A TSMC, fabricante de semicondutores e manufatora de processadores para diversas empresas, é a grande beneficiária dos passos recentes da Apple em adotar cada vez mais soluções internas para seus produtos. A empresa taiwanesa ganhou terreno principalmente quando parceiros de longa data, Intel e Samsung, cansaram a beleza da maçã por diversos motivos.
Quando em 2005 a Apple anunciou a migração da linha Mac para processadores Intel x86, ela o fez encerrando uma parceria de longa data com a IBM, fornecedora da linha PowerPC. O motivo era bem simples, na época a arquitetura RISC estagnou, não conseguia competir com os processadores CISC da linha Core, que mesmo sendo mais comilões, entregavam mais performance.
Na Apple, a experiência de uso é sagrada e Steve Jobs não quis nem saber, os Macs precisavam voltar a ganhar terreno e o caminho mais curto era adotar processadores mais poderosos, com mais performance final. Só que Cupertino se livrou de um problema e arrumou outro.
A Apple passou anos se queixando dos inúmeros atrasos da Intel em entregar processadores novos e potentes, e na posição de cliente único mais valioso, ela acreditava que a gigante dos processadores deveria adequar seu ciclo de desenvolvimento às necessidades da cliente. A Intel obviamente não o fez, tanto por não querer, quanto por não poder.
Nós acompanhamos a saga da Intel para se adequar (e falhar) à litografia de 10 nanômetros, enquanto a AMD fez suas gambiarras e introduziu chips de 7 nm; os tropeços da parceira foram considerados inadmissíveis para a Apple, que acusou a Intel de empacar a evolução da linha Mac.
Sob seu entendimento, seus computadores precisavam de processadores estado-da-arte em potência e eficiência energética, e se o CISC não estava mais dando conta, a solução seria voltar para o RISC, ou melhor, fechar com a ARM.
A TSMC foi extremamente beneficiada por isso, mas a Intel não foi a primeira empresa que a manufatura taiwanesa substituiu.
Em 2013, a Apple introduziu o processador Apple A7, o primeiro SoC de 64 bits para celulares, forçando todo o mercado mobile a evoluir para uma nova geração de processadores. Qualcomm, Huawei e outras não demoraram para seguir a maçã e lançar suas soluções, e logo o 32 bits virou passado.
A Apple contava na época com duas fornecedoras de processadores, Samsung e TSMC, sendo que a empresa sul-coreana atendeu por muitos anos todas as especificações da maçã. A TSMC era a segunda opção, mas isso não ia durar por dois motivos:
Primeiro, conforme as exigências da Apple começaram a aumentar, a TSMC foi se tornando cada vez mais eficiente, enquanto a Samsung começou a patinar. Testes realizados com iPhones subsequentes foram reveladores, ao mostrar que os modelos equipados com o chip coreano tinham uma performance inferior aos com o SoC Made in Taiwan.
Segundo, a Samsung e a Apple estavam brigando feio nos tribunais por violação de patentes, infração de copyright e outras picuinhas, e Cupertino não demorou muito para entender que não fazia sentido manter uma adversária direta, e pior, uma empresa com quem estava travando vários litígios, na sua lista de fornecedores de componentes.
Pouco a pouco, a TSMC foi ganhando terreno até que em 2016, ela assumiu sozinha a produção do chip Apple A8 e subsequentes, com a Samsung perdendo a boca de vez. Posteriormente a maçã foi minando cada vez mais a presença dos coreanos em seus aparelhos, com o último feudo restante sendo a tela e a contragosto, mas isso também pode não durar muito mais.
O mantra da Apple “performance e experiência” é a desculpa para a maçã trocar de arquitetura mais uma vez, e foi como se a Intel, por não conseguir entregar o que a maçã queria, tivesse mandado um recado à empresa parceira: “faz melhor então”.
Para seu azar, a Apple e a TSMC fizeram melhor.
Testes preliminares mostram que a performance do Apple M1, que é impresso em 5 nanômetros reais, deixa todos os Macs com chips Intel no chinelo, embora hajam uma série de pegadinhas como performance sustentada, estrangulamento térmico, velocidade de apps ARM vs. x86 rodando via Rosetta 2, que leva em torno de 20 segundos para converter os programas na 1ª inicialização (as demais são mais rápidas), e etc.
Há também a questão da pressa: embora o Apple M1 seja uma versão com esteroides do chip Apple A14, presente no iPhone 12, ele possui limitações como não suportar placas de vídeo externas (eGPUs), e também não trabalha com mais do que 16 GB de memória RAM. Claro, as próximas versões podem vir com esses problemas corrigidos.
Claro que a TSMC tem que se adequar às demandas da Apple, que segundo informes são bem altas, mas é improvável que na incapacidade da empresa não conseguir fabricar chips na quantidade que a maçã quer, isso não significa que haverá outra migração de arquitetura, e sim que outras manufaturas poderão ser contratadas para tapar os buracos no fornecimento.
O grande, enorme problema para a Apple, reside no fato que a única outra fabricante de chips de 5 nanômetros, além da TSMC, é a Samsung.
Fonte: VentureBeat
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