Final Fight e a luta para salvar Metro City

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No final da década de 80, quem estivesse procurando o que havia de mais avançado tecnologicamente em termos de games precisava ir até um fliperama. Numa loja especializada ou mesmo num boteco, era lá que estavam as máquinas mais poderosas do planeta e entre os muitos títulos que se destacaram na época, um que conquistou um canto especial no coração de muitas pessoas ao nos colocar para “limpar” as ruas da cidade fictícia de Metro City.

Final Fight

Capa do Final Fight para SNES (Crédito: Reprodução/Capcom)

O ano era 1988. Encantado com um gênero que seguia em franca ascensão nos arcades, Yoshiki Okamoto pegou o recém lançado Double Dragon II: The Revenge como inspiração e decidiu criar seu próprio beat-’em-up. A ideia seria aproveitar uma placa que a Capcom havia desenvolvido, a CP System — ou como ficaria mais conhecida, a CPS-1.

Rodando um processador Motorola 68000 de 10 MHz e sendo capaz de exibir 4.096 cores simultâneas, o equipamento já tinha dado vida a alguns jogos muito bonitos, como o Ghouls’n Ghosts, Strider e U.N. Squadron. Porém, o seu grande diferencial estava no fato da CPS-1 não servir somente a um jogo, bastando que fosse trocada uma parte que funcionava como um cartucho e assim os custos de produção foram bastante reduzidos.

Enquanto o desenvolvimento avançava, a divisão de vendas da Capcom queria aproveitar um certo sucesso alcançado por um jogo chamado Street Fighter e estava pressionando por uma continuação. Okamoto viu ali uma boa oportunidade e durante alguns eventos começou a divulgar seu projeto como Street Fighter ’89, inclusive chegando a se referir a um dos personagens como um ex-Street Fighter.

Contudo, esta proximidade entre os jogos não foi totalmente por acaso. Já no início as pessoas envolvidas na criação planejavam utilizar os personagens Ryu e Ken como protagonista do Final Fight, mas ambos foram deixados de lado para que uma nova história fosse criada. Parte desta mudança de planos aconteceu graças às críticas feitas por donos de fliperamas, que afirmavam que o jogo não tinha nada a ver com a outra máquina da empresa.

Okamoto e sua equipe então buscaram inspiração em outra obra que adoravam, o filme Ruas de Fogo, de Walter Hill. Assim como no longa, o jogo contaria a história de uma bela mulher que foi raptada por uma gangue, com um dos personagens que poderíamos controlar sendo claramente baseado no protagonista Tom Cody, interpretado por Michael Paré.

A esperança nas mãos (e pés) de um lutador

Final Fight - Metro City

Crédito: Reprodução/Moby Games

Situada na costa leste dos Estados Unidos, Metro City há muito vinha registrando níveis altíssimos de criminalidade, muito devido à atuação de um grupo conhecido como Mad Gear Gang. A situação parecia irreparável, mas quando o ex-lutador de luta livre, Mike Haggar, foi eleito prefeito, o que parecia impossível começou a acontecer. Com os criminosos sendo retirados das ruas, a população voltou a se sentir segura e passou a ser grata ao político pelo excelente trabalho.

Porém, aqueles que se valiam da violência para oprimir e lucrar obviamente não aceitariam tamanha interferência em seus negócios e tentaram subornar Haggar, exigindo que ele não os incomodasse. Após a proposta ser recusada, os membros da gangue partiram para o plano B, que consistia em sequestrar Jessica, a filha do prefeito. Furioso com o crime, ele então parte para uma guerra pessoal, contando com a ajuda do namorado da garota, Cody Travers e de seu amigo, um habilidoso lutador chamado Guy.

Além de ter despertado a atenção de algumas pessoas na época por sua tela de continue mostrar os personagens amarrados numa cadeira enquanto uma contagem regressiva ameaçava explodir uma bomba, o Final Fight também contava com uma série de curiosas referências. No caso da Mad Gear Gang, seu nome veio de um jogo de corrida lançado pela Capcom em 1987 e que fora do Japão ficou conhecido como Led Storm.

Já os membros da gangue que atormenta Metro City foram batizados em homenagem e diversos músicos, como Slash e Axl (da banda Guns N’ Roses); Simons (em referência ao baixista do Kiss); Abigail (que veio do segundo disco do King Diamond’s); Sodom (da banda homônima alemã); Roxy (da Roxy Music, de Bryan Ferry); Damnd (referência aos ingleses da The Damned); Billy (de Billy Idol); Sid (baixista do Sex Pistols) e Poison (da banda de mesmo nome).

Avançar pelas ruas de Metro City ainda nos colocaria diante do terrível Hugo Andore, um chefe de fase inspirado no lutador francês André the Giant, além de uma dupla que faria com que a Capcom tivesse que realizar mudanças para que o jogo chegasse às residências ocidentais.

Roxy, Poison e as versões para consoles

Final Fight - Metro City

Crédito: Reprodução/Moby Games

Depois de conquistar muitos admiradores nos fliperamas, chegava a hora do Final Fight aparecer nos videogames caseiros e coube ao Super Nintendo a honra de receber a primeira adaptação. No Japão o título apareceu um mês após o videogame ser lançado e para tentar evitar críticas, no manual tanto Roxy quanto Poison eram retratadas como “newhalfs”, o que por aqui conhecemos como mulheres trans.

Na cabeça dos executivos da Capcom e da Nintendo, quando o jogo chegasse ao mercado caseiro norte-americano, o público não aceitaria ver mulheres sendo espancadas, mas o que acabamos vendo por aqui foram mudanças ainda maiores em relação ao original. No caso da dupla, ela foi substituída por dois homens, Billy e Sid, já o chefão final deixou de usar uma cadeira de rodas para ficar sentado em uma cadeira de escritório.

O receio da Nintendo foi tanto, que até alguns personagens com a pele mais escura receberam tons mais claros; garrafas de bebidas foram substituídas por itens que recuperariam nossa energia; os chefes Damnd e Sodom tiveram seus nomes alterados para Thrasher e Katana; e na fase bônus em que um inimigo encontra seu carro destruído, ele deixou de falar “Oh! My God”, para exclamar “Oh! My car.”

Crédito: Reprodução/Moby Games

Contudo, o que muitos jogadores realmente lamentaram foram as alterações feitas por causa das limitações técnicas. Ao contrário do que tínhamos nos arcades, onde até 10 inimigos podiam aparecer na tela ao mesmo tempo, no SNES só era possível vermos três deles. Além disso, o jogo só nos permitia jogar com Cody ou Haggar e a fase Industrial Area também foi retirada. Mas principalmente, não existia a possibilidade de jogarmos ao lado de um amigo.

Em 1992 a Capcom chegou a lançar uma revisão para o Super Nintendo intitulada Final Fight Guy, que fazia pequenas mudanças e substituía o namorado de Jessica pelo seu amigo. Porém, aqueles que jogavam em consoles só foram receber uma versão mais fiel aos arcades em 1993, quando o Final Fight chegou ao Mega/Sega CD.

Desenvolvido pela A Wave, o jogo trazia os três personagens controláveis; todas as fases vistas nos fliperamas; permitia que duas pessoas encarassem a pancadaria nas ruas de Metro City ao mesmo tempo e ainda contava com dublagem tanto na abertura quanto no final. Aliás, a qualidade sonora era um dos destaques desta versão, para alguns sendo até superior àquilo que podíamos ouvir nos arcades.

Isso, no entanto, não quer dizer que sacrifícios não tiveram que ser feitos. Além do número de inimigos na tela ser menor, os combos desferidos por Cody e Guy eram mais lentos. Os cenários por sua vez eram menos detalhados e devido a paleta de cores reduzida, a qualidade visual deixava a desejar. Por fim, nos Estados Unidos o título recebeu censura e embora Poison e Roxy tenham permanecido, suas roupas eram menos reveladoras.

Um legado perdido no tempo

Crédito: Reprodução/Moby Games

Além de ter emprestado diversos personagens para jogos da Capcom e de Metro City ser a mesma cidade vista em Captain Commando (embora no futuro), o primeiro Final Fight ainda rendeu algumas continuações. Entre elas, as melhores são o Final Fight 2 e o Final Fight 3, títulos lançados exclusivamente para o Super Nintendo em 1993 e 1995, respectivamente. Mesmo sem terem atingido o sucesso daquele que deu início à franquia, ambos são divertidos e ajudaram a engrossar a lista de bons beat-’em-ups que apareceram naquele console.

Ainda tivemos o lançamento do Mighty Final Fight, um jogo para Nintendinho que contava com visual chibi e em 1999 a série voltou aos fliperamas, com um jogo de luta 3D chamado Final Fight Revenge — que também recebeu uma versão para Sega Saturn. Foram preciso então sete anos para que o PlayStation 2 e o Xbox recebessem um novo capítulo, o péssimo Final Fight: Streetwise.

Desde então, a Capcom limitou-se a relançar o primeiro jogo para plataformas mais modernas, como aconteceu no Final Fight: Double Impact (que trazia também o jogo Magic Sword) ou no Capcom Beat ‘Em Up Bundle, onde um dos maiores clássicos não só do estilo “briga de rua”, mas de toda a indústria aparece ao lado de outros seis títulos.

A expectativa dos fãs é para que um dia a série receba um novo capítulo com toda a qualidade que merece. Porém, se isso não acontecer, muitos já ficariam felizes se pudessem revisitar Metro City (e as duas continuações diretas) num remake que contasse com gráficos feitos a mão e melhorias na jogabilidade, assim como aconteceu com Streets of Rage 4.

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