Você deve ter acompanhado as notícias sobre a onda de calor que “tostou” a Europa há alguns dias, não é mesmo? A situação melhorou um pouco por lá, mas essa mesma massa de que provocou temperaturas recorde em alguns locais agora se encontra sobre a Groenlândia – e a situação é tão crítica que o calor tem feito com que geleiras da região se transformem em “cachoeiras”.
The Naujatkuat River in West Greenland running high in end of July, my gauging station is perched on the bedrock. With the exceptional heat wave coming I have my fingers crossed for it not being washed away. pic.twitter.com/JPofxDIELN
— Irina Overeem (@IrinaOvereem) July 30, 2019
Para se ter ideia, embora as temperaturas na ilha gelada não costumem ultrapassar os 10 graus Célsius nos meses de verão, nos últimos dias foram registrados quase 23 °C. Como consequência, de acordo com Eric Niiler, do site Wired, as camadas de gelo que normalmente cobrem o território estão derretendo e formando poças, lagos e rios. Além disso, o excesso de água está se infiltrando através da capa de gelo e escorrendo até a base rochosa, centenas de metros sob a superfície, formando bolsões subterrâneos.
Degelo acelerado
Na verdade, essas cavernas de água gelada se formam naturalmente como parte da dinâmica do sistema de drenagem do manto de gelo que recobre a Groenlândia. No entanto, o derretimento que vem sendo observado nesta semana pode quebrar todos os recordes de degelo anteriores – e os bolsões vão receber uma quantidade de água bastante acima do normal.
Com isso, é esperado que a pressão da água acumulada favoreça a movimentação das camadas gelo e provoque um aumento na velocidade de deslocamento em direção ao oceano, aumentando a probabilidade de que ocorram rupturas e o desprendimento de icebergs.
Bem, neste ano, a Groenlândia se transformou em palco de situações extremas, mas não é de hoje que problemas vêm sendo registrados por lá por conta da elevação das temperaturas globais. Estudos realizados nos últimos anos revelaram um aumento na quantidade e dimensão dos bolsões subterrâneos por conta do derretimento de gelo, e isso pode afetar o sistema de drenagem e a forma como o manto de gelo se move sobre a base rochosa.
Futuro incerto
Não se sabe ainda quais serão as consequências desse aumento sem precedentes do degelo, uma vez que nem toda a água da superfície se infiltrará pelo manto. De qualquer forma, as projeções atuais apontam que, se as emissões de carbono continuarem nos mesmos patamares, dentro de 2 séculos, o derretimento de gelo na Groenlândia terá contribuído para um aumento de mais de 1,5 metro no nível dos mares. Pode parecer pouco, mas essa elevação é suficiente para encobrir dezenas de cidades costeiras pelo mundo.
O pior é não é apenas a massa de ar quente dessa última onda de calor que está causando problemas por lá. As temperaturas do oceano também estão aumentando – e acelerando o derretimento do manto de gelo pelas “beiradas”, literalmente. Tudo isso, no entanto, não significa necessariamente que o manto esteja prestes a entrar em colapso (ainda). Porém, demonstra que é necessário compreender como, exatamente, o aumento no aporte de água por conta do degelo afeta todo o sistema e qual é, exatamente, o papel exercido pelos reservatórios na sua dinâmica e, por sorte, existem diversas equipes de cientistas empenhadas nisso.
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