Ensaios sobre como serão as colônias humanas em ambientes extraterrestres estão em andamento em lugares inóspitos de nosso planeta, como nas encostas de um vulcão de uma ilha no Havaí – pródigo em túneis de lava e onde está o habitat marciano emulado do projeto Simulação da Exploração Espacial do Havaí Analógico e Simulação (HI-SEAS), cujos resultados da missão Selene V (encerrada agora) serão apresentados esta semana na Assembleia Geral da União Europeia de Geociências (EGU) 2021.
Instalado nas encostas rochosas do vulcão Mauna Loa, na Grande Ilha do Havaí, o habitat analógico mantém ainda um laboratório onde são exploradas as possibilidades de uma vida em ambiente inóspito. E isso não se resume a um lugar sem oxigênio e longe o bastante para que um “alô” enviado à Terra demore 15 minutos para chegar e mais 15 minutos para ser respondido. Trabalhar do lado de fora dos abrigos com luvas, roupas de proteção contra a radiação e tanques de oxigênio com reservas limitadas não facilita a vida de ninguém.
“Imagine tentar pegar uma pedra ou raspar micróbios da parede de uma caverna em um traje espacial volumoso com luvas fofas, com um limite de tempo porque você não quer ficar sem oxigênio. Isso é o que os astronautas analógicos fazem diariamente no habitat da base lunar do HI-SEAS no Havaí enquanto se preparam para futuras missões à Lua e a Marte”, disse a astrobióloga Michaela Musilova, diretora da HI-SEAS e participante da International MoonBase Alliance (IMA).
Túneis de lava
(A Aliança Internacional por uma Base na Lua é, segundo o site da entidade, “uma associação composta por cientistas, educadores e empresários de agências espaciais e indústrias em todo o mundo para promover o desenvolvimento e implementação de uma base internacional na Lua”.)
A rotina do pequeno grupo de pesquisadores é a mesma que devem ter os futuros astronautas em solo extraterrestre: em Atividades Extra-Veiculares (AEVs), como escavar e usar túneis de lava (também um potencial lugar para instalar futuras colônias humanas fora da Terra, por serem abrigos naturais contra a radiação e condições adversas do clima) para a coleta de amostras para pesquisas do passado do planeta (ou da Lua),
Segundo nos ensina a Wikipedia, tubos de lava são “condutos naturais através dos quais a lava chega à superfície em um fluxo de magma, expelido por um vulcão em erupção”; segundo Musilova, eles guardam a história da evolução dos planetas e podem conter “bioassinaturas de vida, assim como as cavernas e alguns tubos de lava na Terra”.
“Esses canais não são fáceis de explorar, e por isso os astronautas no Havaí usam roupas espaciais. Desenvolver pesquisas em trajes sob restrições torna tudo muito mais difícil de fazer, demorando três vezes mais tempo. Precisamos treinar extensivamente na Terra para descobrir os melhores métodos e criar os melhores trajes para AEVs para que possamos realizar esse tipo de pesquisa na Lua e em Marte um dia”, disse Musilova em comunicado.
Cafofo espacial
O habitat em si é pequeno: 110 metros quadrados para os alojamentos dos astronautas e mais o laboratório da missão. Convivem um comandante, um oficial de operações, um engenheiro, um oficial de comunicação e mais cientistas, como astrobiólogos e astrofísicos.
A base do Havaí não é a única que simula a vida extraterrestre: há outras, como os abrigos nos desertos do Atacama, no Chile e de Utah, nos EUA. Todas têm em comum o ambiente inóspito, as dificuldades da sobrevivência e a análise não apenas das condições físicas como psicológicas dos membros da missão.
“Isso permite que a equipe teste tecnologias a serem enviadas ao espaço e treine pesquisadores e exploradores”, disse o astrofísico Bernard Foing, diretor do projeto EuroMoonMars, da Agência Espacial Europeia (ESA).
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