Uma iniciativa que acompanha 3.046 pessoas em Manaus, capital do Amazonas, desde agosto de 2020 revela que aqueles e aquelas que aderiram ao chamado tratamento preventivo contra a covid-19 lideraram o total de infecções registradas na primeira parte da pesquisa, respondendo por 38,6% dos casos, contra 25,9% dos que não ingeriram remédios para essa finalidade.
Dentre os medicamentos mais tomados estão a ivermectina, fármaco indicado para o tratamento de vários tipos de infestações por parasitas, e o paracetamol, analgésico utilizado para o alívio de febre e dores leve e moderada, mesmo que nenhum dos dois apresentem qualquer efeito benéfico comprovado contra o Sars-CoV-2.
Jaila Borges, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da UFAM e uma das coordenadoras do estudo, explica que o comportamento geralmente está associado a um relaxamento das medidas indicadas para a contenção do novo coronavírus, dentre elas o distanciamento físico, o uso de máscaras faciais e a higienização constante de mãos, itens e ambientes.
“As pessoas que se medicam, de alguma forma, sentem-se seguras e baixam a guarda. Quando a gente falava isso sem dados, poderia até se questionar. Mas agora temos esses dados da população de Manaus. Não é uma coisa longe da realidade”, destaca Borges.
Pessoas que tomam medicamentos se sentem mais seguras.Fonte: Unsplash
Chances de contaminação
Ainda de acordo com os dados do levantamento, o DETECTCoV-19, assinado por pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Amazônia, da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), da Universidad Peruana Cayetano Heredia e do Instituto de Evaluación de Tecnologías en Salud e Investigación (IETSI) do Peru, as chances de contaminação aumentam com o número de pessoas em uma mesma residência: 34,5% nas casas com quatro ou mais, 26,3% com duas e 25,2% com uma.
“Uma pessoa diagnosticada, claro, transmite para outros do seu domicílio, porque esse isolamento domiciliar não é feito corretamente. [Ou seja,] não temos uma vigilância ativa de casos em que, uma vez que uma pessoa é diagnosticada, ela e os seus contactantes são acompanhados”, defende Jaila.
Quanto mais pessoas vivem juntas maiores as chances de contaminação.Fonte: Unsplash
Por fim, 35,5% do total dos que testaram positivo para covid-19 eram pessoas com renda de até três salários-mínimos, contra 24,4% dos que ganhavam mais de seis. A pesquisadora, de todo modo, pondera sobre o quanto posicionamentos conflitantes de autoridades contribui para o cenário.
“Não é um argumento correto culpar somente as pessoas pelo que está ocorrendo. Temos um histórico problema de educação em saúde. Hoje, o que notamos é que as pessoas não sabem em quem acreditar”, finaliza.
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