Covid-19: vacina de tabaco contra a doença será testada no Brasil

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A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou que sejam realizados no Brasil ensaios clínicos de uma vacina contra a Covid-19 – a CoVLP – feita a partir do tabaco selvagem (Nicotiana benthamiana). O imunizante é desenvolvido pela biofarmacêutica canadense Medicago R&D Inc em parceria com a britânica GlaxoSmithKline (GSK).

Pesquisador trabalhando em imunizante à base de planta.Pesquisador trabalhando em imunizante à base de planta.Fonte:  Medicago/Divulgação. 

A vacina está com fases 1 e 2 em andamento no Canadá e nos Estados Unidos. O Brasil participará da fase 3, com 3,5 mil pessoas. Ao todo, a última fase do estudo contará com 30 mil voluntários em países da América e da Europa. O imunizante já apresentou resultados promissores em um estudo clínico de fase 1 publicado no dia 18 de maio na revista científica Nature Medicine: provocou uma resposta imune robusta no teste feito com 180 voluntários.

A fase 3 do estudo irá avaliar a segurança, eficácia e imunogenicidade da vacina em adultos com 18 anos ou mais, através de um ensaio randomizado, cego e controlado por placebo. Se os resultados positivos se confirmarem, a vacina poderá se unir aos demais esforços internacionais de imunização para o combate da pandemia. Após aprovada, a vacina deve ser aplicada em duas doses, com um intervalo de 21 dias.

Vacina à base de planta

Segundo explicou à revista Época a biotecnóloga Larissa Brussa, doutora em genética e biologia molecular e membro da Rede Análise Covid-19, a tecnologia da nova vacina usa a planta Nicotiana benthamiana – hospedeiro experimental mais utilizado em virologia de plantas, devido ao grande número de vírus que podem infectá-la com sucesso.

A vacina também utiliza a bactéria Agrobacterium Tumefaciens, que atua como vetor viral. É ela quem insere a sequência de fragmentos de DNA do vírus SARS-Cov-2 no meio, levando as informações para produzir a proteína S (Spike) em uma célula hospedeira (no caso, a célula da planta). Depois, as plantas são submersas em uma solução contendo o vetor. Esse vetor entra nas células das folhas – em aplicação à vácuo – e passa a se integrar ao seu material genético.

As plantas então atuam por seis dias como fábrica, produzindo VLPs – nanoestruturas que imitam o vírus, mas sem conter seu genoma. Depois, as plantas são colhidas para a extração das VLPs e o material para a produção da vacina é isolado. Por último, as VLPs são purificadas e se obtém o material necessário para a produção do imunizante. “As plantas não são geneticamente modificadas. Os processos celulares naturais das plantas produzem as VLPs”, salientou a pesquisadora.

Vacina precisa de adjuvante

Durante os testes de fase 1 em um grupo de 180 voluntários com idades entre 18 e 55 anos, a segunda dose foi aplicada sozinha ou com um adjuvante (AS03 ou CpG1018), escolhidos de forma aleatória para avaliar qual deles traria um resultado melhor.

“O adjuvante é uma molécula que vai estimular o sistema imunológico a atuar de forma mais potente no local da vacinação. Ele vai amplificar a resposta imune do paciente”, explicou a biomédica Mellanie Fontes-Dutra, doutora em neurociência e uma das divulgadoras científicas da Rede Análise Covid-19, também em entrevista à Época.

Os pesquisadores perceberem que sem o uso do coadjuvante, a vacina CoVLP produziu uma resposta imune modesta. Avaliando os dados dos pacientes que receberam o imunizante com um dos adjuvantes, a resposta foi significativamente maior. “Os participantes que receberam a CoVLP com o AS03 produziram anticorpos neutralizantes em nível 10 vezes maior do que aqueles observados em pacientes em recuperação da covid-19”, afirmaram os pesquisadores.

Baixo custo

Um dos diferenciais da CoVLP, segundo Fontes-Dutra, é a nova tecnologia empregada na vacina que, em tese, tem custo inferior às opções existentes no mercado. “É algo muito promissor porque é mais rápido, mais versátil e facilita a produção global em larga escala num curto espaço de tempo”, afirmou a biomédica.

A Medicago faz pesquisas com plantas como biorreatores desde 2014. Eles já utilizaram a Nicotiana benthamiana na produção de uma vacina da gripe comum – com o vírus influenza.

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