Em 1999, o filme Clube da Luta chegava aos cinemas. Mais do que um clássico moderno, o longa se tornou um marco, graças às atuações de Brad Pitt, Edward Norton e Helena Bonham Carter nos papéis principais, e à sua ácida crítica à sociedade capitalista. Com um texto forte sobre “você não é o seu emprego” e “as coisas que você possui acabam se tornando suas donas”, o filme não esconde esse teor, desde o seu começo.
Dirigido por David Fincher e baseado no livro homônimo de Chuck Palahniuk, Clube da Luta é um daqueles filmes que contam com diversas camadas, que vão muito além do plot twist revelado no final. O cineasta, que este ano concorreu na categoria de Melhor Direção no Oscar com Mank, soube trabalhar o roteiro, assinado por Jim Uhls (Jumper), na construção de um cenário onde tudo o que — em um primeiro momento — parece superficial, acaba por se revelar como mais profundo.
Críticas do filme Clube da Luta
Embora não tenha sido bem recebido na época do lançamento, Clube da Luta não é um filme menor ou menos relevante do que as demais produções que chegaram ao cinema naquela mesma época. O ano de 1999 talvez tenha sido um dos mais emblemáticos para o cinema. O Sexto Sentido, Matrix, 10 Coisas que Eu Odeio em Você, O Gigante de Ferro e A Bruxa de Blair, são apenas alguns dos exemplos de filmes que seguem relevantes.
Mas e com o Clube da Luta, será que depois de mais de duas décadas do lançamento, essa crítica ao consumismo ainda é válida? A resposta mais simples é sim. Mas para entender melhor isso, é importante olhar para o filme sob três perspectivas diferentes.
Os protagonistas
‘O Narrador’ e o tipo de homem que ele ‘gostaria de ser’.Fonte: IMDb/Reprodução
O filme começa com uma narração do personagem de Norton falando sobre Tyler Durden (Pitt). Como dito anteriormente, em um primeiro momento, essa cena pode parecer simples, apenas para explicar que Durden é uma pessoa complicada e perigosa. Porém, com a revelação de que ambos são a mesma pessoa, existe uma nova interpretação, afinal, o narrador está falando sobre ele mesmo.
E aqui, vem o segundo mérito do filme: o personagem de Norton é apresentado apenas como “O Narrador”. E isso faz muito sentido, afinal, ele pode representar qualquer pessoa que vive no mundo que Durden quer destruir. Pessoas anônimas, que vivem em função de seus empregos e se contentam em ganhar o suficiente para interagir com o consumismo desse mundo. Isso faz com que Norton narre não a história de um personagem, mas a de todos.
Regras do Clube da Luta
- Você não fala sobre o Clube da Luta;
- Você não fala sobre o Clube da Luta;
- Somente duas pessoas por luta;
- Uma luta de cada vez;
- Sem camisa, sem sapatos;
- As lutas duram o tempo que for necessário;
- Quando alguém gritar “para!”, sinalizar ou desmaiar, a luta acaba;
- Se for a sua primeira noite no Clube da Luta, você tem que lutar!
Clube da Luta
Fonte: IMDb/Reprodução
Se em um primeiro momento, a ideia do Clube da Luta pode parecer enaltecer a violência, novamente, ao compreender as camadas do filme é possível perceber que a mensagem é justamente o contrário. O filme usa essa violência como uma válvula de escape para todo o discurso anticonsumista de Durden. E, se por um lado em Clube da Luta, isso acontece dentro de um grupo de pessoas que seguem um conjunto de regras, na realidade, as coisas não funcionam assim e podem gerar consequências mais sérias.
E nesse sentido, o filme segue mais atual do que nunca. Embora tenha sido feito considerando as relações de consumo do início do século 21, nessas últimas duas décadas essa situação parece ter se tornado ainda mais intensa. Por esse motivo, Hollywood nem considera um remake do filme.
O Projeto Mayhem
O personagem de Jared Leto durante o treinamento do Projeto Mayhem.Fonte: IMDb/Reprodução
Finalmente chegamos ao terceiro ponto: a destruição do capitalismo. O objetivo central de Durden é acabar com as corporações. Para isso, ele cria o Projeto Mayhem. A ideia é recrutar os membros mais fiéis do Clube da Luta para praticar atentados terroristas contra as grandes corporações do mundo.
Talvez esse tenha sido o discurso que mais tenha sofrido com o tempo. Em partes por ser essencialmente um discurso idealizado. Mas também porque parece que está cada vez mais difícil de se vencer o consumismo através desse tipo de discurso. Hoje, ele serve na história para dar uma motivação aos personagens e nos entregar o final catártico do filme.
De qualquer maneira, nada disso diminui o impacto e a relevância de Clube da Luta. Em duas décadas, parece que nós apenas caminhamos mais para tudo o que Durden queria destruir e, nesse sentido, poucos filmes envelheceram tão bem com um discurso tão enfático.
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