Um sistema estelar distante a 6.500 anos-luz da Terra forneceu uma ideia do que o futuro distante reserva para o Sol e o Sistema Solar como um todo. Uma anã branca, orbitada por um planeta de tamanho um pouco maior que Júpiter, já foi no passado distante uma estrela similar à nossa, e que passou pelo processo de uma gigante vermelha, que aniquilará nosso planeta daqui a alguns bilhões de anos.
A pesquisa, publicada na revista Nature por um time de astrônomos de diversos países, fala sobre a detecção de MOA-2010-BLG-477Lb, um exoplaneta com 1,4 vezes a massa de Júpiter e uma órbita semelhante, usando o telescópio Keck II do Observatório W. M. Keck, em Mauna Kea, Havaí. A estrela em si não era observável, por conta de sua luz extremamente fraca, então tiveram que usar a técnica de microlente gravitacional.
Quando um alvo e uma estrela próxima observável se alinham com a Terra, é possível determinar a posição de um corpo celeste observando as distorções na luz que o segundo causa sobre o primeiro. Assim, foi possível determinar que a estrela que MOA-2010-BLG-477Lb orbita é uma anã branca, com cerca de 60% do tamanho do Sol. Mais interessante é lembrar que uma estrela do tipo é o subproduto de uma gigante vermelha.
Estrelas intermediárias como o Sol não são massivas o suficiente para sofrerem um colapso gravitacional, desencadeando uma supernova. Ao invés disso, após esgotarem o processo de fusão de hidrogênio em hélio em seus núcleos, sua atmosfera externa começa a se expandir. Ainda que gigantes vermelhas possuam uma temperatura ligeiramente mais fria, ela continua sendo uma estrela e vai consumir o que estiver mais próximo dela.
De acordo com a pesquisa, a descoberta do novo sistema dá uma ideia de como o Sistema Solar deverá se parecer daqui a muito tempo. O Sol entrará na fase de gigante vermelha em 5 bilhões de anos, e estima-se que seu diâmetro crescerá do atual 0,01 Unidade Astronômica para 2 UAs, onde 1 UA = a distância entre ele e a Terra.
Não é preciso pensar muito no que vai acontecer: os planetas internos, de Mercúrio até a Terra, e acredita-se que também Marte e o Cinturão de Asteroides, serão aniquilados pelo Sol quando ele se expandir, mas até lá, nosso planeta já terá se tornado desprovido de vida a muito tempo.
A parte interessante da pesquisa, no entanto, é a existência de MOA-2010-BLG-477Lb e sua órbita distante semelhante à de Júpiter. Segundo o Dr. Andrew Vanderburg, professor-assistente de Física do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, e líder de um estudo que identificou outro planeta joviano orbitando uma anã branca, mas com uma órbita mais próxima da estrela, diz que um cenário do tipo pode ser bem comum no Universo.
Júpiter pode sobreviver ao Sol vermelho
Vanderburg acredita que planetas orbitando anãs brancas podem ter sido no passado corpos semelhantes a Júpiter, com órbitas distantes o bastante para resistirem à gigante vermelha, e que foram “puxados” para mais perto quando a estrela evoluiu para seu estágio seguinte. É possível que houvesse planetas internos antes, mas a distância dos demais lhes garantia maior chance de sobrevivência.
Já a Dra. Lisa Kaltenegger, fundadora e atual diretora do Instituto Carl Sagan na Universidade de Cornell, acredita na possibilidade de uma “segunda gênese” nos planetas sobreviventes. Dadas as condições necessárias, haveria a chance de que a vida pudesse prosperar em mundos orbitando anãs brancas, mesmo elas sendo muito mais quentes (máximo de até 150.000 K, contra 5.778 K do Sol).
Em tese, órbitas mais distantes tornariam gerenciável a presença de água em estado líquido em planetas sólidos mais distantes, possibilitando o desenvolvimento de microrganismos e com o devido tempo, a evolução de espécies mais complexas. Além disso, estes mundos seriam opções para abrigar futuras colônias, quando (ou se) a humanidade resolver sair do berço que é a Terra, porque ele definitivamente não durará para sempre.
Por fim, anãs brancas demoram MUITO para esgotarem suas últimas reservas e “apagarem”, se tornando anãs negras. Calcula-se que o processo levaria centenas de bilhões de anos, o Universo “só” tem 13,8 bilhões de anos de idade. De fato, anãs brancas detectadas são em geral estrelas muito, muito velhas.
Em um futuro longínquo, planetas que orbitam estrelas do tipo poderão ser os mais estáveis candidatos a serem ocupados, principalmente pela estabilidade das anãs brancas. Bastaria apenas localizar os que melhor se adequam às nossas necessidades, claro, se conseguirmos de fato chegar à fase da exploração tripulada do espaço, porque ficar na Terra para sempre não tem futuro, mesmo a longo prazo.
Referências bibliográficas
BLACKMAN, J. W. et al. A Jovian analogue orbiting a white dwarf star. Nature, edição 598, 272-275 (2021), 13 de outubro de 2021. Disponível em https://doi.org/10.1038/s41586-021-03869-6
Fonte: The New York Times
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