*Este texto foi escrito por uma colunista do TecMundo; saiba mais no final.
“E o prêmio Nobel cientifico masculino de 2021 vai para:”
Mais um ano se passa e maior o Gap de gênero do prêmio Nobel se torna. Não é de hoje que se evidência a disparidade das premiações, mas estamos em 2021 e seguimos com o mesmo problema.
Comparação de premiações de prêmios Nobel de acordo com o gênero.Fonte: Statista
O problema começa na nomeação: menos de 10% das nomeações desse ano para física e química foram mulheres. Agora, por que mulheres são menos nomeadas e, consequentemente, menos premiadas? Existem algumas explicações.
Menor presença de mulheres nos campos
Falta de interesse natural ou sabotagem sistemática?
Você sabia que no campo da astronomia mulheres não eram permitidas em instalações como telescópios? Não tem como fazer uma grande descoberta sem acesso aos dados.
Vera Rubin (1928-2016), responsável por evidências concretas da existência de matéria escura, não era permitida no Observatório Palomar. Uma grande advogada pelos direitos femininos, ela não permitiu que isso a impedisse. Evitando um conflito direto, o Observatório alegava que mulheres não poderiam observar porque não existiam banheiros femininos nas instalações. Uma amiga próxima da Dra. Rubin relatou o momento em que ela desenhou um símbolo feminino o e colou na porta de um dos banheiros e disse a famosa frase: “Look, now you have a ladies room” (olha, agora vocês têm um banheiro feminino).
Até o presente momento, a presença de mulheres em montanhas liderando observações é menor que de homens. Estudos demonstram que comitês de seleção de proposta de observação são enviesadas para homens. Procurando resolver dado problema, o comitê de seleção para o tempo de observação do Telescópio Hubble decidiu fazer um rankeamento anônimo. O resultado em 2018 foi mais equilibrado por gênero e pela primeira vez mais mulheres receberam o tempo requisitado.
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Dra. Rubin nunca recebeu reconhecimento pelo seu trabalho, sendo que a matéria escura é uma das bases da cosmologia atual. Ela morreu em 2016, antes de qualquer premiação ser concedida. Mas ela não foi a única.
Créditos roubados.
Não foi o caso da Dr. Rubin, mas muitas outras mulheres não receberam os reconhecimentos pelos seus trabalhos, e por motivos piores: os créditos foram dados às pessoas erradas.
Alguns casos são amplamente conhecidos pela comunidade científica, mas o silêncio do comitê do prêmio Nobel é ensurdecedor.
Vamos lembrar alguns nomes aqui:
Lise Meitner e a descoberta experimental e teórica da Fissão Nuclear
A descoberta de Fissão Nuclear recebeu o Nobel de 1944. Mas a autora principal da descoberta, Lise Meitner, não. Sendo ignorada pelo comitê do Nobel, nunca teve seu reconhecimento creditado.
Lise MeitnerFonte: Wikipedia
Jocelyn Bell Burnell e a descoberta de Pulsares
A descoberta de Pulsares recebeu o prêmio Nobel de Física de 1974. A responsável pela descoberta foi a incrível astrônoma Jocelyn Bell Burnell, durante sua pesquisa de doutorado nos anos 60. Quem recebeu o prêmio foi seu orientador.
Rosalind Franklin e a descoberta do DNA
O trabalho de Rosalind Franklin foi fundamental para a descoberta do DNA. Ela com estudantes foram responsáveis pelos dados usando a técnica de difração de raio-x que levou a descoberta. Depois de muitos protestos dentro da comunidade, foi concordado que ela merecia receber o reconhecimento também. Infelizmente ela já havia falecido, sem nunca ver suas incríveis contribuições para a ciência sendo notadas.
Rosalind FranklinFonte: Wikipedia
Esses são apenas os casos mais conhecidos. Quantas mulheres mais não tiveram suas vozes silenciadas? A menor presença de mulheres nos campos, a invisibilidade de seus trabalhos, seus créditos roubados por homens. Tudo isso somado ao fato de que meninas são desencorajadas a seguir carreiras científicas, mesmo sendo tão capazes quanto meninos. Por fim, com um comitê machista, racista, anti-semita e enviesado, são os motivos reais de mulheres terem menos prêmios Nobels que homens.
Quem sai perdendo (além das mulheres)? A ciência e a humanidade. Estudos mostram que ao aumentarmos a diversidade social, melhoramos a eficiência! Isso se aplica tanto aos centros de pesquisas como empresas!
Quem se beneficia com uma premiação justa? A ciência, que se favorece da diversidade social. E as pessoas que merecem seu reconhecimento. Entendam, esse reconhecimento, apenas o maior reconhecimento cientifico da humanidade, vai para alguém. Melhor ir para as pessoas certas.
E como ficamos, com mais um ano que o Gap aumenta? Passou da hora do reconhecimento do trabalho de mulheres ser tão importante quanto de homens.
Camila de Sá Freitas, colunista do TecMundo, é bacharel e mestre em astronomia. Atualmente é doutoranda no Observatório Europeu do Sul (Alemanha). Autointulada Legista de Galáxias, investiga cenários evolutivos para galáxias e possíveis alterações na fabricação de estrelas. Está presente nas redes sociais como @astronomacamila.
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