A cada nova temporada uma legião de apaixonados por futebol se prepara para encarar a nova edição do seu jogo favorito e com o FIFA 22 isso não seria diferente. Mas se para boa parte das pessoas é no FUT que reside o maior interesse quando se trata da série da EA Sports, eu sempre preferi o seu Modo Carreira e para minha surpresa, nesta edição ele recebeu várias novidades.
Como o próprio nome sugere, é no Modo Carreira em que teremos a oportunidade de realizar o sonho de sermos ou um jogador de futebol ou um técnico/manager. Pois em ambos os casos o FIFA 22 trouxe melhorias significativas, aproximando o título muito mais do que vemos em um RPG e fazendo com que aquilo que já era extremamente viciante ficasse ainda mais divertido.
No caso de assumirmos o papel de apenas um jogador, o modo até contará com pontos de experiências que serão distribuídos de acordo com o nosso desempenho, seja nos treinamentos, seja durante as partidas. Há inclusive uma árvore de habilidades, cabendo ao jogador escolher se o seu atleta virtual se tornará melhor, por exemplo, como um driblador, um defensor ou se terá mais precisão nas finalizações.
Com os técnicos contando com uma inteligência artificial muito mais apurada, ser escolhido ou não para disputar uma partida dependerá de uma série de fatores, com a possibilidade de entrarmos no jogo vindo direto do banco de reservas. Há também a adição de perks, com três deles podendo ser utilizados no jogo e garantindo melhorias tanto para o nosso personagem quanto para os jogadores que estiverem à nossa volta
Já para aqueles que gostam de cuidar dos bastidores do clube (e disputar partidas controlando toda a equipe), nesta temporada o jogo adotou diversas mudanças que tornam a experiência bem mais próxima da realidade, o que consequentemente poderá ser um tanto frustrante para quem busca ir das divisões inferiores ao topo do mundo — meu caso.
O início de uma longa jornada
Para mim, a graça do Modo Carreira nunca esteve em aproveitarmos os cofres recheados das grandes equipes europeias, mas sim em escolher um clube pequeno e com uma mistura de sorte, inteligência e habilidade, transformá-lo em uma potência. Pois é aí que encontramos a primeira grande novidade do FIFA 22, que é criarmos um clube do zero.
Podendo ser utilizado em qualquer liga disponível no jogo, teremos que escolher qual clube será substituído pelo nosso e para garantir que o novo não fique muito deslocado, a EA tomou alguns cuidados interessantes. Entre eles está a variedade de atletas que farão parte do elenco e assim, apenas uma determinada porcentagem dos jogadores fictícios serão estrangeiros e a qualidade deles também se encaixará naquele cenário.
Mas enquanto os elencos serão montados aleatoriamente de acordo com algumas configurações, caberá ao jogador escolher manualmente todos os demais aspectos do seu clube, como o nome, o apelido pelo qual ele será chamado pelo narrador, as cores, o uniforme (com marcas como Nike, Adidas, Puma e várias outras estando disponíveis), o escudo e até mesmo o estádio. Vale dizer que estaremos limitados aos modelos oferecidos pelo jogo, mas eles são muitos e permitem uma variedade enorme de combinações. Só achei uma pena não termos a opção de adicionar patrocinadores as camisas, pois mesmo se fossem marcas fictícias, acredito que elas ajudariam bastante na imersão.
No caso dos estádios, infelizmente não será possível alterar a estrutura das construções, como por exemplo trocar o tipo da arquibancada. No entanto, poderemos mudar as cores das instalações e dos assentos, além de escolher entre vários tipos de cortes para a grama ou a forma da rede usada no gol.
Também é legal podermos escolher a música que será entoada sempre que a nossa equipe entrar em campo ou a que será tocada nos alto falantes quando marcamos um gol. Tudo bem, com o tempo elas se tornarão um pouco repetitivas, mas felizmente temos a opção de trocá-las quando quisermos. Já em relação a novos uniformes, isso só poderá ser feito ao fim de cada temporada.
Eu, cartola
Passada a etapa de configuração do meu clube, o que inclui a quantidade de dinheiro que teria disponível para contratações e o time que seria meu grande rival, parti para o início da primeira temporada e aos poucos comecei a notar outra grande mudança.
Por tradição, quando um novo FIFA é lançado eu costumo reunir uma lista de jogadores que podem ser contratados. No geral procuro jovens atletas com possibilidade de muito crescimento, já que isso costuma garantir contratações baratas e que além de renderem em campo, podem trazer muito dinheiro a médio/longo prazo.
Para isso costumo recorrer a sites como o FutWiz, com o seu ótimo sistema de buscas me permitindo criar filtros que facilitam muito minha vida de dirigente virtual. Obviamente repeti o processo com o FIFA 22, mas após escolher quais seriam meus alvos, comecei a esbarrar em seguidas recusas por parte dos atletas.
Mesmo tendo dinheiro para fazer as contratações e fechando acordo com os clubes que detinham os direitos sobre os jovens, na maioria das vezes eles nem abriam espaço para negociarmos salários, com o seu staff simplesmente informando que fulano não tinha interesse em se transferir para a minha equipe.
Num primeiro momento aquilo me incomodou muito. Antes eu conseguia fechar acordo com quase todo jovem promissor presente nos jogos, mas no FIFA 22 os desenvolvedores decidiram tornar as negociações bem mais complicadas — e isso é ótimo.
Pense no seguinte: se um moleque está mostrando potencial numa equipe de médio/grande porte da França, Itália, Alemanha ou mesmo Portugal, porque ele aceitaria mudar para um clube da terceira divisão da Inglaterra (como é o meu caso) que iniciou suas atividades ontem? No mundo real isso nunca faria sentido e por mais que essa alteração tenha tornado minha carreira como manager muito mais difícil, também fez com que ela fosse mais plausível.
Mas além de contribuir para o realismo, dificultar a contratação das jovens promessas também acabou me incentivando a usar melhor um antigo recurso da série, que são os olheiros. Dada a dificuldade em atrair jogadores que eu tinha quase certeza de que vingariam, agora estou espalhando minha equipe de observação pela América do Sul e centros menores do futebol na Europa, na esperança de que eles possam encontrar um ou outro jogador que caiba no meu orçamento e aceite encarar essa loucura que é ascender no futebol inglês.
Isso também me fez olhar com mais atenção para o elenco que me foi dado. Antigamente eu costumava trocar quase todo o time principal ainda na primeira janela de transferência, mas como a maior parte das minhas investidas fracassaram, hoje a principal estrela na minha equipe é o ilustre desconhecido (e fictício) Sam Wheeler, um atacante para quem olhei com desprezo ao iniciar a temporada, mas que pela falta de opção se tornou o artilheiro do meu time.
Para quem um dia já acompanhou de perto um clube pequeno no mundo real, é muito legal relembrar como figuras sem todo o glamour de um Lionel Messi ou Kylian Mbappé também podem ser idolatrados por uma torcida, com seus gols custando muito menos aos cofres do clube, mas sendo tão comemorados quanto os dos maiores nomes do esporte.
Eu ainda tenho pela frente muitas partidas antes de ter a oportunidade de ver o time que criei ser apresentado ao som do hino da Champions League e talvez isso nunca venha a acontecer. Diante de tantas dificuldades, mesmo os acessos às divisões superiores serão muito complicados, mas a certeza que tenho por enquanto é de que nunca me senti tão motivado a fazer isso. A lamentar, apenas a ausência de todos os clubes brasileiros da primeira e segunda divisão, já que seria muito mais legal alcançar o sucesso disputando campeonatos no meu próprio quintal.
Maior realismo também dentro de campo
Ao contrário do que muitas pessoas costumam bradar por aí, não concordo com a ideia de que os jogos de futebol trazem mudanças apenas nos uniformes e escalações das equipes. Mesmo na maioria das vezes sendo sutis, as mudanças na jogabilidade existem e no FIFA 22 elas aconteceram de forma muito maior do que alguns poderiam esperar.
Trazendo uma tecnologia batizada como HyperMotion, ela prometia um sistema de animação reformulado que misturaria captura de movimentos com aprendizado de máquina (machine learning) e mesmo com ela mostrando um ou outro sinal de que precisa ser aperfeiçoada, consegue deixar claro o quanto o jogo se beneficiou do poderio dos novos consoles. E aqui vale um aviso importante: tal recurso só está disponível para quem jogar no PlayStation 5, Xbox Series S|X e Google Stadia.
Indo muito além de apenas entregar movimentos mais realistas, esta nova tecnologia permitiu que a simulação de física se tornasse muito mais precisa, com a bola e os jogadores tendo um “peso” mais próximo do que veríamos em um jogo de futebol de verdade. Isso também faz com que as partidas sejam mais cadenciadas, mais voltadas para a simulação do que o “estilo arcade” dos anteriores.
Agora as mudanças de direção realizadas pelos atletas funcionam de maneira bem mais natural e lenta, nos obrigando a pensar com antecedência em qual movimento realizar. Isso ainda exige que tanto os passes quanto os dribles precisem ser executados com muito mais cuidado, o que torna os confrontos mais difíceis, mas também muito mais satisfatórios ao serem concluídos.
Pois esta maior dificuldade também se deve a inteligência artificial apurada dos defensores, quase sempre se posicionando melhor e se antecipando às nossas tentativas de passe. A impressão que tenho é que antes meus ataques funcionavam quase no automático e no FIFA 22 estou precisando pensar bem mais antes de tentar uma enfiada de bola mais arriscada ou partir para uma tentativa de drible.
Quem também se beneficiou da nova física foram os goleiros. Fazendo defesas muito mais difíceis do que antigamente, o HyperMotion ainda permitiu uma variedade bem maior de movimentos, com os arqueiros agindo de maneira bem mais natural do que jamais visto na série. Por vezes tamanha habilidade e elasticidade soa forçada, mas a EA Sports tem agido para equilibrar a atuação desses atletas.
O jogo ainda traz duas novidades em relação a maneira como controlamos os jogadores. A primeira nos permite dizer para onde exatamente um atleta sem a bola deve ir enquanto estamos atacando, enquanto a outra dá muito mais liberdade na hora de escolher qual jogador assumir quando estivermos sendo atacados.
Apresentadas durante uma historinha que serve como sequência de abertura para o jogo, ambos os recursos demandarão tempo e treinamento para serem dominados, até por se tratarem de mecânicas bem diferentes das quais estamos acostumados. Contudo, mesmo com elas podendo ajudar bastante durante as partidas, não estamos falando de algo obrigatório, então ignorá-las não prejudicará muito o seu desempenho.
Bem-vindo à nova geração!
Se as novidades introduzidas com o FIFA 22 são suficientes para justificar a sua aquisição, esta é uma decisão que cada pessoa precisa tomar. Mesmo com as várias melhorias de inteligência artificial e animação implementadas pelo HyperMotion, não há como negar que a essência da série foi mantida e se você nunca gostou dela, é possível que não seja desta vez que mudará de ideia.
Também é preciso levar em consideração que as melhorias na jogabilidade não estão presentes nos consoles da geração passada ou mesmo no PC. Para quem for jogar nestas plataformas, as reclamações sobre falta de novidades serão muito mais justas e até mesmo merecidas.
Já para pessoas como eu, que adoram o Modo Carreira, as mudanças são significativas, fazendo com que gerenciar um clube nunca tenha sido tão divertido e desafiador quanto agora, principalmente pela possibilidade de criarmos o nosso time do zero. Talvez o esforço exigido para alcançarmos o sucesso com uma equipe que criamos até consigo te fazer ganhar novo time do coração, pois se existisse uma maneira de fazer isso, eu adoraria poder usar na rua uma camisa igual à do meu querido Rio City FC.
FIFA 22 — Ficha Técnica
Plataformas Disponíveis: Xbox Series S|X, PlayStation 5 e Google Stadia na versão com HyperMotion; Nintendo Switch, PlayStation 4, Xbox One e PC na versão “Legacy”;
Desenvolvedora: EA Sports;
Distribuidora: Electronic Arts;
Data de lançamento: 01/10/21.
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