Como uma ameaça de Steve Jobs deu ideias a Jeff Bezos

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Jeff Bezos, o atual CEO da Amazon está de saída do cargo, com um patrimônio avaliado em mais de US$ 200 bilhões, tendo consolidado o domínio de sua empresa no mercado de bens e serviços. Ela passou por altos e baixos, incluindo o estouro da bolha da internet no início dos anos 2000, e para variar foi alvo de inúmeros concorrentes, que a acusaram (com razão) de jogar sujo para vencer pequenas livrarias e lojas de departamentos.

Por outro lado, um de seus primeiros aliados foi Steve Jobs, que mesmo assim armou para apunhalar Bezos pelas costas, visando destruir uma parte significativa do negócio da Amazon, o mercado de CDs. Ao invés disso, o finado CEO da Apple acabou por dar novas ideias a Bezos.

Jeff Bezos, co-fundador e (por enquanto) CEO da Amazon (Crédito: Saul Loeb/AFP/Getty Images)

Jeff Bezos, co-fundador e (por enquanto) CEO da Amazon (Crédito: Saul Loeb/AFP/Getty Images)

A curiosa passagem envolvendo ambos CEOs é relatada no recente livro

A história em questão relata um encontro em que Carr, Bezos e Diego Piacentini, na época um ex-VP da Apple que havia migrado para a Amazon, saindo de Seattle para Cupertino de modo a se reunirem com Jobs. A relação da Apple com a Amazon até então era amigável, até mesmo simbiótica, graças à um acordo estabelecido em 1999.

Na época, a Apple foi uma das primeiras companhias a adotar o então revolucionário sistema de pagamento com apenas um clique da Amazon (a empresa é dona da marca “1-Click”), que armazena informações financeiras dos usuários online para habilitar uma nova compra com apenas um clique de um botão, sem ter que informar novamente dados como número de cartão de crédito, código de segurança e etc.

Jobs gostou tanto do método que não teve dúvidas: ele ligou para Bezos e o licenciou para uso pela Apple, por US$ 1 milhão. O relacionamento dos dois começou ali e era estritamente comercial como de praxe, mas até então, a maçã não concorria diretamente com a Amazon em absolutamente nada. De fato, a lojinha do Bezos vendia Macs.

Só que as coisas começaram a mudar em 2001, por causa deste carinha aqui:

iPod de 1ª geração (Crédito: Divulgação/Apple)

iPod de 1ª geração (Crédito: Divulgação/Apple)

Segundo Tony Fadell, o processo de criação do iPod original se deu em nove meses, entre a primeira ligação em janeiro de 2001 e sua apresentação no evento musical da Apple, em outubro do mesmo ano. Claro que a primeira geração só funcionava em Macs, mas isso estava para mudar.

No encontro, ocorrido pouco tempo depois da Apple introduzir a iTunes Store para Macs e iPod, em abril de 2003, Jobs encaminhou Bezos e os demais executivos a uma sala, com duas prateleiras de sushi e um PC. Não um Mac, mas um computador rodando Windows. A conversa girou em torno dos caminhos que a indústria da música estava trilhando, e Jobs apresentou sua visão de como as coisas seriam dali para a frente.

Isso porque o PC em questão estava rodando uma versão preliminar da iTunes Store para Windows, que viria a ser lançada em outubro de 2003. Com o software, o Jardim Murado que restringia a sincronização dos iPods apenas com os Macs chegaria ao fim. Pode parecer estranho ouvir isso hoje, mas na época, as ambições de Jobs eram claras: dominar o mercado de distribuição de música, e para isso ele dependia do Windows, líder do market share em desktops.

Ao permitir que os iPods passassem a conversar com PCs, Jobs apostou acertadamente que a venda dos acessórios explodiria exponencialmente, e como consequência, ninguém mais iria querer saber de comprar CDs, este um dos produtos principais que a Amazon vendia. Basicamente, o CEO da Apple convidou o “parceiro” para demonstrar como e quando seu negócio sofreria um golpe gigantesco.

Segundo o livro, Jobs teria dito que o iTunes para Windows era a primeira tentativa da Apple em desenvolver um programa para o sistema operacional da Microsoft, e mesmo assim, o executivo se gabou de que ele era “o melhor jamais desenvolvido para o SO”, como era de costume.

E teria completado, dizendo o seguinte a Bezos:

“A Amazon é provavelmente o último grande lugar onde é possível comprar CDs (…). Seu negócio terá uma margem alta, mas será de pequena escala. Você poderá cobrar um preço alto por eles, já que eles se tornarão difíceis de encontrar”.

Na época, a Amazon vendia CDs a rodo, pois eram fáceis de despachar pelos correios. Na mente de Jobs, no entanto, ninguém mais iria querer comprá-los, graças às facilidades da distribuição digital. O consumidor não precisava mais adquirir um álbum completo por causa de uma ou duas músicas, e era capaz de levar centenas delas para onde quisesse.

Ao anunciar oficialmente a iTunes Store para Windows, Jobs a definiu como “oferecer um copo de água gelada para quem está no inferno”, mas ele precisava desses consumidores para assegurar o domínio da Apple no mercado musical, através do iPod.

O market share do Mac nunca permitiria tal coisa, a telefonia móvel para viabilizar o streaming só se tornaria acessível de verdade muito tempo depois disso, e de qualquer forma, o Apple Music chegaria bem tarde na festa.

De certa forma, a demonstração de Jobs foi um recado velado a Bezos: “nós vamos destruir uma parte significativa do seu negócio, e não há nada que você possa fazer quanto a isso”. A Amazon era meramente uma loja de departamentos online, e perder as vendas de CDs, que de fato despencaram com o passar do tempo, seria um baque e tanto.

Muito provavelmente, a intenção real de Jobs visava forçar uma reação impulsiva de Bezos, que resultasse em decisões questionáveis e a longo prazo, uma depreciação de sua nova concorrente, abrindo caminho para uma possível expansão da Apple em mais setores. Vale lembrar que o iPad já estava no forno (o iPhone derivou dele) e se focaria na distribuição digital de livros, este negócio sim, a espinha dorsal da Amazon.

No entanto, Bezos não reagiu, permanecendo completamente calmo na ocasião. O encontro entre os dois prosseguiu sem nenhum outro tipo de provocação. No livro, os autores especulam que conhecendo a pessoa que é o CEO da Amazon, a bravata de Jobs acabou por dar ideias ao executivo, abrindo-lhe os olhos para a perspectiva de que a distribuição física de conteúdo não teria como concorrer com a digital, ao menos, não nos mesmos termos.

A Amazon era essencialmente uma livraria online, embora já vendesse de tudo. Seu nome era sinônimo de literatura acessível, barata (considerando suas práticas comerciais) e de entrega rápida, logo, por que não dar o primeiro passo no mercado de livros digitais, antes que a Apple o fizesse?

Quatro anos depois, em 2007, a Amazon lançou o primeiro modelo do Kindle, seu próprio leitor de e-books com tela e-ink, ligado diretamente à loja digital, permitindo que seus donos comprassem novas publicações com, claro, apenas um clique.

Kindle de 1ª geração, ainda com teclado físico (Crédito: Divulgação/Amazon)

Kindle de 1ª geração, ainda com teclado físico (Crédito: Divulgação/Amazon)

A partir dali, a Amazon começou a investir pesado em nuvem, com o AWS, que hoje hospeda uma quantidade gigantes de sites e serviços e lançou produtos de distribuição digital de música (Amazon Music), filmes e séries (Amazon Prime Video), além de adquir o Twitch, uma plataforma de streaming de games, diversificando assim seu negócio e se tornando um conglomerado multimídia.

A Amazon é uma das gigantes tech dos Estados Unidos, está na mira do Congresso por práticas nada competitivas, e acumula denúncias e processos de abuso por parte de funcionários e colaboradores, algumas bem escabrosas. Ainda assim, ela atingiu esse tamanho principalmente porque Jeff Bezos não é impulsivo, algo que Steve Jobs não previu, e capaz de se adaptar, ao perceber que ele não iria a lugar nenhum sendo apenas uma livraria na internet.

No fim das contas, a provocação acabou saindo pela culatra.

Fonte: 9to5Mac



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