É seguro afirmar que o K/DA é a maior sensação da música pop nos últimos anos. All Out, seu primeiro EP lançado nesta sexta-feira (6) é um dos mais antecipados e esperados do ano, e o mais surpreendente é que o grupo em si… “não existe”.
Isso porque o K/DA é composto por artistas virtuais, na verdade quatro campeãs (cinco, contando com a “artista convidada” Seraphine) do jogo League of Legends, reimaginadas pela Riot Games como popstars.
A iniciativa, além de render uma boa grana com skins premium no jogo, visa também cravar os dois pés na indústria da música, a exemplo de outro grupo parcialmente fictício e mais famoso.
Experimento bem sucedido
O K/DA foi lançado em 2018, como um experimento da Riot Games bastante calculado para atingir um público além dos jogadores de League of Legends. Embora esta não seja sua primeira experiência musical de sucesso (mais a seguir), a desenvolvedora decidiu surfar na onda de popularidade do k-pop, que vinha ganhando cada vez mais tração no ocidente.
Assim, a Riot reuniu Ahri, Akali, Evelynn e Kai’Sa, quatro de suas campeãs mais populares, deu a elas novas aparências (porque dinheiro extra com skins é sempre bom) e lançou o clipe/single POP/STARS, que foi um estouro.
Na música, as campeãs receberam as vozes de duas cantoras americanas, Madison Beer (Evellyn) e Jaira Burns (Kai’Sa), e de duas integrantes do grupo de k-pop sul-coreano (G)I-DLE, Miyeon (Ahri) e Soyeon (Akali). A CGi foi um trabalho dos animadores da Riot e do estúdio francês Fortiche Production, que já produziu peças publicitárias para Coca-Cola, Honda, Samsung e MTV, entre outros.
Como resultado, POP/STARS chegou ao primeiro lugar do ranking global de singles digitais da Billboard em 2018, sendo o 4º grupo de k-pop feminino a chegar ao topo da lista, e o 5º em geral composto apenas por mulheres.
Logo, por que parar por aí?
K/DA saindo do nicho
Em 2020, a Riot decidiu apostar um pouco mais alto com o K/DA. A campanha de divulgação usou inclusive a interação do público ao promover uma “fã” do grupo, na verdade a nova campeã Seraphine, que interagia com seguidores no Twitter como uma pessoa normal, enquanto demonstrava seus dotes artísticos.
A forma como a desenvolvedora abordou a personagem não foi das melhores, mas a “brincadeira” levou ao convite para que a fã virtual colaborasse com o K/DA em uma nova faixa.
O primeiro single The Baddest, lançado em agosto de 2020, reacendeu o hype em torno do grupo virtual e preparou o terreno para o lançamento do EP All Out, puxado pelo segundo single More, este o segundo clipe do K/DA em CGi, desta vez produzido pela Axis Studios, velha parceira da Riot que também trabalhou em Gears 5, bem como na série da HBO Chernobyl.
A nova faixa trouxe a participação de Seraphine, na voz da cantora chinesa Lexie Liu.
Como resultado, More abocanhou o segundo lugar do chart digital da Billboard, ironicamente ficando atrás do TWICE, outro grupo feminino de k-pop. De qualquer forma, All Out, disponível nas principais plataformas de streaming, faz experimentos com outros ritmos, como drum ‘n bass, para atrair um público menos de nicho e mais globalizado.
A ideia é justamente conquistar mais fãs consumidores fora de seu MOBA, um gênero de jogo que embora popular, não é uma unanimidade, seguindo o exemplo de outra banda virtual na estrada a mais tempo, o Gorillaz.
Um tanque, um borrão e uma ideia maluca
Fundado oficialmente em 1998, o Gorillaz é um projeto saído das cabeças de Damon Albarn, vocalista da banda de britpop Blur, e do quadrinista Jamie Hewlett, conhecido pela excelente e caótica HQ Tank Girl. Diz Albarn que a ideia veio depois de ver a MTV, e concluírem que um grupo pode ter consistência mesmo sem uma identidade visual real.
Com 7 álbuns de estúdio, de Gorillaz (2001) ao projeto multimídia Song Machine, Season One: Strange Timez (2020), o grupo já contou com participações de músicos dos mais diversos, de Tina Weymouth (Talking Heads) e Ibrahim Ferrer (Buena Vista Social Club) a Mick Jones (ex-The Clash), Mos Def e Robert Smith (The Cure), entre muitos outros.
Com mais de 20 milhões de álbuns vendidos em quase 20 anos de estrada, o Gorillaz é citado no Guinness Book como “a banda virtual de maior sucesso no mundo”, e é esse nível de reconhecimento e prestígio que a Riot quer não apenas alcançar, mas superar.
O engajamento do público nas redes sociais, com os perfis oficiais compartilhando as peripécias das campeãs pelo mundo afora (Rio de Janeiro incluso, duas vezes) faz parte da estratégia, que está rendendo frutos, mas há de se levar em conta que o Gorillaz não tinha uma presença consistente no YouTube, até bem recentemente.
Seu videoclipe mais visto, Feel Good Inc. (primeiro single de Demon Days, de 2005) foi publicado em 2016, e conta com 439,8 milhões de visualizações na data de publicação deste artigo. O segundo é Clint Eastwood, com 388,6 milhões, tendo chegado ao YouTube no mesmo ano.
Já o K/DA precisou de apenas dois anos para cravar 392,3 milhões de visualizações com POP/STARS, enquanto More atingiu a marca de 31,9 milhões em menos de duas semanas.
Claro que um grupo pop de dois anos de carreira não é a mesma coisa que um projeto de quase duas décadas, tocado por gente com ainda mais experiência no cenário musical, mas não dá para ignorar os números alcançados pela Riot.
A título de curiosidade, o clipe mais recente do Gorillaz, The Valley of the Pagans, que conta com participação do cantor e compositor Beck, se passa em Vinewood, a cidade fictícia de Grand Theft Auto inspirada em Hollywood.
Por outro lado, se há uma coisa em que a Riot Games precisa melhorar, é nas apresentações ao vivo. Enquanto o Gorillaz dominou o formato mesclando performances tradicionais e projeções em tela, os shows do K/DA até o momento foram menos do que ideais, com uso de Realidade Aumentada resultando em modelos em CGi estranhos.
Algo que a Yamaha, com sua idol virtual Hatsune Miku já fazia melhor uma década atrás.
Antes do K/DA, o Pentakill
Como mencionei antes, o K/DA não foi o primeiro experimento musical da Riot Games. Em 2014, a desenvolvedora lançou a banda de metal fictícia Pentakill, formada pelos campeões Karthus, Mordekaiser, Sona, Yorick e Olaf.
O projeto nasceu como uma homenagem dos funcionários do estúdio ao heavy metal, gênero preferido da maioria da equipe, e contou com os vocais de Jørn Lande (Ark, Vagabond) como Karthus. O 1º EP Smite and Ignite, lançado em 2014 fez bastante sucesso, ficando no topo do Top 40 da Billboard.
Em 2017, um ano antes da estreia do K/DA, o Pentakill voltou com seu segundo EP, Grasp of the Undying, com a campeã Kayle como segunda vocalista, com a voz de Noora Louhimo, da banda finlandesa de power metal Battle Beast.
Este álbum contou com participações de músicos como Tommy Lee (Mötley Crüe), ZP Theart (ex-Dragonforce), Derek Sherinian (ex-Dream Theater) e Danny “Renholdër” Lohner (Nine Inch Nails), entre outros.
O clipe de Mortal Reminder, por sua vez, foi um trabalho conjunto de animação da Riot, Electric Theatre Collective e Interference Pattern.
Ainda que heavy metal e suas variantes sejam um ritmo muito popular, especialmente entre gamers, a Riot quer se consolidar também no mercado musical, assim o K/DA está diversificando seus estilos dentro do pop em seu primeiro EP.
Resta saber se essa aposta renderá frutos, quando as listas de popularidade dos serviços de streaming começarem a se consolidar nos próximos dias e semanas. Por enquanto, a Riot está surfando no hype dos fãs de suas idols virtuais.
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