Copa 2014: que partida gerou o maior fluxo de dados?

Há algumas semanas, mais especificamente em 26 de junho, eu publiquei aqui mesmo a coluna “ Copa, vazão de esgotos e fluxo de bytes ” na qual descrevi duas formas de aferir o interesse do público pelos jogos da Copa do Mundo, uma delas baseada na redução praticamente a zero das vazões nas galerias de esgotos durante a transmissão (radiofônica) da final da Copa de 1958 e outra baseada no fluxo de bytes na Internet durante a transmissão da Copa de 2014. Copa 2014: que partida gerou o maior fluxo de dados (Foto: Divulgação/Maracanã) A primeira foi haurida de minha própria experiência quando, ainda estudante de engenharia, trabalhei no processamento dos dados colhidos nos vários pontos de medição de vazão espalhados pela rede de esgotos sanitários do Rio de Janeiro. A segunda, baseada nos dados fornecidos pela Exceda, empresa especializada em segurança e desempenho de instituições que usam a Internet como ferramentas de negócios e representante no Brasil da Akamai, que mediu e publicou os fluxos de dados. Antes, porém, duas observações. A primeira tem a ver com a expressão “processamento dos dados” usada para descrever uma tarefa desempenhada em 1958, era do byte lascado, quando os computadores eletrônicos praticamente não existiam e os poucos que existiam ainda eram a válvulas (os transistores foram inventados justamente naquele ano). Quem estranhou o uso da expressão certamente acredita que dados somente podem ser processados pelos computadores eletrônicos. Ledo engano. Pode-se processar dados para deles gerar informações usando meios variados. No caso em tela, a computação foi feita manualmente, medindo ponto a ponto a ordenada da curva gerada pelo registrador de nível d’água nos locais de medição e, laboriosamente, convertendo-as no valor numérico da vazão obtida a cada instante. Meu trabalho consistia justamente nesta última tarefa. E como quem computava os dados era esse escrevinhador que vos fala, cabe a afirmação que, nessa tarefa em particular, o computador era eu. A segunda é sobre a Akamai, que forneceu os dados que serão adiante comentados. Já falei sobre ela na coluna citada acima, mas para quem não a leu, um pequeno resumo: trata-se da líder mundial em soluções para a Internet. Sua rede é constituída por mais de 150 mil servidores por onde transitam 30% do tráfego mundial da Internet. Ora, como dificilmente se encontrará amostra mais representativa do que a constituída por 30% do universo pesquisado, os números fornecidos pela Akamai sobre tráfego na Internet são extremamente precisos. E representam um tesouro para quem deseja estudar determinados fenômenos. Por exemplo: qual o esporte mais popular? Qual evento esportivo que mais interessa ao público? Em um torneio como a Copa do Mundo de Futebol, quais as partidas que mais despertaram interesse? Atualmente as redes mundiais de televisão usam a Internet para levar até os países onde os jogos são transmitidos pela rede de televisão, tanto aberta quando a cabo, o sinal gerado nos estádios (por falar nisso, porque essa moda besta, enfiada pela FIFA goela abaixo dos brasileiros e lepidamente adotada pelos trêfegos locutores e comentaristas esportivos, de chamar “estádio” de “arena”? Vamos combinar o seguinte: futebol de salão se joga em ginásios esportivos, futebol de campo em estádios. Em arenas joga-se futebol de areia, gladiadores se matam e feras são alimentadas com cristãos. E temos conversado. Para que inventar palavras ou lhes adulterar o sentido em uma língua tão rica?). Então, como os dados fluem pela Internet, medir a variação deste fluxo durante o período em que os jogos são transmitidos é um critério mais que razoável para aferir o interesse do público por eles. E é baseado nesta medida que a Akamai efetua suas avaliações. Figura 1: fluxo de dados durante todo o período da Copa (Reprodução/Internet) Um desses gráficos, que mostrava a variação do fluxo de dados durante as primeiras duas semanas da Copa, foi mostrado na coluna citada acima. Agora, terminada a Copa, pode-se ter um panorama completo do evento, mostrado no diagrama da Figura 1, extraído da página dedicada à Copa 2014 do Sítio da Akamai. Que sugiro visitar, já que o gráfico acima exibido é estático, enquanto o que consta da página da Akamai é interativo, permitindo não apenas discriminar o fluxo por regiões (Américas do Norte, Sul, Europa, Ásia, África, Austrália e Global, este último exibido na Figura 1) como identificar os jogos realizados em cada dia simplesmente pousando o ponteiro do mause sobre os círculos brancos situados na base do gráfico. Além disso, na mesma página pode-se encontrar os jogos detalhados dia a dia. Por exemplo: a observação da Figura 1 leva à conclusão que o pico do fluxo de dados ocorreu no dia 26/06. Quais foram os jogos daquele dia e qual o valor do fluxo máximo? Figura 2: jogos do dia 26/06 (Reprodução/Akamai) A Figura 2 mostra que em 26/06 ocorreram quatro jogos, dois a dois simultaneamente. Infelizmente, quando dois jogos ocorrem ao mesmo tempo, é impossível identificar que fração do fluxo de dados é gerada por um ou por outro. Mas neste caso dois deles eram importantes porque decidiam a classificação para as quartas de final de equipes consideradas candidatas ao título, as partidas entre Portugal x Gana e EUA x Alemanha. O que justifica o pico: as duas juntas geraram um fluxo de 6,84 Tb/s, o segundo maior ocorrido em toda a Copa (um ponto curioso que eu já havia notado na coluna anterior: como se vê nas figuras, na parte da página correspondente aos jogos a Akamai registra tudo o que acha relevante – o que não inclui o resultado das partidas). Pois bem, a observação do fluxo de dados pela Internet distribuídos por região permite não somente fazer uma análise bastante precisa e detalhada sobre um determinado evento esportivo como também comparar o interesse do público por diferentes esportes e avaliar a evolução da funcionalidade da própria Internet, absorvendo funções antes executadas por outros meios. Por exemplo: até recentemente, o evento esportivo que havia provocado maior fluxo de dados através dos servidores da Akamai foi a disputa entre as equipes de hockey masculino dos EUA e Canadá nas semifinais das Olimpíadas de Inverno em fevereiro deste ano, com um fluxo total de 3,5 Tb/s. Já os valores obtidos em alguns jogos da Copa superaram o dobro desta marca. Curiosamente, o jogo de abertura entre Brasil e Croácia, precedido pela cerimônia de abertura, não atraiu muita atenção. O fluxo de dados gerados por sua transmissão não passou de 3,2 Tb/s. Se o dia 26/06, como vimos acima, registrou um pico elevado devido à ocorrência simultânea de dois jogos importantes, a partir daí começaram as oitavas de final, seguida das quartas de final, semifinal e final, com dois e, depois, apenas um jogo por dia. O que permitiu avaliar individualmente os jogos que provocaram maiores fluxos. E que jogos foram estes? Repare o gráfico. Percebe-se que aparecem três pontos altos, nos dias primeiro de julho, 10 e 13 de julho, curiosamente em ordem decrescente. Figura 3: jogos de 01/07 (Reprodução/Akamai) Em primeiro de julho ocorreram dois jogos que, embora não simultâneos, geraram fluxos que em alguns momentos se superpuseram, pois o gráfico claramente ultrapassa a linha dos 6 Tb/s. Um deles, Argentina x Suíça, gerou um fluxo de 4,75 TB/s. Mas foi o outro, Bélgica x EUA, o que, sozinho, gerou o terceiro maior fluxo dentre todos os jogos da copa: 5,68 Tb/s, uma façanha para uma quarta de final. Figura 4: Final da Copa de 2014 (Reprodução/Akamai) Em princípio seria de esperar que a partida final fosse a campeã em termos de fluxo de dados. Afinal, é ela que determina o vencedor da Copa. Mas não foi (e o mesmo ocorreu com o certame de hockey sobre o gelo das olimpíadas de inverno deste ano, como se viu alguns parágrafos acima). A final Alemanha x Argentina gerou um fluxo de 6,62 Tb/s, um número mais que respeitável, porém não o maior do evento. Figura 5: o maior fluxo de dados (Reprodução/Akamai) Curiosamente, a exemplo do ocorrido no certame de hockey sobre o gelo das olimpíadas de inverno deste ano, a partida que gerou maior fluxo de dados em todo o evento foi uma semifinal. No caso, o jogo Holanda x Argentina, com o impressionante pico de 6,87 Tb/s – maior mesmo que o fluxo produzido pelas duas partidas simultâneas responsável pelo pico do dia 26/06. Um valor que denota um interesse respeitável despertado por uma bela partida e aferido pela quantidade de bytes que movimentou através da Internet. Para que vocês vejam como a evolução tecnológica tem desdobramentos inesperados… B. Piropo saiba mais Leia todos os artigos de B. Piropo O Chrome e a duração da carga da bateria Copa, vazão de esgotos e fluxo de bytes  

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