Bacurau, filme nacional que estreou na última quinta-feira (29), está gerando diversos comentários sobre a distopia retratada e qual seria a relação dela com a realidade atual do Brasil. Dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, o longa venceu o Prêmio do Júri no Festival de Cannes, foi premiado como Melhor Filme no Festival de Munique e no Festival de Lima, no qual também recebeu o prêmio de Melhor Direção.
A palavra bacurau carrega significados importantes: dá nome a um pássaro e, no filme, a uma cidadezinha fictícia do Nordeste. E a história, que é retratada como uma distopia, é extremamente sensível ao que o povo brasileiro já sofre diariamente.
O filme conta a história da falecida Dona Carmelita, de 94 anos, matriarca da cidade. O município de repente desaparece do mapa, e mortes estranhas começam a acontecer: pode parecer um roteiro fictício e irreal, mas a crítica que Dornelles e Mendonça Filho conseguem atribuir ao filme é notável.
Segundo o elenco do filme, a trama já está acontecendo e tem tendência de piorar no Brasil. “O mundo tem sido violento, e não é uma coisa atual. A Segunda Guerra Mundial foi um momento de extrema violência e dizimou milhões de pessoas. Hoje, temos esse sentimento real que está mais próximo do que liamos quando éramos adolescentes, lá em 1980”, comentou Mendonça Filho, citando também os abusos que a polícia comete em ações nas favelas do Rio de Janeiro.
O filme é cruel e verdadeiro. O contexto violento que conduz a história está bem próximo do que vivemos e não muito longe das expectativas nacionais. “Acho que a questão das invasões, dominações, toda a violência faz parte do que somos hoje. Não se construiu o Brasil; invadiu-se o Brasil. Toda a população que já morava aqui foi dizimada em nome de outra civilização”, concluiu a atriz Karine Teles.
A figura do poder político em Bacurau também é forte, retratada no filme por meio de um prefeito populista que sofre com a falta de água e mantimentos da cidade. E isso é algo que muitas localidades brasileiras já sentem na pele. A atriz Bárbara Colen mencionou que “eu, que venho do interior e conheço o sertão do Ceará, sei muito bem o que é o coronelismo. Sei o que é ver pessoas amedrontadas com o político local”.
Minorias sendo dizimadas, sofrendo com falta de água e comida, sendo assustadas e mortas por estrangeiros que querem tomar o seu lugar, isso é algo que não está longe de acontecer no Brasil: já acontece. Genocídio se tornou uma palavra comum na população, e quem sofre com isso são negros, indígenas, populações menores de interior.
Para a equipe do longa-metragem, a solução para acabar com a realidade gritante do Brasil é investir em educação, fomentar a arte e a grande necessidade de incentivar o diálogo. “A arte pode transmitir o pensamento do que aquilo provoca. Precisamos dela. Acho que Bacurau é um exemplo disso. Pode ajudar as pessoas a contornar essa situação. Ou ao menos instigar a reflexão. Mas, claro, isso também pode ser uma utopia”, diz o ator Thomas Aquino.
Mendonça Filho terminou dizendo que, para ele, a principal saída é a educação. E é exatamente isto que está faltando no Brasil: educação para entender melhor a situação como uma nação.
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