Cuidado com o Grêmio

Esta semana, terça-feira 17 e quarta-feira 18 de março, realizou-se a décima nona edição do SAP Fórum 2015 nas instalações do Transamérica Expo Center, na cidade de São Paulo. Um evento que reuniu mais de doze mil visitantes que participaram de um Fórum que discutiu com especialistas da SAP e seus parceiros soluções para 25 segmentos de mercado em mais de setecentas sessões que ocorreram paralelamente em 42 espaços de conteúdo, além de um amplo salão de exposições onde se podia observar como é enorme a diversidade de empresas atendidas pelos aplicativos SAP. Um evento imperdível para quem é da área de TI, particularmente do segmento corporativo. Veja todas as colunas do B. Piropo Em um evento deste tipo há de tudo. Mas a maioria do que há, por mais interessante que seja, está voltada para o segmento corporativo. E eu sei que a maior parte dos meus preclaros leitores estão mais ligados ao segmento dos computadores pessoais. Então eu vou deixar a cobertura dos assuntos corporativos do SAP Fórum 2015 para meus colegas do TechTudo e abordar um tema que interessa a todos, sejam ou não ligados ao segmento corporativo: como usar a tecnologia para melhorar o desempenho de um time de futebol. Acha bobagem? Que “futebol se ganha é no campo”, que “o que importa é que são onze contra onze” e coisas que tais? Pode ser. Mas provavelmente o comandante supremo das tropas, digo, do time brasileiro na última Copa do Mundo, Luiz Felipe Scolari, não pensa assim. Do contrário como explicar sua visita ao SAP Labs Latin America, o laboratório de pesquisas da SAP em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul (um dos dezenove laboratórios da SAP espalhados pelo mundo e o único na América Latina) para obter mais informações sobre o SAP Match Insights, o software da SAP usado, entre outros clientes, pela seleção alemã atual campeã do mundo, aquela dos sete a um, lembra? Sim, porque o SAP Labs Latin America abriga boa parte da equipe de especialistas que desenvolve e aperfeiçoa o SAP Match Insights. Veja parte desta equipe juntamente com Luiz Felipe Scolari durante a visita ao SAP Labs em foto obtida no sítio da SAP, no artigo acima citado. Luiz Felipe Scolari e desenvolvedores em visita ao SAP Labs (Reprodução/SAP) Pois é. E a visita há de ter sido profícua, pois atualmente o Grêmio de Futebol Portalegrense passou a usar justamente este software para ajudar a melhorar o desempenho da equipe. E quem é o atual treinador do Grêmio? Ora, Luiz Felipe Scolari. Mas como é possível que um software melhore o desempenho de uma equipe de futebol? Bem, vamos tentar explicar resumidamente com base principalmente no que ouvi na palestra “Revolucionando o Futebol Brasileiro com SAP HANA, SAP Fiori e Analytics – Grêmio Futebol Porto Alegrense” proferida no SAP Fórum 2015 por Daniel Duarte, Felipe Martins (ambos do SAP Labs Latin America) e Antonio Dutra (do Grêmio) e de alguns dados que obtive entrevistando Daniel. Segundo eles, uma partida de futebol pode ser “destrinchada” e descrita como uma sucessão de acontecimentos formados por cadeias de fundamentos do esporte. Por exemplo: aos quinze minutos do primeiro tempo o goleiro A, de dentro da pequena área, lançou a bola com a mão para o jogador B que a recebeu próximo à lateral direita, caminhou com ela até junto à linha divisória, livrou-se de dois adversários, correu com pelota cerca de trinta metros em direção á linha de fundo do adversário, a lançou para o jogador C no lado oposto do campo, que imediatamente executou um passe de cabeça para o jogador D que a recebeu na meia lua da área, correu para a direita paralelamente à linha de fundo e, já próximo ao bico da grande área, desferiu um chute a gol. A bola se perdeu pela linha de fundo passando a cerca de um metro da trave oposta. E assim por diante. Esta descrição da partida pode ser transformada em um relatório mais ou menos padronizado feito por observadores especializados que tanto podem fazê-lo baseado na observação presencial – ou seja, assistindo à partida diretamente – ou revendo um vídeo do jogo (há uma filmadora panorâmica especialmente concebida para este fim). No final, é possível reduzir tudo aquilo a uma enorme relação de fundamentos, como número de passes certos e de passes perdidos, de faltas, de tiros de canto, de chutes a gol aproveitados, perdidos, e assim por diante, tudo isto relativo a cada um dos atletas que participaram da partida. E convertido em índices percentuais que quantificam a objetividade da equipe e de seus jogadores.  Alguns desses fundamentos são mais importantes, outros menos. Mas sempre se pode considerar alguns – que podem variar de equipe para equipe e de jogador para jogador – como indicadores chave de desempenho, “ Key Performance Indicators ” ou, mais simplesmente, KPI. Um especialista no assunto (acredite, eles existem) pode efetuar uma análise da síntese da partida e criar diagramas de jogadas que quase chegam a estabelecer um padrão. E este padrão pode ser atribuído à equipe ou aos jogadores. E, baseado nestes padrões, um bom treinador pode estabelecer estratégias para enfrentar este ou aquele adversário. Sim, porque as partidas dos adversários também são observadas. Mas veja lá: não vá pensar que o Grêmio, que acabou de adquirir este software da SAP (já voltamos a isso) espalhe espiões por todos os estádios onde se disputam jogos oficiais para anotar o esquema de jogo das partidas. De jeito nenhum. Mesmo porque ele não precisa. Isto porque, em 2013, o Perform Group, uma empresa dedicada a gerenciar bancos de dados sobre estatísticas esportivas, comprou a empresa Opta, formando assim o grupo Opta Perform. Uma aquisição que deve ter sido importante, pois o Perform Group desembolsou quarenta milhões de libras para efetuar a transação. E qual a função da Opta? Ora, observar todos os jogos e gerar aqueles relatórios a que me referi acima (na verdade, a coisa me pareceu assustadora: estas empresas observam e geram relatórios relativos a todas as competições oficiais não só do futebol mas praticamente de todos os esportes em quase todo o planeta e faturam bilhões com este negócio). E repassar estes dados à Perform, que os processa, transforma em estatísticas ou simplesmente os vende em bruto para os interessados – leia-se aí os futuros possíveis adversários das equipes observadas. Então, e voltando ao caso do Grêmio, não é apenas dos dados de sua equipe e seus jogadores que o clube dispõe. Antes de uma partida, ele pode consultar também os dados dos adversários para analisá-los e, agora sim, traçar uma estratégia em busca da vitória. saiba mais Windows 10: afinal, um menu Iniciar que preste… Internet: o que temem os especialistas? A Justiça existe para garantir direitos, mas suspendeu os do consumidor Se você acha que analisar toda esta montoeira da dados e estatísticas sobre KPIs e o diabo a quatro exige dos analistas qualidades super-humanas, acertou. Tanto assim que a eles cabe apenas “juntar as pontas” e tirar conclusões. Pois a maior parte da análise e processamento das estatísticas, aquela que exige o emprego da força bruta, é feita pelo software da SAP. É verdade que o interesse do Grêmio pela análise da estatística de partidas não é recente. Segundo Antonio Dutra, que participou da palestra representando o clube, há pelo menos quinze anos o Grêmio começou a colher dados e analisar o desempenho de sua equipe e da dos adversários usando vídeos das partidas disputadas para ajudar na concepção de suas estratégias de jogo. Portanto, não foi difícil tomar a decisão de passar a usar o software da SAP. Resultado: hoje, quarenta e cinco minutos após o término de qualquer partida (e não apenas das suas) o clube já dispõe de todos os eventos de todas as partidas oficiais da competição que está disputando (seja ela qual for) e os encaminha a uma equipe especializada que, com a inestimável e indispensável ajuda do software da SAP, analisa os dados, gera diagramas, processa tudo aquilo e encaminha um relatório com os fatos relevantes ao treinador e sua equipe técnica. Mas não é só isso. Por enquanto o acervo de dados analisado pelo Grêmio – especificamente os referentes à sua própria equipe – se resume aos dados coletados por observação das partidas e apenas dos jogos oficiais. Mas espera-se que dentro em breve isto venha a mudar. Isto porque um dos módulos do software da SAP é capaz de processar diretamente os dados colhidos em campo sobre a posição, deslocamento e velocidade dos jogadores e da bola usando sensores que captam os sinais emitidos por circuitos RFID (“ Radio-Frequency IDentification ” ou “Identificação por radiofrequência”) fixados na bola e nos uniformes dos jogadores. E daí gerar diagramas das partidas e análises detalhadas de parâmetros como a distância percorrida em campo por cada jogador, as velocidades média e máxima de seus deslocamentos, os setores do campo em que ele se movimentou e o tempo que levou em cada um deles, o número de vezes que tocou na bola, de passes que acertou e errou, de assistências, enfim, uma detalhada e completa radiografia da atuação de cada atleta. Este sistema já existe e está em uso na Alemanha. Mas a SAP recentemente desenvolveu um aperfeiçoamento que utiliza “ chips ” RFID tipo UWB (“ Ultra Wide Band ”). A diferença? Ora, o alcance. Enquanto hoje, com “ chips ” RFID simples, para cobrir todo o campo de jogo são necessários seis ou mais receptores de sinais, com o sistema RFID-UWB pode-se usar um sensor único com alcance de quinhentos metros. O que permite, por exemplo, em um centro de treinamentos, captar sinais de até seis campos oficiais de futebol onde as equipes principais e as de divisões de base disputam jogos-treino simultaneamente (a observação através de localização eletrônica é proibida em jogos oficiais e por isso somente pode ser usada em treinamentos). O que falta para isto? Apenas que a ANATEL homologue o uso dos novos equipamentos em suas frequências e operação. Pois é isso. Que a coisa funciona, não há dúvida. E quem as tiver, basta dar uma olhada nas gravações de algumas das partidas da Alemanha na Copa (permite-se ser misericordioso consigo mesmo e evitar aquela contra o Brasil, a dos sete a um, lembra?).  E, daqui para frente, tomar cuidado com o Grêmio. B. Piropo

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