Assim como o Batman, os engenheiros da NASA sempre tinham um plano, mas alguns deles eram mais ousados que a média, se o objetivo fosse salvar o ônibus espacial de um perigo improvável mas possível.
O problema começa com o calor. Se você reparar, quase todas as imagens dos Ônibus Espaciais em órbita mostram os bichos com as portas do compartimento de carga aberto. Isso tem um motivo: Como sua garrafa térmica sabe, no vácuo é danado de difícil se livrar de excesso de calor, e com o Sol atingindo a nave sem dó, máquinas, circuitos e pessoas gerando calor, em pouco tempo estaria tudo fervendo.
Por isso as portas servem como radiadores, jogando o excesso de calor para o espaço.
Claro, essas portas são um problema quando você reentrar a atmosfera a 28 mil quilômetros por hora, elas precisam ser muito, muito bem fechadas e travadas, e aqui começa a história contada por Wayne Hale, ex-diretor de missão da NASA.
As portas eram fechadas e abertas por motores elétricos, pinos e travas e dobradiças garantiam um fechamento seguro, mas como nada é perfeito, poderia acontecer alguma alteração, mas não tema com a NASA não há problema. Um kit de ferramentas projetado especialmente pra isso era embarcado em cada missão, e os astronautas sabiam exatamente o que fazer.
Ele sairia da cabine pela câmara de descompressão, entraria no compartimento de carga e usando travas manuais prenderia firmemente as portas fechadas, voltaria para a cabine e o ônibus espacial poderia reentrar normalmente.
“Ah mas e se houver uma carga grande no compartimento de carga, e não der pro astronauta passar por ela?”
Isso realmente é um problema, mas a NASA pensou nessa situação. Caso algum satélite ou módulo de carga estiver atrapalhando, ele seria ejetado no espaço, e o resto do procedimento é igual.
Entra em cena o Spacelab, uma contribuição da Agência Espacial Européia, um módulo altamente versátil, existindo em um monte de configurações, levando todo tipo de carga científica. Ele era preso à escotilha interna do ônibus espacial, e tinha uma escotilha externa própria, no alto:
Nesta imagem dá pra ver bem a configuração, usando o Space Hab, uma versão do Space Lab:
Temos um túnel da cabine até o Space Hab, quase no centro do compartimento de carga; uma segunda escotilha na parte de cima, próxima à cabine. Em caso de problemas o astronauta sairia, travaria as portas manualmente e… não voltaria.
Com as portas fechadas não há espaço para ele se esgueirar pela escotilha vertical, e se o problema fosse nas travas na traseira da espaçonave…
Note que a circunferência do Space Hab não deixa espaço nenhum pro astronauta passar com as portas fechadas. E pra piorar tanto ele quanto o Spacelab original eram firmemente ancorados à estrutura do ônibus espacial, não dava pra ejetar no espaço.
Qual a solução? Bem, a NASA pensou nisso também.
Em caso de problema sério com as portas em uma missão com o Spacelab, o procedimento seria o astronauta responsável fazer uma caminhada espacial, travar as portas manualmente, se dirigir a um ponto de ancoragem e se prender firmemente ao compartimento de carga.
Com as portas fechadas o ônibus espacial precisa retornar em no máximo uma hora e meia, ou começaria a sofrer com o excesso de calor. O traje espacial dá suporte a muito mais tempo do que isso, mas seu sistema de resfriamento não funciona em ambiente com gravidade.
O astronauta teria que acionar a refrigeração no máximo, e aguentar quando ela parasse de funcionar.
Depois de uma montanha russa bem interessante, ele conseguiria tirar seu capacete, provavelmente removeria o resto do traje, mas teria um último problema: As portas do compartimento de carga são pesadas demais pros motores as abrirem em terra. Ele ficaria preso por algumas horas enquanto os engenheiros decidem a melhor forma de tirar o cara de lá.
Felizmente isso nunca foi necessário, e nenhum astronauta teve que se sentir rejeitado a esse ponto.
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