A Apple sabia muito bem que a política de privacidade introduzida no iOS 14.5 seria devastadora para companhias que usam dados de rastreio entre serviços como fonte de receita, onde Facebook (ou Meta), Twitter, YouTube e Snap estariam entre as mais afetadas. O medo foi tanto que a companhia de Mark Zuckerberg chegou a apelar para o FUD.
No fim das contas, não adiantou nada. Os donos de dispositivos da maçã adotaram o recurso massivamente, e segundo dados levantados pelo site Financial Times, o montante de dinheiro que deixou de ser ganho por essas companhias, referente apenas no segundo semestre de 2021, será de quase US$ 10 bilhões.
A política de privacidade introduzida nas versões 14.5 do iOS, iPadOS e tvOS dá aos usuários controle sobre quais apps podem rastreá-los em outros aplicativos e sites. Sempre que você abrir um aplicativo que usa o recurso no seu iPhone ou iPad, ele exibirá uma notificação dando duas opções: permitir a coleta, ou solicitar que o aplicativo não a realize.
A notificação surge tanto para apps que já estavam instalados e que forem usados pela 1ª vez desde o update, quanto para novos que forem instalados nos dispositivos. Todos os aplicativos que implementam esse método de coleta de dados, independente do contexto, são obrigados a se adequarem e exibirem a nota, para serem permitidos entrar, ou permanecer, na Apple App Store.
O rastreamento de dados entre serviços é uma metodologia de coleta usada para estudar os hábitos do usuário, como forma de exibir anúncios direcionados ao consumidor e ter melhores resultados. Ele é uma das principais fontes de receita de redes sociais e serviços como Facebook, Twitter, Snapchat, YouTube e vários outros, e dado o cenário, era compreensível que estas empresas tenham ficado aterrorizadas com a nova política de privacidade da Apple.
Isso porque diferente de implementar a opção de forma integrada ao sistema, em que o usuário deveria navegar pelas configurações e desligar/ligar por conta própria, o iOS forçaria os apps a jogarem a opção na cara do dono do aparelho. O primeiro método se vale da preguiça do consumidor, enquanto que o segundo está a um toque de distância, e considerando diversas polêmicas que Facebook e cia. se envolveram ao longo dos anos, era sabido que a grande maioria do público optaria por impedir o rastreio.
Foi o que aconteceu, mas ninguém esperava que a adoção pelo bloqueio somasse 87% dos usuários de iGadgets em todo o mundo já na primeira semana. A Apple, provavelmente, era a única que contava com isso.
O resultado foi avassalador. Ainda que o iPhone não seja o aparelho dominante no mercado de aparelhos celulares, ele abocanha 75% dos lucros no setor. Sem esses dados, empresas não têm como fornecer informações precisas sobre os hábitos de seus usuários para anunciantes e outros parceiros comerciais.
Estes, por sua vez, reduziram suas campanhas em plataformas como YouTube, Snap, Twitter e Facebook, e vêm investindo em outras frentes, como as plataformas de anúncios do Google (que é tocado à parte do YouTube), e sem muita surpresa, da Apple.
Mesmo campanhas tradicionais de direcionamento de anúncios foram bastante prejudicadas com a nova política da Apple. Mike Woosley, COO da Lotame, uma companhia que realiza campanhas para anunciantes em plataformas digitais, dá o exemplo do impulso de um produto masculino, que antes da mudança custava US$ 5 para ser exibido para 1.000 usuários. Agora, sem saber qual é o gênero do usuário, é preciso exibir o ad para 2.000 pessoas, dobrando o custo operacional, pelo mesmo valor pago pelo cliente.
De acordo com o Financial Times, até o fim de 2021 essas companhias terão deixado de lucrar em torno de US$ 9,85 bilhões, apenas com a mudança implementada pela Apple em seus sistemas móveis. O Google vai implementar políticas de privacidade similares no Android em breve, mas a Alphabet em geral pode flexionar suas opções entre suas companhias.
Para os anunciantes, há opções. Além das já citadas plataformas de anúncios do Google e da Apple, Woolsey diz que muitas empresas estão aumentando sua presença no TikTok, não só graças a sua popularidade entre os jovens, mas também porque o preço para anunciar por milheiro de usuários é bem menor, quando comparado com Facebook, Twitter e outros.
Já estes terão que encontrar outras fontes de receita, porque o dinheiro garantido com o método de rastreio de apps não só virou pó no iPhone, como também irá rarear no Android muito em breve.
Fonte: Financial Times
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