Para a Epic Games, Fortnite ser o jogo mais popular do momento, comprar briga com Apple e Google e mobilizar seus consumidores para uma guerra não basta: novas informações relacionadas ao processo movido contra a maçã revelam que a companhia de Tim Sweeney quer dominar a internet, transformando o jogo em uma rede social de facto.
Processos legais costumam revelar informações suculentas sobre as operações de uma empresa; como exemplo temos o caso Google vs. Oracle, onde documentos enviados à corte confirmaram o rumor de que a gigante das buscas pagou US$ 1 bilhão à Apple para que o Google Search permanecesse como o motor de busca padrão do iOS.
A pendenga da Apple com a Epic Games não é diferente: nesta sexta-feira (4) a desenvolvedora anexou uma nova moção (cuidado, PDF) ao processo, como uma resposta à derrota parcial que sofreu; a juíza Yvonne Gonzalez Rogers, da Corte Distrital do Norte da Califórnia impediu temporariamente a Apple de bloquear a Unreal Engine em seus aparelhos, mas permitiu o mesmo para Fortnite.
A juíza Rogers apontou que a Epic Games não conseguiu provar a acusação de “dano irreparável” à empresa e ao mercado de games causado pelo banimento de Fortnite do iOS, apoiada no fato de que o ato poderia ser revertido facilmente; tanto a Epic quanto a Apple admitem que tudo se resolveria se a desenvolvedora revertesse a atualização que introduziu a loja alternativa para compra de microtransações, que contorna a App Store.
Esta nova moção acrescida pela Epic Games visa apresentar as supostas provas de que o banimento de Fornite foi uma ação anticompetitiva por parte da Apple, citando planos futuros para o jogo que teriam sido prejudicados pela maçã.
É aí que as coisas começam a ficar interessantes.
Segundo a Epic Games, Fortnite é visto não como um simples jogo pelas gerações Millenial e Z, e mais como uma rede social, e a empresa pretende investir nisso. Ela defende que os jovens hoje usam o Battle Royale como um hub geral, onde podem jogar, conversar e consumir outros tipos de mídia diversos.
A empresa dá como exemplos o show do cantor Travis Scott, que quebrou o recorde de usuários simultâneos (12,3 milhões, quase 13 vezes mais que o pico de Counter-Strike: Global Offensive, este “apenas” um jogo) e a transmissão de filmes, como o festival da Semana do Tubarão e o conteúdo exclusivo de Star Wars: A Ascensão Skywalker, que não foi veiculado em nenhum outro lugar.
A Epic cita também a série de debates We the People, veiculada dentro do jogo que discute justiça racial, em resposta à morte de George Floyd e à violência policial contra negros nos Estados Unidos; importante notar que na ocasião, a Epic Games retirou todas as viaturas de Fortnite.
No documento, a Epic Games diz que a remoção de Fortnite das plataformas Apple prejudica não só a experiência integrada do jogo, mas também os planos da empresa de posicionar o título como um “metaverso”, algo que a empresa descreve como “um espaço virtual multipropósito, persistente e interativo”.
Sim, Second Life me veio à mente na hora e Jogador Nº 1 na sequência, principalmente se lembrarmos que a Epic já licencia skins de personagens, veículos e locações de franquias como Marvel, DC e Star Wars.
Claro que daí a termos o planeta transsexual em Fortnite, exibindo o clássico The Rocky Horror Picture Show 24/7 como no OASIS (passagem esta que Spielberg não incluiu no filme) é um passo e tanto, mas sonhar não custa.
Os alvos da Epic Games são as grandes redes sociais de hoje, em especial o Facebook, que também busca ser o hub geral para os usuários ao cobrir todas as suas necessidades na internet, seja com apps acessórios como Instagram, Messenger e WhatsApp, ou com soluções internas como Facebook Watch, Facebook Gaming e etc.
Em uma declaração anexada à moção, o CEO da Epic Games Tim Sweeney diz o seguinte:
Um dos fatores que tornam Fortnite tão especial é sua capacidade inovadora de fornecer um fórum para uma ampla variedade de experiências sociais virtuais, como shows, noites de cinema e discussões sociais e políticas, tudo em um único mundo de livre acesso.
No futuro, a Epic planeja oferecer muito mais eventos e novos recursos em Fortnite, com o objetivo final de criar o Metaverso Fortnite, um meio social completo, robusto, em tempo real, tridimensional e com seu próprio sistema econômico, onde as pessoas serão capazes de criar e se envolver em um grande número de experiências compartilhadas (…).
A vitalidade do Fortnite como um espaço social dependerá cada vez mais do acesso para usuários móveis.
Resumindo: a Epic Games quer transformar Fortnite em uma plataforma completa e com sistema monetário próprio e fechado, de modo a concorrer com todas as redes sociais e lojas de sistemas móveis, mas para isso a empresa quer que o jogo esteja presente nos celulares, tablets e computadores de outras companhias… de graça.
A desenvolvedora defende a presença garantida de Fortnite no iOS e Android (este via Google Play Store) sem que a taxa de 30% à Apple e Google seja recolhida, ou seja, busca um tratamento especial para concorrer com todo mundo.
Eu sugiro um acompanhamento à Epic Games:
O documento revela que a Epic vê a App Store como um concorrente da mesma forma que o Steam, citando que distribui Magic: The Gathering Arena de forma totalmente livre, sem impor o sistema de pagamentos da Epic Games Store às microtransações do título, a norma do iOS.
Ainda assim, Tim Sweeney exige tratamento diferenciado a Fortnite e não quer pagar um centavo às rivais, que em seu entendimento devem ser obrigadas a ceder um espacinho ao jogo sem cobrar pelo mesmo.
Embora seja um fato de que Apple e Google já cometeram diversas presepadas ao longo dos anos, a prepotência da Epic Games em exigir que Fortnite tenha cadeira cativa nas lojas digitais e não pague por ela é o cúmulo do absurdo.
Considerando que o estúdio tem a gigante chinesa Tencent como dona de 40% de suas ações, o mais lógico a fazer seria seguir os passos de Cupertino e Mountain View: desenvolver seu próprio hardware e sistema operacional móvel, que seria uma casa exclusiva para Fortnite e outros jogos do estúdio.
Por outro lado, é cedo para dizer se o plano de transformar Fortnite em uma rede social, a fim de bater de frente com Facebook, Twitter e Snapchat é algo ousado demais ou uma abordagem válida.
A empresa está interessada em oferecer uma escolha, mas resta saber se isso não faria a Epic Games se tornar no futuro um monopólio como ela acusa a Apple de ser hoje, e que a maçã no passado apontou como sendo a IBM, a “gigante malvada” que dominava o mercado de computadores.
Com informações: Kotaku
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