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Call of Duty: Vanguard e o desrespeito a um herói neozelandês

Quando o Call of Duty: Vanguard for lançado, ele nos levará para a Segunda Guerra Mundial, com a sua campanha contando a história de quatro soldados que participaram do conflito em frentes diferentes. Embora não se trate de personagens reais, eles foram baseados em pessoas que de alguma forma defenderam seus países, mas com um deles a Sledgehammer Games cometeu um equívoco que já começa a repercutir.

Call of Duty: Vanguard

Crédito: Divulgação/Sledgehammer Games

Para entender a polêmica é preciso explicar a origem de cada personagem. O primeiro deles é Wade Jackson, um piloto americano baseado em Vernon Micheel, que ficou marcado na história pela sua atuação na batalha de Midway. Depois temos Arthur Kingsley, inspirado no paraquedista britânico Sidney Cornell e que ficou conhecido como o primeiro negro a desembarcar na Normandia, no Dia D. Chegamos então a Polina Petrova, atiradora de elite russa baseada em Lyudmila “Senhora Morte” Pavlichenko, que oficialmente matou pelo menos 309 inimigos, a maioria deles nazistas. Por fim, temos Lucas Riggs, que teve como inspiração o neozelandês Charles Upham.

Único homem a ter recebido a Cruz Victoria por duas vezes d3evido seus feitos na Segunda Guerra, Upham foi condecorado por atos de bravura quando esteve na Grécia e no Egito, fazendo dele a pessoa mais homenageada da Comunidade Britânica de Nações e um dos maiores heróis da Nova Zelândia. A homenagem tinha tudo para ser bem-vista, mas ao contrário do que a Sledgehammer Games fez com os outros personagens, que mantiveram as nacionalidades daqueles que os inspiraram, no Call of Duty: Vanguard Lucas Riggs será um australiano.

Não demorou para que os neozelandeses se sentissem incomodados ao ver uma figura tão importante da nação ser representado como um australiano e em um texto no site Newshub, Tony Wright foi duro em sua crítica:

É como transformar [outras celebridades neozelandesas como] Sir Edmund Hillary em um australiano, ou a Lode ou Jonah Lomu. É um insulto. No melhor cenário, é ignorância; no pior, é um gigante dedo do meio para todos nós. Então, novamente faço a pergunta: por que mudar o maior herói de guerra da Nova Zelândia para um australiano?

A importância de Charles Upham não pode ser exagerada. Nenhum outro soldado jamais foi premiado com duas Cruzes Victoria em toda a história. Esta incrível conquista pertence apenas à nossa nação, Aotearoa Nova Zelândia.”

Wright procurou a Sledgehammer Games para saber o motivo deles terem feito a mudança na nacionalidade de Upham e a resposta dada pelo diretor de campanha foi quase tão absurda quanto a mudança, com David Swenson confirmando a inspiração no neozelandês e dizendo apenas que suas façanhas ajudaram toda a Comunidade Britânica de Nações que atuaram no Norte da África.

Com muito bem-dito pelo autor do artigo, resta saber até que ponto o jogo reproduzirá as situações por quais passou o soldado, como por exemplo ter destruído um caminhão cheio de nazistas, ter sido alvejado seis vezes ou tentado fugir diversas vezes após ter sido capturado pelos alemães, até terminar no campo de prisioneiros de Colditz, em 1944. De qualquer forma, ao mudar sua nacionalidade, o estúdio estaria reescrevendo parte da história militar da Nova Zelândia, fazendo com que muitos passem a acreditar que o soldado do império britânico mais condecorado na Segunda Guerra foi um australiano.


Charles Upham em uma frustrada tentativa de fuga de Colditz (Crédito: Reprodução/Mark of the Lion/Kenneth Standford)

Alguns poderão considerar a reclamação exagerada, afinal estamos falando de um jogo que muito provavelmente terá um aviso no início dizendo que as ações que serão experimentaremos não representam a realidade, com as histórias tendo sido apenas inspiradas nas atitudes de soldados que lutaram pelo lado dos aliados. Ainda assim, será que eles não poderiam ter tomado o cuidado de não mudar a nacionalidade de alguém tão importante para os neozelandeses?

Mesmo não se dispondo a ser um documentário interativo, até porque certamente passaremos por situações impossíveis de acontecerem na vida real, ao jogar um título baseado na Segunda Guerra acredito que o que muitos procuram é conhecer um pouco mais sobre o conflito, sendo inclusive uma porta para que as pessoas se aprofundem no assunto.

Este é um detalhe que provavelmente não afetará a experiência como um todo, mas que serve para mostrar a falta de cuidado por parte da desenvolvedora. Pode ser que até o lançamento do Call of Duty: Vanguard a Sledgehammer Games corrija esta falha, com a repercussão do caso lhes mostrando que quando alguém for se basear em um herói de guerra, qualquer mudança poderá ser o suficiente para desrespeitar o seu legado e isso nunca será aceito por aqueles que o admiram.


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