilar despejaram toda a carga em cima das crianças.

Elas adoraram, pois como prometido o Tio do Chocolate havia trazido vários quilos de balas e guloseimas, presos a pára-quedas improvisados. Era 1948. Depois da derrota da Alemanha Berlim havia sido dividida entre ingleses, americanos e soviéticos, mas os soviéticos controlavam boa parte do território em volta da cidade, e decidiram estrangular os aliados, fechando todos os acessos terrestres.

Voluntários preparando os pára-quedas (Crédito: USAF)

A população iria morrer de fome e doenças se algo não fosse feito. Liderados pelos EUA, Inglaterra, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e África do Sul montaram uma operação de transporte de suprimentos por via aérea que durou até Maio de 1949. Foram mais de 200 mil vôos em um ano, quase 9 mil toneladas de suprimentos diariamente. Mesmo assim eram restritos aos bens mais essenciais, a população ainda era miserável.

Crianças principalmente, tendo crescido durante a guerra, não conheciam as alegrias simples de uma infância normal. Gail Halvorsen era um piloto de transporte durante a Segunda Guerra que havia sido convocado para a chamada Operação Vittles, o enorme comboio aéreo que não deixou Berlim morrer de fome. Durante uma folga pelas imediações da base aérea, ele viu um grupo de crianças, que o cercaram.

A única coisa que ele tinha no bolso eram dois chicletes, que ofereceu a elas. De uma forma que somente a necessidade da guerra ensina, as crianças dividiram os chicletes em vários pedaços, para que mais delas pudessem mascar. As que não ganharam pedaços, ficaram com as embalagens para cheirar. Era a primeira vez que aquelas crianças provavam um chiclete.

O Coronel Halvorsen falou que da próxima vez iria jogar doces do avião, e balançaria as asas para que as crianças o identificassem. Elas o chamaram de Tio Asas Balançantes. Voltando para a base, ele torrou sua ração de alimentos em balas e chocolates. Convenceu os colegas a colaborar e no dia seguinte como prometido vários quilos de guloseimas foram lançados, presos a pára-quedas feitos com lenços e lençóis cortados. Os lançamentos se tornaram diários, os outros aviadores colaboravam na confecção dos pára-quedas e na obtenção dos doces.

Coronel Halvorsen lançando os doces (Créduto: USAF)

Algum tempo depois a notícia dos lançamentos chegou aos ouvidos do General William Tunner, comandante da operação de transporte. Seguiu-se a bronca tradicional, a ameaça de corte-marcial e a ordem para… prosseguir. O General gostou tanto da iniciativa que criou informalmente a Operação Little Vittles, que chegou a ter 25 pilotos participando.

Os jornais descobriram tudo e espalharam nos EUA que ao invés de bombas agora os aviões da Força Aérea jogavam chocolate para as crianças alemãs. Formou-se um movimento onde crianças americanas juntavam dinheiro para comprar doces, montavam pára-quedas e escreviam mensagens para as alemãs. Em Berlim as crianças corriam atrás dos doces, escreviam mensagens de agradecimento para os pilotos e para as crianças americanas e as mandavam por carta, junto com os pára-quedas.

Tim Chopp era uma dessas crianças, e em 1998 mesmo com 60 anos ainda lembrava em detalhes do pára-quedas preso a uma barra de Hershey’s que ele conseguiu pegar. “Levei uma semana para comer tudo. Eu a escondia, mas o chocolate não era o mais importante. A coisa mais importante era que alguém na América sabia que eu estava passando necessidade, e alguém se importava. Isso significava esperança. ”

No total foram mais de 23 toneladas de chocolates balas e doces, sem intenção o Coronel Halvorsen avançou em décadas as relações EUA-Alemanha, curando feridas de guerra que normalmente levariam décadas. Em casa ele foi agraciado com a Medalha de Ouro do Congresso. Na Alemanha ele foi uma das raras pessoas a, ainda viva, batizar uma escola, além de receber a Ordem de Mérito da República Federativa Alemã.

O Candy Bomber (Crédito: Bennie J. Davis III)

Em 2002 durante a abertura dos jogos olímpicos ele carregou a placa com o nome da Alemanha, liderando a delegação nacional.  O  Coronel Halvorsen tem 5 filhos, 24 netos e 43 bisnetos. Em 10 de Outubro de 2020 completou 100 anos de idade.

Seu gesto foi repetido em diversas ocasiões, seja com ele mesmo lançando doces para crianças durante a Guerra da Bósnia, seja com projetos semelhantes em várias partes do mundo. Acima de tudo, Gail Halvorsen conseguiu algo raro entre os militares. Ele não é um herói de guerra, é um herói da paz.

Coronel Gail Halvorsen, em uma entrevista mais pro começo de 2020 (Crédito: Denise Williams)

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