O novo coronavírus (SARS-CoV-2), causador da COVID-19 mudou nossas rotinas ao se espalhar pelo globo em um ritmo extraordinário; bastaram alguns meses para que ele chegasse a todos os continentes (com exceção da Antártica), com 38,394 milhões de casos e 1,089 milhão de mortes (dados de 15/10/2020).
Um dos motivos é a extrema resiliência do novo coronarívus, que consegue “sobreviver” por um longo período em ambientes controlados. Agora, uma nova pesquisa sugere que ele possa resistir a quase um mês em superfícies como metais, dinheiro e telas de celulares, mas a pesquisa tem alguns probleminhas.
O artigo (cuidado, PDF) conduzido por pesquisadores da agência científica da Austrália constatou que em um ambiente com situações favoráveis, como a temperatura ambiente, o SARS-CoV-2 pode permanecer viável, ou seja, capaz de contaminar uma pessoa, por até 28 dias.
A título de comparação, o influenza resiste sob as mesmas condições por “apenas” 17 dias, o que dá a dimensão do que estamos enfrentando.
COVID-19 no celular
Os pesquisadores consideram que a “robustez extrema” do vírus causador da COVID-19 varia conforme a superfície em que ele for depositado: a janela de tempo máxima considera superfícies geralmente lisas e uniformes, como peças de metal, papel moeda (dinheiro), vidro e outros polímeros, como os usados nas telas de aparelhos celulares; por outro lado, materiais porosos, como roupas, derrubam esse tempo para 14 dias.
Não é novidade que um celular, quando não limpo frequentemente pode se tornar um porto seguro de bactérias e outros agentes infecciosos, e dependendo do caso, acabar mais sujo do que uma privada, logo, era de se esperar que ao entrar em contato com um agente infeccioso altamente resistente, seu iPhone ou Android pode se tornar uma ferramenta útil para propagar a doença.
Antes que todo mundo saque suas flanelas e o isopropanol (uma prática extremamente recomendada, com ou sem COVID-19), é preciso apontar alguns caveats no estudo: ele não foi conduzido em uma situação reproduzindo situações normais, o que pode levar a divergências no mundo real:
- O ambiente controlado possuía uma temperatura de 20º C constantes;
- O estudo foi conduzido no escuro, para negar os efeitos da luz ultravioleta no vírus;
- As amostras eram apenas do vírus, ao invés de muco fresco colhido de pacientes, que contém anticorpos e glóbulos brancos.
FUD, de novo
Em entrevista à BBC, o prof. Ron Eccles, ex-diretor do Centro de Resfriado Comum da Universidade de Cardiff, disse que a declaração que o SARS-CoV-2 pode resistir a um mês em uma tela de celular é outro caso de FUD (Fear, Uncertainty and Doubt, ou Medo, Incerteza e Dúvida), e está causando “pânico desnecessário na população”:
“Vírus são disseminados nas superfícies por muco vindo de tosses, espirros e dedos sujos, e este estudo não usou muco humano fresco como veículo para espalhar o vírus (…). O muco fresco é um ambiente hostil para os vírus, pois contém muitos glóbulos brancos que produzem enzimas para destrui-los, e também podem conter anticorpos e outros produtos químicos para neutraliza-los.
Na minha opinião, os vírus infecciosos só persistirão por horas no muco nas superfícies, ao invés de dias.”
Oficialmente, o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças do Departamento de Saúde dos Estados Unidos) não considera o contágio por superfícies contaminadas como possível ou significativo, assim, o principal meio para contrair COVID-19 é o contato com partículas contaminadas de portadores (saliva e muco, vindo de espirros e tosse). Por isso, o uso de máscaras e o isolamento social continuam importantes.
Ainda assim, é sempre bom limpar seu celular de vez em quando, ao menos como uma boa prática de higiene pessoal.
Referências bibliográficas
RIDELL, S. et. al. The effect of temperature on persistence of SARS-CoV-2 on common surfaces. Virology Journal, Número 17, Artigo Nº 145 (2020), 7 páginas, 7 de outubro de 2020.
Fonte: Virology Journal, BBC
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