Desde 2019, quando o radiotelescópio Australian Square Kilometer Array Pathfinder (ASKAP) começou a produzir mapas do céu noturno, astrônomos se depararam com um novo mistério: anéis de rádio gigantescos e quase perfeitamente circulares em partes distantes do universo. Apelidados de ORCs (Odd Radio Circles, ou círculos de rádio excêntricos, em português), os objetos têm características peculiares que despertaram o interesse científico – ainda sem resposta definitiva para o que são.
Círculo de rádio excêntrico captado por telescópio australiano.Fonte: Bärbel Koribalski/ASKAP./Reprodução
Uma equipe de cientistas fez, em 2019, um compêndio contendo 11 possibilidades na tentativa de explicar o que podem ser os anéis: falhas de imagem, distorções no espaço-tempo conhecidas como anéis de Einstein ou um novo tipo de remanescente da explosão de uma supernova. Recentemente, eles adicionaram outras possibilidades ao seu catálogo, potencialmente deixando-os mais perto de resolver o problema.
Encontrando anéis
Os cientistas do ASKAP procuravam principalmente por fontes brilhantes que pudessem indicar a presença de buracos negros ou enormes galáxias brilhando em ondas de rádio. Mas, como disse à Live Science a astrônoma Bärbel Koribalski, pesquisadora do órgão nacional australiano CSIRO e professora da Universidade Western Sydney, na Austrália, alguns cientistas estão sempre em busca de “tudo o que é estranho, tudo o que é novo e tudo o que não se parece com nada mais”.
Anna D. Kapinska, do Observatório Nacional de Radioastronomia em Socorro, Novo México, avistou nos dados quatro círculos de rádio brilhantes que, inicialmente, o restante da equipe descartou. Quando os telescópios analisaram os objetos em outros comprimentos de onda, como luz visível, eles ficaram vazios.
O fato de cada um dos ORCs ter uma galáxia quase exatamente em seu centro, como um alvo, também chamou a atenção da equipe. Os astrônomos conseguiram determinar que as entidades estavam a vários bilhões de anos-luz de distância e que são potencialmente tão grandes quanto alguns milhões de anos-luz de diâmetro.
Buscando respostas
Desde a primeira publicação, a equipe encontrou mais um ORC para adicionar à sua coleção: uma entidade com cerca de um milhão de anos-luz, localizada a cerca de três bilhões de anos-luz de distância da Terra. Eles postaram suas descobertas no banco de dados científico de pré-impressão arXiv em 27 de abril. Agora, o artigo foi aceito para publicação no relatório mensal da Royal Astronomical Society.
A equipe reduziu suas idéias a três possíveis explicações. A primeira é a de que talvez existam galáxias adicionais formando um aglomerado próximo ao objeto, dobrando o material brilhante em uma estrutura semelhante a um anel, que pode simplesmente ter um brilho fraco demais para ser detectado por telescópios atuais.
Outra possibilidade é que o buraco negro supermassivo central dessas galáxias esteja consumindo gás e poeira, produzindo enormes jatos de partículas e energia em forma de cone. Os astrônomos frequentemente detectam esse tipo de fenômeno no universo, embora geralmente os jatos se alinhem de tal forma com a Terra que os observatórios os vêem se movendo para fora das bordas da galáxia.
Radiotelescópio australiano ASKAP, que capturou as imagens de ORCs.Fonte: CSIRO/Reprodução
“Talvez, no caso dos ORCs, os jatos estejam simplesmente apontando diretamente para o nosso planeta”, sugeriu Koribalski. Assim, a equipe estaria olhando para um longo tubo que cria uma imagem circular bidimensional em torno de uma galáxia central.
“A outra explicação é mais emocionante”, disse ela. “Pode ser algo completamente novo”, emendou. É possível que algum evento desconhecido, mas altamente energético, tenha ocorrido no meio dessas galáxias, criando uma onda de explosão que viajou como uma esfera e resultou em uma estrutura de anel. Koribalski ainda não tem certeza de que tipo de evento poderia deixar a marca – pode ser um produto até então desconhecido de buracos negros.
Já Harish Vedantham, astrônomo do Instituto Holandês de Radioastronomia e não associado ao trabalho, acredita que a ideia mais simples geralmente é a verdadeira. Para ele, as ORCs são uma manifestação de um fenômeno bem conhecido: jatos brilhantes disparados de uma galáxia em um ângulo raramente visto. “Você pode construir um cenário exótico, mas a resposta mais simples quase sempre é a correta”, disse ele à Live Science.
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