As mais estranhas e curiosas tradições dos astronautas

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Tradições são coisas legais, todo mundo tem suas pequenas manias, que evoluem para tradições familiares. Elas também surgem das superstições, que com o tempo perdem seu caráter místico, e se tornam apenas coisas que a gente faz porque sempre fez. Astronautas e pessoal da pesquisa especial também têm suas tradições. Algumas bem curiosas.

Engenheiro de Vôo da Expedição 51 Jack Fischer recebe a teatral bênção de um padre ortodoxo (Crédito: NASA/Aubrey Gemignani)

1 – Os Amendoins do JPL

Chamou a atenção de todo mundo quando a Curiosity pousou em Marte. Em cima dos consoles, potes de amendoim. Na verdade a tradição é bem antiga. Tudo começou no começo dos Anos 1960, quando o Jet Propulsion Lab tentava chegar na Lua com as sondas Ranger, mas como tudo que a gente faz pela primeira vez, deu tudo errado.

Da Ranger 1 lançada em 1961 à Ranger 6, em Janeiro 1964, todas falharam. Ou erraram a Lua, ou as câmeras não funcionaram, ou não conseguiram entrar em órbita… somente na Ranger 7, em Julho de 1964 conseguiram sucesso. Alguém reparou que a única diferença no Controle da Missão é que na Ranger 7 um sujeito chamaddo Dick Wallace tinha levado amendoins e distribuído. “Eu achei que ajudaria a diminuir a ansiedade”.

Amendoim, assim como capim canela faz bem para o moral (Crédito: NASA/JPL)

Era uma questão simples de lógica e causalidade, que não escapou a todos aqueles cientistas lógicos e racionais: Sem amendoim == fracasso. Com amendoim == sucesso. Desse dia em diante foi criada a tradição: toda missão do JPL tinha amendoins na sala de controle, e ignorando as missões mal-sucedidas, a eficácia dos amendoins é de 100%.

2 – A Oração do Pastor

OK, essa é complicada, tem uma nuance linguística. Em inglês Shepherd é um termo para pastor, Shepard é um sobrenome, com a mesma pronúncia e é comum as pessoas errarem a grafia e escreverem Shepard querendo dizer Shepherd.

É também o nome de Alan Shepard, o primeiro americano a ir ao espaço, em 5 de Maio de 1961, na Mercury-Restone 3. Foi uma missão extremamente tensa, dados os acidentes no programa, e a pressa com que tentavam não ficar muito atrás dos russos.

Alan Shepard, na cabine da Freedom 7, momentos antes do lançamento achou tempo para uma rápida prece:

“Senhor, por favor não me deixe fazer merda”

No original, “Dear Lord, please don´t let me fuck up”

Desse dia em Diante todo astronauta, mesmo em silêncio repete a oração, como tradição e como vai que…

A oração apareceu em Os Eleitos:

3 – Pipi no Pneu

Essa tradição foi inaugurada por Yuri Gagarin. Quando estava sendo levado da área de preparação para a plataforma de lançamento, aonde embarcaria na Vostok 1 e se tornaria o primeiro humano no espaço, a ficha caiu e ele sentiu um certo desconforto.

Pediu para pararem o ônibus, desceu e sem muita cerimônia abriu o zíper, botou a Laika pra fora e se aliviou no pneu traseiro direito do veículo. Voltou pro busão, subiu no foguetão e o resto é História.

Imagino o coitado do Ivan, que tem que lavar o ônibus depois. (Crédito: ROSCOSMOS)

Dali em diante todo cosmonauta repetiu o gesto. Quando americanos ou gente de outras nacionalidades voam com os russos, acompanham a tradição. No caso de mulheres, dada a dificuldade e o constrangimento em tirar o traje, levam um vidrinho com urina colhida anteriormente, e despejam simbolicamente no pneu, mantendo a tradição.

4 – Steak e Bolo

Uma tradição que os astronautas da NASA adoram manter é o café da manhã. Não é obrigatório, e dada a complicação de performar o Número 2 no espaço, muitos preferem manter os estômagos, e consequentemente os intestinos, vazios. Mas se pedirem café da manhã, com certeza será steak e ovos mexidos. Motivo? Foi o café da manhã de Alan Shepard e John Glenn. E se deu certo pra eles…

John Young e Michael Collins, café da manhã antes da missão Gemini 10, em 1966 (Crédito: NASA)

Outra tradição é que na manhã do vôo os astronautas recebem um bolo com o emblema da missão, mas ninguém encosta, a idéia é que dá azar meter uma faca no emblema, antes do vôo.

5 –Gravatas e Feijões

Essa é uma tradição dos controladores do Kennedy Space Center. É uma forma de integrar os novatos. Depois de cada lançamento catavam o calouro do grupo, que não era necessariamente o mais júnior, mas quem tinha participado de menos lançamentos, e metiam a tesoura na gravata do coitado.

Depois disso todos saíam para… comer feijão.

Feijoada comendo solta, daqui a pouco chega a roda de pagode (Crédito: NASA)

Essa tradição em especial começou no primeiro lançamento do ônibus espacial, em 1981. O Diretor-Chefe da área de testes, Norm Carlson viu que a equipe dele estava virando direto, muitos pulando almoço. Ele resolveu fazer um agrado, e preparou uma panelada de feijão, caprichado, quase uma feijoada gringa, e assim que o foguete subiu, chamou a galera pra comer, e pela receita, divulgada nesta página da NASA, devia ser bem bom.

Eventualmente a quantidade de feijão começou a aumentar, mais equipes foram convidadas e eram servidas 12 panelas, ou 400 pratos de feijoada gringa a cada lançamento.

6 – Cartas Marcadas

Essa começou no programa Gemini. A rigor a “missão” é precedida de um jogo de cartas, em geral poker ou blackjack entre o comandante da missão e a equipe técnica. Eles só podem iniciar a missão depois do comandante perder u’a mão. Se é superstição ou tradição, eu não sei, me parece mais uma forma de bater um carteado em horário de trabalho.

7 – Benza Eu

Essa é uma tradição até recente, possível com o fim da União Soviética. Com mais liberdade para expressar sua crença religiosa, o povo russo voltou às velhas tradições, e em 1994 o Cosmonauta Alexander Viktorenko pediu que um padre da Igreja Ortodoxa benzesse o foguete Soyuz da missão TM-20.

Eles benzem com estilo (Crédito: ROSCOSMOS)

Como esses padres ADORAM benzer tudo (rola uma comissão) atenderam prontamente. E daí em diante virou tradição.

Claro, de vez em quando eles exageram na benzedura…

Tudo por um vôo seguro (Crédito: ROSCOSMOS)

8 – E finalmente, a toalha

O Guia do Mochileiro das Galáxias é o grande legado de Douglas Adams, com o bônus de irritar profundamente um monte de gente que leva a série e livros mais a sério do que os próprios fãs, ou o autor. É uma visão irreverente, divertida e descompromissada de um Universo muito maior do que a gente conhece.

Entre considerações filosóficas sobre burocracia espacial e poesia Vogon, Douglas Adams fala de um dos equipamentos mais importantes para os caronistas espaciais: Uma toalha, uma peça que tem inúmeras utilidades e você nunca deve sair sem uma.

Os fãs acabaram instituindo 25 de Maio como Dia da Toalha, e essa tradição acabou chegando ao espaço. É normal ocupantes da Estação Espacial Internacional celebrarem a data, e fora isso vários astronautas levam em seus kits pessoais uma toalha.

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