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Estão usando fetos abortados pra fazer vacina do COVID-19?

Ontem nas interwebs um site sensacionalista se saiu com essa “denúncia”, aonde pobres fetos abortados inocentes seriam usados como matéria-prima da vacina contra o Coronavirus.

Os comentários, claro, se tornaram a fossa séptica de sempre da internet conspiracionista.

Vocês sabem, o 5G é usado para espalhar Coronavirus, que por sua vez será “curado” com uma vacina repleta de microchips criados por Bill Gates, mas como as forças Illuminati são extremamente malvadas, o Conglomerado Farmacêutico Internacional e seus líderes sionistas usarão FETOS ABORTADOS para produzir a tal vacina, afinal nada melhor do que matar dois coelhos com uma cajadada só, se um deles for uma pobre criancinha.

Desse delírio esquizofrênico todo, por pura estatística em uma coisa eles mais ou menos acertaram. Há fetos abortados envolvidos na pesquisa do Coronga, mas adivinhe: Eles estão envolvidos em tudo, fetos são mais insidiosos que a maçonaria, e se você já tomou algum remédio de verdade (você não, homeopatia) agradeça aos fetos.

Para entender isso, precisamos entender como pesquisa laboratorial é feita.

Cientistas detestam variáveis, pois correlação não implica causalidade. Um exemplo: Eu tenho 10 pacientes com Coronga, dou Cloroquina E Capim Canela pra eles, 9 se recuperam. Perfeito, mas quem curou o Coronga? Foi a combinação que funcionou, só Cloroquina ou Só Capim Canela? Pra determinar isso precisarei testar os compostos isolados.

Repita comigo: Correlação não implica causalidade.

Aí você tem variáveis como idade dos pacientes, sexo, estado de saúde, peso, etc.

Nas fases iniciais é preciso testar os compostos em ambientes extremamente controlados e estáveis, consistentes. Isso costuma ser feito usando culturas de células, que podem ser humanas, animais e até vegetais dependendo do estudo.

Não é qualquer célula que serve pra isso, a maioria das células não gostam de se reproduzir a Bangu, sorte sua, senão aquela meia escondida debaixo do colchão já teria desenvolvido sistemas políticos.

Células de mamíferos tendem a ter vida limitada, e quando você clona uma delas, seus telômeros, porções do DNA que indicam a idade da bichinha são clonados juntos, você acaba com o dobro de células velhas.

Para fazer pesquisas que durem anos você precisa de um suprimento consistente de células idênticas, que gostem de se multiplicar, vivam bem em ambiente in vitro e sejam resistentes.

Dois tipos de células se destacam nessas qualidades: Células fetais e células cancerosas, ambas vivem momentos de frenesi multiplicatório, gerando um Surubão de Noronha numa placa de petri.

Não se anime, Surubão na Placa de Petri não é essa Coca-Cola toda, nem vai pro XVideos.

Claro, mesmo nessas condições é difícil achar linhagens de células ideais, quando dão muita sorte conseguem identificar uma mutação aonde a célula se multiplica sem afetar seus telômeros, criando uma linhagem considerada “imortal”, essas células podem ser clonadas indefinidamente, e uma das linhagens mais conhecidas é a HeLa, batizada com o nome de Henrietta Lacks, uma mulher negra de 31 anos que morreu de câncer no útero.

Henrietta Lacks. Tecnicamente, ela é Imortal.

Amostras foram obtidas de seu tumor, e elas se mostraram extremamente resistentes. Henrietta havia morrido mas seu tumor continuava vivo, geração após geração. Até hoje essas células são usadas no mundo todo para pesquisar drogas e tratamentos, Henrietta nunca soube, mas é responsável por salvar centenas de milhares, talvez milhões de vidas.

Uma outra fonte de células para culturas é tecido de fetos, abortados ou natimortos, por ser bem mais simples induzir mitose nesses tecidos. Mesmo assim não é todo feto que serve. Na tal “denúncia” dizem que estão usando uma cultura chamada HEK 293, que é extremamente interessante, criada em 1973 por Graham left Leiden, da Universidade McMaster, no Canadá.

HEK vem da sigla em inglês pra Célula Renal Embrionária. A linhagem foi obtida de um feto abortado na Holanda, em 1973. O cientista então contaminou as células com um adenovírus, que reescreveram o DNA delas, profundamente.

HEK 293. Obviamente um pobre feto abortando chorando, e o nome do feto, Albert Einstein.

A cultura HEK 293 (sim, foi o 293º experimento de Leiden com aquelas células) apresenta 64 cromossomas, ao contrário dos 46 de um humano normal. Essas células possuem quatro cópias do cromossoma 17 e do 22, e nada menos que três cromossomas X, o que pra maioria dos críticos de uso de tecidos fetais em ciência nem as classifica mais como gente.

A HEK não tem nada de especial, existem centenas de outras culturas celulares usadas em laboratório, como a MRC-5, 3T3, A549, JRUKAT, OK, PTK2, Vero, etc. Algumas são humanas obtidas de adultos, algumas animais, outras fetais.

Essas culturas não são usadas em “vacinas contra o Coronavirus”, elas são usadas literalmente em tudo. Não existe pesquisa em microbiologia, genética, farmacologia sem uso de culturas de células, tudo é testado e desenvolvido com elas.

Inclusive a amada Cloroquina.

Uma simples busca no Google Scholar retorna 208 mil artigos com a HEK 293, 36500 com a MRC-5 e 475 mil com a A549.

O que todas essas culturas têm em comum? São antigas. Não há nenhuma fábrica triturando toneladas de fetos abortados para produzir mais células. Vejamos a data de criação de algumas dessas culturas:

  • A549 –Criada em 1972 a partir de células de um adenocarcinoma de um homem adulto de 58 anos.
  • HEK 293 – Criada em 1973 de tecido renal de um feto abortado, provavelmente feminino
  • 3T3 – Criada em 1962 a partir de tecido embrionário de rato albino suíço
  • MRC-5 – Criada em 1966 de tecido pulmonar de um feto abortado de 14 semanas
  • JURKAT – Criada no final dos anos 1970 a partir de sangue de um garoto de 14 anos (presumivelmente não abortado) com leucemia

Ou seja: Todas essas culturas celulares, algumas com mais de 50 anos de idade são exatamente isso, células reproduzidas em laboratório. Dizer que pesquisar vacinas com essas culturas é “usar fetos abortados” é o mesmo que denunciar um navio Viking por “desmatamento”

Ah mas e a produção?

Que bom que você perguntou. Produção de vacinas é complicado mesmo. Hoje em dia 90% são produzidas usando ovos de galinha (ouviram, vegans? Nada de se vacinar!), uma técnica que leva muito tempo e produz uma ou duas doses por ovo.

Existem estudos e projetos-piloto usando produção celular, aonde caldos de cultura com células de mamíferos, humanas ou não, dependendo do vírus, das técnicas e das particularidades de cada vacina. Alguns vírus se dão bem em qualquer lugar, outros só se multiplicam em células específicas.

Ah sim, Pepsi também não é adoçada com fetos, até pq eles são amarguinhos. Dizem.

Dada a necessidade de uma produção rápida, provavelmente quem puder vai optar pela produção usando células, ao invés de ovos (que tecnicamente também são células, ok) e isso vai salvar milhares, talvez milhões de vidas.

Há quem tenha tempo pra uma grande discussão ética, questionando se é válido fazer pesquisa usando tecido embrionário, alguns comparam com a Alemanha Nazista, outros correm para criar sites histéricos vendendo a idéia de que há um grande moedor de carne ligado a tubulações vindas de clínicas de aborto, mas sinceramente?

Retards, retards everywhere

Pra qualquer um que diante de uma doença como o Coronavirus, tendo a possibilidade de uma vacina eficaz em grande escala e que ainda assim se melindra por causa de células de um feto que morreu 47 anos atrás, só tenho uma sugestão:

Não tome a vacina, champs. Aliás não tome nenhuma vacina nem use nenhum medicamento comercial, só assim você honrará e respeitará o fetinho que diz tanto se importar. Darwin aprova.

FONTES:

 


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