Enquanto se esgota o espaço nos 1.044 tanques de armazenamento na usina nuclear japonesa de Fukushima Daiichi, a discussão sobre o que fazer com 1,23 milhão de toneladas de água contaminada ganhou esta semana mais um elemento contra o seu despejo no mar: segundo a organização de direitos ambientais Greenpeace, a água contém carbono radioativo com potencial para danificar o DNA humano.
Desde o grande terremoto e subsequente tsunami que destruíram boa parte da usina, a Tokyo Electric Power Company (TEPCO) vem bombeando dezenas de milhares de toneladas de água como forma de resfriar os reatores danificados. Essa água e mais a água subterrânea e a da chuva que penetra diariamente na planta são armazenadas. O governo japonês (e isso inclui o ministro do Meio Ambiente) diz que a única solução para resolver a falta de espaço é lançar a água no Oceano Pacífico.
Em 2022, não haverá mais tanques para armazenar água contaminada.Fonte: Reuters/Aaron Sheldrick/Reprodução
“Não podemos adiar a questão para sempre”, disse o primeiro-ministro japonês Yoshihide Suga. Segundo o ministro da Indústria Hiroshi Kajiyama, “para evitar o atraso no processo de desativação de Fukushima Daiichi, precisamos tomar uma decisão sobre como lidar com a água processada, cujo volume aumenta a cada dia”.
Danos ao DNA
Para o Greenpeace, o sistema de descontaminação usado pelo governo japonês não é o suficiente. Diariamente, 170 toneladas de água fluem para tanques de tratamento da TEPCO, onde ela é processada para eliminar a maioria dos isótopos radioativos – menos o trílio, um isótopo radioativo de hidrogênio que as usinas nucleares diluem e despejam rotineiramente junto com a água nos oceanos.
Porém, o Greenpeace, no relatório Stemming the Tide 2020: The reality of the Fukushima radioactive water crisis, alega que o carbono radioativo contido na água armazenada contaminaria o oceano, “concentrando-se em um nível milhares de vezes superior ao do trítio, com o potencial de danificar o DNA humano”.
O autor do estudo e especialista nuclear sênior do Greenpeace Alemanha, Shaun Burnie, disse à CNN que pode haver um total de até 63,6 GBq (gigabecquerels) de carbono-14 nos tanques de armazenamento. A TEPCO contestou a informação através de seu porta-voz, Ryounosuke Takanori: segundo ele, a concentração de carbono-14 contido na água tratada é de cerca de 2 a 220 becquerels por litro, conforme medido nos tanques.
Três décadas
“Mesmo que a água seja continuamente consumida a uma taxa de dois litros por dia, a exposição anual será em um nível que não afeta a saúde“, disse ele, adiantando, porém, que a TEPCO reprocessará toda a água para eliminar, o máximo possível, os níveis de trítio e demais materiais radioativos. Para Burnie, isso não é o suficiente, já que o sistema usado pela TEPCO não foi projetado para remover o carbono-14.
Duas explosões fizeram falhar os sistemas de resfriamento em três reatores, contaminando toda a região.Fonte: Getty Images/Digital Globe/Reprodução
“Quase dez anos depois do desastre, a TEPCO e o governo japonês ocultam informações, e agora não conseguem explicar aos cidadãos de Fukushima, ao Japão e aos países vizinhos, como Coréia do Sul e China, que a água contaminada a ser despejada no oceano Pacífico contém níveis perigosos de carbono-14.”
A decisão sobre o despejo da água contaminada no mar será tomada na próxima semana. Em dezembro de 2022, não haverá mais espaço para armazenamento. Antes de ser liberada, a água será diluída até 1/40 da concentração atual, e o descarte levará 30 anos para ser completado.
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