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Astrônomos identificam gigantesco buraco vazio no Espaço

Quando alguém fala de um buraco no Espaço, normalmente o primeiro pensamento vai para os buracos negros, restos de estrelas que sugam tudo, até a luz, que hoje acredita-se serem mais comuns do que se pensava.

Talvez por isso, a descoberta de um gigantesco buraco literal, uma cavidade vazia a uma distância média de 700 anos-luz da Terra, está confundindo os astrônomos sobre sua origem.

Modelo em 3D da cavidade entre as nuvens de Perseu e Touro; o Sol, visto à esquerda, está a 700 anos-luz de distância (Crédito: Reprodução/The Astrophysical Journal Letters) / buraco

Modelo em 3D da cavidade entre as nuvens de Perseu e Touro; o Sol, visto à esquerda, está a 700 anos-luz de distância (Crédito: Reprodução/The Astrophysical Journal Letters)

O buraco, que foi batizado de “Concha Per-Tau”, é uma gigantesca cavidade situada entre as nuvens das constelações de Touro e Perseu, distantes respectivamente a 400 e 1.000 anos-luz da Terra. Essas nuvens, assim como os mais famosos Pilares da Criação da nebulosa de Águia, são gigantescos aglomerados de gás e poeira cósmica, e cumprem a função de “berçários” de centenas de novas estrelas.

Usando observação tradicional, com instrumentos como o telescópio espacial Hubble e cia, a impressão que se tem é que ambas as nuvens estão muito próximas e se tocam, mas a verdade é que elas estão distante uma da outra em centenas de anos-luz, circundando uma cavidade da mesma forma que as nuvens na atmosfera da Terra. Esse “buraco” no espaço, desprovido de matéria é completamente diferente de um buraco negro, que é um dos possíveis subprodutos de uma supernova, seja ela bem sucedida ou (acredita-se) falha.

A disposição real das nuvens de Touro e Perseu só pode ser identificada com mapeamento em três dimensões, provido pela missão Gaia, um observatório da Agência Espacial Europeia (ESA). Lançada originalmente em 2013, seu objetivo é mapear corpos celestes e identificar seu movimento, bem como sua posição em um plano 3D.

A Gaia tem como principal objetivo mapear o Cosmos em 3D com altíssima precisão, e fornecer novos dados sobre estrelas e galáxias que imagens em 2D não podem oferecer. A observação das nuvens de Touro e Perseu acabou sendo o exemplo mais recente, por remover a ideia de que os aglomerados estavam conectados.

A hipótese de como as nuvens estelares se formam sugeria a presença de uma cavidade vazia na região, mas os cientistas não esperavam identificar uma tão grande.

Quando uma estrela explode em uma supernova e se autodestrói por completo, não deixando um buraco negro ou uma pulsar (estrela de nêutrons) como subproduto, a onda de choque captura partículas de gás e poeira que se acumulam ao seu redor, formando nuvens que darão origem a outras estrelas. Nesse cenário, o material ejetado é empurrado em todas as direções, deixando para trás uma cavidade vazia, um literal vácuo.

O que está intrigando os pesquisadores, no entanto, é que a Concha Per-Tau é grande demais para o padrão de uma explosão estelar. O estudo apresentado por um time misto de astrônomos, de diversas universidades, aponta para a possibilidade de que ela tenha se originado por uma série de supernovas, ou por uma supernova gigantesca (não no nível de uma hipernova, sujo subproduto é quase sempre um buraco negro), criando uma cavidade massiva no Espaço, com em torno de 600 anos-luz de diâmetro.

Como consequência, as partículas cósmicas acumuladas nos dois hemisférios laterais se agregaram na forma das grandes nuvens de Perseu e Touro, da forma que o modelo em 3D, modelado em um programa chamado “cola” (o nome é assim mesmo) demonstra. Até então, não se sabia o tamanho e distância entre os aglomerados, e acreditava-se que as nuvens estavam coladas. Já dentro do buraco, não há praticamente nada.

De acordo com o Dr. Shmuel Bialy, pós-doutorando do Instituto de Teoria e Computação (ITC) do Centro de Astrofísica de Harvard-Smithsonian e líder do estudo que resultou no artigo recém-publicado, a presença de uma cavidade tão grande demonstra que a explosão de uma estrela, ou de várias delas em uma mesma região, podem desencadear processos para a formação de novos corpos celestes.

O próximo passo é descobrir o aglomerado estelar do qual a supernova, ou grupo de supernovas, se originou. Isso dependerá do próximo lançamento dos dados capturados pela Gaia, que deverá ser realizado pela ESA em 2022 (os anteriores se deram em 2016 e 2018). Com essas informações, os pesquisadores esperam localizar o grupo estelar que estava em posição quando a explosão ocorreu, entre 6 milhões e 22 milhões de anos atrás.

No mais, esses dados servirão também para determinar se eventos de tal magnitude representam algum risco para corpos celestes próximos, considerando que numa escala cósmica, 700 anos-luz não é tão longe assim.

Referências bibliográficas

BIALY, S. et al. The Per-Tau Shell: A Giant Star-Forming Spherical Shell Revealed by 3D Dust Observations. The Astrophysical Journal Letters, Volume 919, Número 1, 12 páginas, 20 de setembro de 2021. Disponível em http://dx.doi.org/10.3847/2041-8213/ac1f95.

Fonte: ExtremeTech


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