Nesta sexta, o asteroide que recebeu o nome do deus egípcio do caos se torna visível da Terra (felizmente, não a olho nu): o Apophis cruzará a trajetória da Terra, mas sem perigo de se chocar com o planeta – pelo menos, não desta vez. Ele estará a 0,11 UA (uma unidade astronômica é a distância entre a Terra e o Sol) ou 150 milhões de quilômetros, 44 vezes a distância entre nós e a Lua.
Porém, a cada vez volta ao redor do Sol, essa distância diminui. Hoje, ela é, no ponto mais distante de nós, de 2 UA e, por isso, o Apophis (na verdade, 99942 Apophis) é classificado como um asteroide “Atens”, grupo que reúne aqueles cujas órbitas são menores em largura do que a largura da órbita da Terra, ou 1 UA.
Em 2029, porém, ele alargará sua trajetória e, por isso, será promovido a outro grupo, conhecido como “Apollo”, dos asteroides cuja órbita é maior que 1 UA – esses são considerados mais perigosos. Mesmo quando passar raspando pela zona de satélites de alta altitude, ele não se chocará com a Terra – o mesmo já foi previsto para a passagem do Apophis em 1936.
O problema é que nada é certo em se tratando desse asteroide (aliás, de nenhum deles). A própria luz do Sol tem a capacidade de alterar suas trajetórias, assim como a gravidade da Terra. Por isso, enquanto o sobrevoo deste ano será usado como um exercício para os astrônomos e astrofísicos que integram o sistema de defesa planetária, a passagem do asteroide em 2029 será uma oportunidade única.
Uma década de preparação
“Já sabemos que esse encontro com a Terra afetará a órbita de Apophis, mas nossos modelos também mostram que a aproximação pode mudar a forma como este asteroide gira, e é possível que haja algumas mudanças na superfície, como pequenas avalanches”, disse, durante a Conferência de Defesa Planetária em abril de 2019, o astrônomo Davide Farnocchia, do Centro de Estudos de Objetos Próximos da Terra (CNEOS) do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA.
Na ocasião e com dez anos de antecedência, começou a ser esboçado um plano para extrair o máximo de informações sobre o Apophis quando ele se tornar visível a olho nu – inclusive a possibilidade de ser enviada uma sonda até ele, para a coleta de material e estudo do seu interior.
“Apophis é um representante de cerca de dois mil Asteroides Potencialmente Perigosos (Potentially Hazardous Asteroids, ou PHAs) atualmente conhecidos. Ao observá-lo durante seu sobrevoo de 2029, ganharemos importantes conhecimentos científicos que poderão um dia ser usados para defesa planetária”, disse Paul Chodas, diretor do CNEOS.
Amendoim espacial
Um dos aspectos que poderão ser melhor observados este ano é a forma do Apophis (imagens captadas pelo finado Radiotelescópio de Arecibo mostraram que ele tem a forma de um gigantesco amendoim). Ele teria a idade do sistema solar (cerca de 4,6 bilhões), vagando desde então entre os planetas e sendo empurrado de um lado para outro pela influência gravitacional principalmente de Júpiter.
A aproximação de um asteroide é a oportunidade de a comunidade astronômica para investigar, usando radiotelescópios, a forma e a rotação dos asteroides. Este ano, essa tarefa não será de Arecibo e sim, do Goldstone Deep Space Communications Complex da NASA na Califórnia.
Uma das antenas do Observatório Goldstone, que vai acompanhar o Apophis em sua passagem pela Terra.Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução
Desde a última quarta-feita (3) suas antenas estão direcionadas para acompanhar o Apophis, missão que cumprirá até o próximo dia 14, quando o asteroide não estará mais ao alcance. Quem assumirá a tarefa de seguir o mensageiro do caos será o telescópio espacial NEOWISE – pelo menos, até o fim do mês de abril.
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