Embora os videogames já tenham recebido um monte de grandes histórias, poucos desenvolvedores podem se gabar de ter criado tantos mundos e personagens cativantes quanto Tim Schafer. O chefão da Double Fine Productions está na ativa desde o fim dos anos 80, quando foi recrutado pela LucasArts para ajudar no desenvolvimento dos adventures para PC que marcaram época, e não parou desde então!
Talvez você o conheça por seu jogo de estreia na direção, Day of the Tentacle? Ou quem sabe pelos incríveis Full Throttle e Grim Fandango? Em 2000, ele fundou o seu próprio estúdio e nos brindou com uma nova leva de aventuras inesquecíveis, de Brütal Legend a Broken Age. Ainda assim, é inegável que uma das partes mais importantes dessa rica história foi o lançamento de Psychonauts.
Afinal, ele foi o primeiro projeto da Double Fine, que tentou misturar os diálogos espirituosos e narrativa cinematográfica dos adventures com as mecânicas de plataforma 3D que estavam em alta na época. Apesar de sua qualidade e de contar com diversas ideias muito a frente de seu tempo, as vendas iniciais do game decepcionaram, e levou anos até que a jornada de Razputin Aquato e dos Psiconautas fosse ganhando status de queridinha do público.
Em 2021, o cenário é muito diferente para Tim Schafer, para a série, e para a próprio Double Fine, que agora é parte da família Microsoft. Psychonauts 2 chega ao mercado credenciado para figurar entre os principais jogos do ano, cortesia dos mais de cinco anos de desenvolvimento e das expectativas de milhares de fãs ansiosos. Mas será que o game consegue honrar o hype que o cerca? Confira na nossa análise completa a seguir!
Papo cabeça
Se nada do que eu falei até agora era familiar e você está caindo de paraquedas nos jogos do Tim Schafer, não precisa se preocupar, já que esse é um ponto de partida tão bom quanto qualquer outro. Tudo o que você precisa saber antes de jogar é que o primeiro Psychonauts é protagonizado pelo Raz, um jovem que fugiu do circo para se infiltrar no acampamento dos psiconautas.
Lá, ele conhece novos amigos, professores e adversários, mas tudo isso é muito bem resumido em uma charmosa recapitulação em vídeo que serve tanto para apresentar a história aos marinheiros de primeira viagem como para refrescar a memória dos veteranos. Até porque, apesar de se chamar Psychonauts 2, esta é, na verdade, a terceira aventura canônica da série!
O primeiro jogo termina com o sequestro de Truman Zanotto, o cabeça dos Psiconautas e pai da Lili, a namoradinha do Raz. Esses eventos têm sequência em Psychonauts in the Rhombus of Ruin, um game exclusivo para Realidade Virtual lançado em 2017, onde enfrentamos o dentista Dr. Loboto, responsável pelo rapto. É a partir daí que a nova trama se inicia, com os psiconautas tentando descobrir quem estava dando ordens ao vilão.
Pode ser muita informação para se absorver de uma vez só, especialmente quando levamos em conta que o lore e temática da série também são muito ricos, mas a primeira fase de Psychonauts 2 cumpre muito bem o papel de tutorial de mecânicas e resumão da narrativa de forma bem orgânica. Ainda assim, sem dúvidas a trama será muito melhor apreciada por quem terminou ao menos o primeiro jogo e já conhece todos os personagens e suas peculiaridades.
Pirou minha cabeça e o coração
Como já mencionamos em nossa prévia, quando tivemos a oportunidade de testar as primeiras horas da campanha, em termos de gameplay Psychonauts 2 é basicamente uma versão mais polida de seu predecessor. Alternando segmentos de mundo mais aberto com outras fases em corredores mais lineares, o grosso da diversão é fruto da exploração e da interação com outros personagens, mas também há doses generosas de combate e plataforma pelo caminho.
Felizmente, lutar e pular nunca foi tão agradável, e o Raz responde exatamente como você gostaria na maior parte do tempo. Os golpes corpo a corpo agora têm mais impacto, e diferentes tipos de inimigo envolvem diferentes soluções e um bom uso do seu arsenal de golpes para progredir. Conforme a campanha avança, nosso herói ganha até o poder de desferir ataques de longa distância, incinerar objetos, desacelerar o tempo, criar uma cópia de si mesmo e muito mais!
Explorar os ambientes de Psychonauts 2 está mais agradável que o jogo original graças aos bons controlesFonte: Reprodução / Thomas Schulze
Tanto os capangas como os chefões costumam ser mais vulneráveis a um ou mais desses poderes combinados, então é divertido memorizar os seus padrões e abusar dos poderes psíquicos. Vale salientar que Psychonauts 2 não é desafiador de forma alguma, e isso é uma escolha de design mesmo, já que esse assumidamente não é o seu foco. Qualquer jogador minimamente capaz provavelmente vai fechar a campanha inteira sem ver a tela de game over.
Isso não chega a ser um problema no geral, mas depois de cinco ou seis horas você deve cansar de eliminar os rivais que encontra pelo caminho, já que as lutas são tão fáceis que acabam virando apenas mais um trabalho burocrático que você precisa tolerar até ser recompensado com a próxima grande cena e com o desenrolar da história.
Ajuda bastante, então, que os mundos de jogo sejam extremamente criativos tanto em suas temáticas como em suas propostas visuais e de gameplay. Ora você vai estar viajando em uma terra de puro rock, com referências lisérgicas à cultura dos anos 1960, ora encontrará personagens e escritores clássicos da literatura ganhando vida em uma biblioteca, dando até um rolézinho por um arquipélago onde estão espalhadas as memórias de um “náufrago” solitário.
Sem estragar surpresas, você participará até de competições de culinária e de um cassino repleto de trapaças e segredos, então a variedade é a tônica de Psychonauts 2. Cada ambiente é um verdadeiro deleite, e você vai ficar feliz por estar jogando algo tão criativo numa indústria que parece cada vez mais carente de ideias diferenciadas!
Uma experiência inesquecível
Os motivos que fazem cada fase ser memorável giram em torno principalmente da incrível direção de arte e do design soberbo dos níveis. Cada área parece ter sido minuciosamente esculpida com muito carinho, capricho e inteligência, evocando diversos símbolos relacionados ao seu arco temático, e então os conectando com sabedoria ímpar.
O texto afiado escrito em parceria entre Tim Schafer e Erik Wolpaw (que também estava no roteiro do primeiro Psychonauts e nos ótimos Portal 2 e Half Life 2 Episode One e Episode Two) é a cereja do bolo, pois el faz a gente se importar com cada personagem cuja mente será invadida antes, durante e depois das missões, sentindo claramente o impacto que tivemos nas jornadas.
Quando tive o prazer de entrevistar Tim Schafer, ele se mostrou bastante preocupado em passar mensagens positivas ao longo da história e tratar alguns temas mais espinhosos como diversas doenças mentais com delicadeza, um desafio que ele certamente tirou de letra! No entanto, isso também chega com um pequeno custo: embora Psychonauts 2 seja muito bem humorado, também me pareceu o seu texto menos engraçado até hoje.
Se esse é o preço a se pagar para que todos fiquem felizes jogando e não se machuquem com piadas controversas, parece uma troca justa, especialmente quando lembramos que há tanto carisma e forte identidade ao redor do resto do texto para compensar isso. Um problema mais sério é a forma como certas mecânicas acabam sendo subaproveitadas graças à fartura de outras ideias que passam a ser exploradas nas horas seguintes.
Por exemplo, ainda no começo do jogo você aprende uma técnica de conexão mental que serve para unir diferentes bolhas de pensamento. Palavras-chave ficam pairando pelo ar dentro da cabeça de uma pessoa, e você precisa criar um caminho entre elas para conectá-las e mudar os valores da “vítima”. É uma ideia muito legal e fascinante, mas são poucas as ocasiões em que você será obrigado a fazer isso ao longo da história.
A estrutura da campanha também é um pouco esquisita, já que algumas fases duram pouco mais de 20 minutos, enquanto outros níveis podem chegar a quase duas horas. Ocasionalmente ainda há sub-áreas dentro dos níveis, e elas podem ser maiores do que outras fases principais. É uma estrutura bem enrolada e, francamente, o jogo funciona melhor se você não pensar muito nisso e simplesmente se deixar levar.
Vale a pena?
Psychonauts 2 é o mais ambicioso projeto que Tim Schafer e a Double Fine já lançaram, e felizmente ele acerta em cheio nas suas ambições. Apesar de não ser tão engraçado quanto os outros jogos do diretor, a sua missão de celebrar a empatia e fortalecer as conexões entre as pessoas foi cumprida com louvor em uma campanha extremamente carismática, divertida e charmosa. Quem jogar essa história vai lembrar dos seus mundos e personagens por anos!
“Psychonauts 2 é um dos games mais criativos dos últimos anos, ideal para quem ama boas histórias”
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