As histórias de Terror povoam o imaginário popular desde sempre, passando da tradição oral para a escrita em livros ou contada nas telas. Claro que os quadrinhos não ficariam de fora, com a mídia sendo terreno fértil para obras do gênero e autores que buscam assustar, chocar, aterrorizar e entreter seus leitores.
Aqui nós listamos algumas das HQs mais relevantes do gênero, além de algumas menções honrosas.
As 8 mais clássicas histórias de terror em quadrinhos
Confira a seguir os 8 quadrinhos de terror mais clássicos e 3 menções honrosas, que embora não se enquadrem totalmente estão ligados ao gênero, de uma forma ou de outra.
1. Contos da Cripta
É impossível começar esta lista com outra HQ que não Contos da Cripta. A versão original começou a ser publicada em 1950 pela EC Comics e durou 27 edições, tendo sido encerrada por motivos de força maior: a cruzada anti-quadrinhos de Fredric Wertham, que com seu livro A Sedução dos Inocentes virou a opinião pública contra a mídia, acusada de tornar os jovens em delinquentes ou imorais.
Como Contos da Cripta não conseguiu se adaptar aos parâmetros do famigerado selo do Authority Code (criado como resposta ao livro), a revista saiu de circulação porque ninguém queria vendê-la e só voltou em 2007, embora nesse meio tempo tenha virado série de TV pela HBO, em 1989, e influenciado vários autores, de Alan Moore a Neil Gaiman, além de gerar alguns filhotes como o programa Movie Macabre, de onde saiu Elvira, a Rainha das Trevas (Cassandra Peterson).
A publicação original contava com histórias que mesclavam terror e erotismo (o que é normal da mídia), algumas de autores depois consagrados como Ray Bradbury (Fahrenheit 451), ou adaptações de contos de escritores como Edgar Alan Poe e H.P. Lovecraft. Dentre os personagens fixos o mais lembrado é o Guardião da Cripta, que apresentava as histórias no gibi e na TV.
Como vingança final contra Wertham e o Authority Code, a EC Comics colocou todas as suas fichas numa revista satírica que começaram a publicar em 1952, uma tal de Mad…
2. Hellblazer
John Constantine, o feiticeiro, detetive e maior picareta das HQs é criação de Alan Moore, tendo surgido nas páginas de Monstro do Pântano (mais a seguir). Embora faça parte do universo DC e tenha se envolvido diversas vezes com os heróis da editora, foi nas páginas de Hellblazer, publicação do selo Vertigo (RIP) que ele brilhou, em uma série de 300 edições.
Constantine interagia com todos os tipos de problemas e criaturas do oculto, desde demônios, zumbis e assassinos ao Primeiro dos Caídos (que não era Lúcifer; longa história), a quem ele tapeou fazendo beber água benta transformada em Guinness. Como eu disse, um picareta.
Essa passagem, de Hábitos Perigosos foi inclusive a base para o filme estrelado por Keanu Reeves. Além deste, Constantine já teve série própria e hoje pode ser visto em Legends of Tomorrow da CW, interpretado por Matt Ryan.
3. Hellboy
A obra-prima de Mike Mignola, Hellboy é um demônio híbrido que foi invocado à Terra durante a Segunda Guerra Mundial por nazistas ainda bebê, mas foi resgatado pelos Aliados e criado como um agente do oculto. Agora adulto, Hellboy faz parte de uma organização que enfrenta de feiticeiros a refugos da Segunda Guerra, demônios e outras ameaças sobrenaturais.
Hellboy usa elementos dos quadrinhos de heróis e temas comuns à literatura de terror, com uma forte referência aos Mitos de Cthullu, de Lovecraft. O quadrinho rendeu filmes, livros, um longa animado e jogos de videogame, sendo bastante popular mesmo entre quem não é leitor assíduo de obras de horror.
4. Hellraiser
O filme Hellraiser: Renascido do Inferno (1987), baseado no conto The Hellbound Heart de Clive Barker (recentemente lançado aqui com o mesmo nome do filme) fez tanto sucesso que a saga dos Cenobitas não demorou muito a ir parar nas HQs. Em 1989, a Marvel Comics lançou a série pelo finado selo Epic, que semelhante à Vertigo publicava obras mais adultas como Dreadstar, as Graphic Novels Wolverine e Destrutor: Fusão e Elektra: Assassina, além de ter sido a primeira editora a trazer o mangá Akira para o ocidente.
A fase da Marvel durou até 1994, para depois Hellraiser passar pela BOOM! Studios e recentemente se estabelecer na Seraphim Inc., de propriedade do próprio Barker, que está publicando novas histórias. A temática de Hellraiser sempre girou em uma mescla de body horror, gore e BDSM, que lhe conferiram originalidade suficiente para se destacar entre outras obras do gênero.
5. Crossed
Crossed é de longe a obra mais doentia de Garth Ennis, que como todo mundo sabe, não bate bem da cuca. Digamos assim: perto dela, Preacher é uma bela história de busca por Deus, enquanto The Boys é um gibi da Liga da Justiça na Era de Prata.
A história gira em torno de uma pandemia que faz as pessoas perderem toda a inibição contra impulsos violentos, o que faz os infectados (que exigem uma marca em forma de cruz no rosto) se tornarem maníacos homicidas sem limites.
O horror de Crossed é totalmente visceral, no sentido gore indo às últimas consequências, com desmembramentos, gente sem pele, decapitações, execuções sumárias, tudo da forma mais gráfica possível e de maneira cotidiana.
Definitivamente, não é uma HQ para gente de estômago fraco.
6. Spawn
Criação de Todd McFarlane, que ficou famoso por desenhar o Homem-Aranha por anos e introduzir o personagem Venom, Spawn foi um dos primeiros anti-heróis do então recém-criado selo Image Comics, lançado em 1992. Na trama, o agente da CIA Al Simmons é traído e morto e cai no inferno, mas faz um pacto com o demônio Malelbogia para voltar à Terra e proteger sua esposa.
Claro, ele é tapeado e revive como uma criatura demoníaca, com diversos poderes, quase totalmente desfigurado e sem memórias, para agir como um avatar do demônio. Embora seja uma história com tons heroicos, o foco do personagem em sua própria revista sempre foi o horror, lidando com Malelbogia, o Violador ou inimigos da Terra, alguns bem malucos.
7. Do Inferno
Alan Moore também fez contribuições originais às HQs de terror, com a Graphic Novel Do Inferno (From Hell). A história é uma reinterpretação dos eventos acontecidos em Whipechapel, Inglaterra, entre abril de 1888 e fevereiro de 1891, uma série de homicídios jamais elucidados atribuídos a Jack, o Estripador, que nunca foi identificado.
A história especula sobre a real identidade de Jack, reconstituindo fatos autênticos e criando os seus próprios, com passagens de puro horror graças à combinação da narrativa de Moore e o traço opressivo de Eddie Campbell. A Graphic Novel foi adaptada para um filme em 2001, para variar renegado por Moore, que exigiu a retirada de seu nome dos créditos.
A título de curiosidade, a única adaptação que Moore aprovou foi a da história do Superman Para o Homem que Tem Tudo, em num episódio de Liga da Justiça Sem Limites.
8. The Walking Dead
A saga de Robert Kirkman, que recentemente chegou ao fim após 193 edições, trabalhou o clichê do apocalipse zumbi de uma forma diferente, em que os “walkers” são o menor dos problemas para os sobreviventes.
Na trama de The Walking Dead, Rick Grimes é um delegado de Kentucky que aos poucos vai se tornando o líder de uma comunidade, que tenta a todo custo resistir aos zumbis e a outros sobreviventes, desde a trupe de Negan aos Sussurradores, que compõem as maiores ameaças da história.
As histórias de terror da HQ foram adaptadas para séries de TV, jogos de videogame, livros e outros produtos, além da promessa de um filme que está empacado há um bom tempo.
3 Menções honrosas
Os três quadrinhos, a seguir, não são necessariamente do gênero terror em si, mas contam com elementos de roteiro e características que ligam suas publicações ao gênero. Logo, faz sentido mencioná-los.
1. A Saga do Monstro do Pântano, de Alan Moore
Entre 1983 e 1987, o Monstro do Pântano, um anti-herói menor da DC Comics e criação por Len Wein (também responsável pelo Wolverine) caiu nas mãos de Alan Moore, que vinha de uma fase de sucesso na divisão britânica da Marvel. O gibi estava para ser cancelado devido a baixas vendas, tanto que a DC deu carta branca para o bruxo.
Moore então subverteu tudo o que se sabia sobre o personagem, não só mudando o tom para contar histórias de terror como transformando o protagonista numa criatura que achava que já foi Alec Holland: este morreu de verdade e teve suas memórias absorvidas pelo pântano, que tomou forma humanoide.
Em A Saga do Monstro do Pântano, Moore criou conceitos como o Parlamento das Árvores e fez do personagem um avatar da Natureza, mas incluiu passagens questionáveis como a cena de sexo entre a criatura e Abby Holland (que é bem bonita e psicodélica), além da vez em que o monstro engravidou a parceira enquanto possuía o corpo de John Constantine, que surgiu nas páginas desta fase. Esse, aliás, foi o ato final de Moore na HQ.
2. Vampirella
Criação de Forrest J. Ackerman, Trina Robbins, Frank Frazetta (um dos melhores ilustradores das HQs, famoso pelas artes de Conan e que inspirou o estilo de Alex Ross) e Tom Sutton, Vampirella surgiu nas histórias de terror da Warren Publications em 1969, mas não demorou muito para ganhar revista própria e chamar a atenção do público, por razões óbvias.
A personagem é uma vampira do planeta Drakulon, que veio à Terra tanto para se alimentar (seu mundo estava morrendo) quanto para fazer o bem, se tornando uma anti-heroína sensual e uma antagonista de Drácula, que nas suas histórias também veio de Drakulon.
Embora suas histórias puxem mais para o erotismo e humor (ela, recentemente, se uniu a Red Sonja e ambas estrelam uma minissérie atual com Betty e Veronica, as “namoradas” do Archie), Vampirella ainda mantém uma bota e dentes no terror.
3. The Immortal Hulk
Por mais estranho que possa parecer, a ideia original de Stan Lee e Jack Kirby para O Incrível Hulk era um gibi de terror, uma versão de O Médico e o Monstro para a Era Atômica. Esse conceito foi posto de lado logo em seguida e só foi revisitado em 2018, na fase atual do gigante esmeralda.
Em The Immortal Hulk, não só Bruce Banner descobre que é imortal (se ele morrer de dia, o Hulk volta do túmulo à noite e o traz a tira-colo), como não há mais o conceito de herói ou vilão: embora inteligente, este novo Hulk se comporta como um monstro, sem nenhum tipo de código moral. Tanto que nesta HQ ele já chegou a matar deliberadamente e mais de uma vez, com o mercenário Bushwacker (acima) sendo uma de suas vítimas.
Embora sejam grandes as chances dessa fase não durar, ela é conduzida como uma história de terror e não uma aventura de heróis.
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