Coluna – Estaria a E3 com os dias contados?

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Olá! Como esse é o nosso primeiro encontro, por assim dizer, creio que uma apresentação se faz necessária. Meu nome é Thales, tenho 27 anos de idade e, como muitos aqui, a minha paixão por videogames vem de criança – no meu caso, com o Super Nintendo. Sou do tipo que gosta de experimentar todo tipo de jogos, de quantas plataformas for possível, embora isso seja cada vez mais difícil devido às restrições da vida adulta. Eu não saberia dizer qual é o meu jogo favorito (é uma resposta que muda praticamente todo dia), mas a minha gata se chama Zelda. Então, vocês podem imaginar que tenho um fraco por uma certa série da Nintendo.

A ideia desse espaço não é ter um tema fixo e sim fomentar discussões sobre tópicos diversos que, por algum motivo, se mostrem relevantes para o crescimento dessa mídia que tanto amamos.

Claro, estamos no começo de julho, então ainda estamos naquele período de ressaca da E3. Ou, melhor dizendo: estaríamos, em um ano normal. Não é o menor exagero dizer que a E3 2021 – ao menos do ponto de vista do consumidor – foi a mais fraca e desorganizada da história do evento, podendo muito bem não ter existido sem que isso acarretasse em grandes prejuízos.

la Microsoft 

Em 2013, a Nintendo decidiu abandonar as tradicionais conferências da E3 em prol das suas Nintendo Directs e grande parte do público ficou em estado de choque. Mesmo que, por vezes, a conferência fosse terrível do ponto de vista de novidades, o público ainda encontrava maneiras de transformar aquilo em entretenimento. Discussões acaloradas, memes, hype. Abandonar as conferências da E3 parecia ser o mesmo que abandonar tudo isso. Com o tempo, a aceitação do público foi crescendo e, ainda que muitos ainda sintam saudades das conferências, de modo geral o público está satisfeito com o formato.

Oito anos e uma pandemia depois, cá estamos, em uma época onde todas as produtoras (que participaram da E3) se viram obrigadas a fazer a transição para o formato digital e o resultado, bom, não foi exatamente agradável.

Obviamente, houve algumas novidades bacanas e uma ou outra companhia realmente se dedicou, porém, de forma geral, o que vimos foi: pessoas sem saber o que de fato iria acontecer até poucos dias antes de as transmissões começarem, poucos anúncios relevantes, vídeos mal produzidos e até mesmo autopromoção de executivos.

la Nintendo 

Sejamos sinceros: a Microsoft “ganhou” essa E3, como dizem, mas foi praticamente por WO. Embora ela de fato tenha mostrado muitos jogos com potencial e incrivelmente estar conseguindo melhorar ainda mais o Game Pass, não houve muita disputa por parte das outras companhias. A Ubisoft passou mais tempo falando do que mostrando e, quando mostrou algo, parecia apenas uma cópia carbono daquilo que vemos deles há muitos anos. A Square Enix deu a impressão de estar mais focada em tirar dinheiro de propriedades da Marvel do que em cultivar as próprias (Final Fantasy XVI foi jogado para escanteio) e a Capcom falou apenas de jogos dos quais estamos carecas de saber.

Teve ainda a Devolver fazendo as bizarrices usuais deles. No mais, além da Microsoft, a única transmissão digna da nota foi a da Nintendo, que, embora com valores de produção menores, fez uma apresentação correta, com algumas surpresas interessantes (ver Metroid Dread anunciado oficialmente foi um choque). Houve outras transmissões, claro, mas essas foram basicamente inconsequentes – lembrando que o Summer Game Fest tecnicamente não faz parte da E3.

Então, resumindo: tivemos duas empresas que se dedicaram para produzir algo no nível que os consumidores estavam esperando (ou próximo disso) e o restante jogou a toalha. Não é razoável supor que houve algum tipo de boicote, então, fica a pergunta: o que aconteceu?

la Capcom 

Primeiramente, vamos considerar o óbvio. Mesmo sem a necessidade de construir os gigantescos estandes de anos anteriores, organizar um evento como a E3 ainda requer muito trabalho. Afinal, não se trata de simplesmente colocar alguém falando durante meia hora ou uma hora e passar alguns vídeos de fundo: produzir tais vídeos demora tempo considerável e, antes disso, milhares de desenvolvedores precisam trabalhar exaustivamente para criar os produtos que estão sendo mostrados. Depois disso, é preciso organizar essas transmissões e comunicar ao público o que e quando vai acontecer. Tudo no meio de uma pandemia.

Os efeitos da pandemia na indústria de jogos eletrônicos, entretanto, não se limitam a dificultar o trabalho de desenvolvedores ou a forçar a transição de eventos presenciais para digitais. Vimos, por exemplo, que as grandes produtoras têm preferido fazer seus eventos próprios, repaginar eventos antigos ou colaborar para que as novidades sejam espalhadas ao longo do ano. Vamos analisar algumas evidências disso.

Imagem de divulgação da PlayStation Experience 2017.Imagem de divulgação da PlayStation Experience 2017.Fonte:  Sony 

Todos perceberam que a Sony não participou da E3 2021, mas não foi só isso: durante o evento, a marca “PSX” foi registrada. É bem provável, dado o conteúdo do registro, que vejamos um retorno da PlayStation Experience, cuja edição mais recente foi em 2017. Além disso, em 2021, a EA preferiu separar a sua transmissão própria, a EA Play Live, da E3. A Nintendo, após um hiato, segue com as suas Directs e Microsoft, apesar de ainda estar presente com força na E3, tem feito transmissões próprias e colaborado com outros eventos, como o Video Game Awards – até mesmo reservando anúncios de consoles para tais ocasiões. Falando nos VGAs, as produções de Geoff Keighley têm ganhado cada vez mais espectadores e, consequentemente, concentram cada vez mais anúncios.

la The Game Awards 

Essa proliferação de eventos aliada à E3 mais fraca que já vimos naturalmente nos traz à seguinte pergunta: estaria a E3 com os dias contados? Por mais frustrante que seja esta resposta, é fato: só o tempo dirá. Então, façamos uma pergunta mais fácil: estaríamos perdendo muito sem a E3? Possivelmente, menos do que parece.

Sim: nada conseguiria substituir o espaço que a E3 ocupa na história dos jogos eletrônicos. O mais importante, porém, é que o consumidor esteja bem informado e principalmente empolgado com o futuro da mídia — e não faltam motivos para empolgação. Da democratização do desenvolvimento de jogos aos incríveis avanços de hardware, temos tudo para estar entrando numa era de ouro para os jogos eletrônicos. Com E3 ou sem E3, isso vai acontecer.  Então, vamos aproveitar a viagem.

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