Durante a segunda onda de Covid-19 na Índia, médicos estão precisando lidar com um fungo agressivo que tem atacado pacientes em recuperação e recuperados: o “fungo negro”. Ele é o responsável por uma infecção rara, conhecida como mucormicose. Segundo médicos do país, os casos estão se tornando mais numerosos, especialmente entre os mais jovens.
O cirurgião de olhos Akshay Nair deu uma entrevista sobre o assunto à BBC enquanto se preparava para operar uma mulher de 25 anos. “Vou remover o olho para salvar a vida dela”, disse. Antes da cirurgia, a paciente também precisou passar por uma remoção de tecidos infectados do nariz.
O que é mucormicose?
A mucormicose é uma infecção muito rara, causada pela exposição a um tipo de mofo comum. “É onipresente e encontrado no solo e no ar e até mesmo no nariz e no muco de pessoas saudáveis”, explica Nair. O problema é quando o fungo ataca indivíduos gravemente imunodeprimidos, como pacientes com câncer ou pessoas com HIV/AIDS e diabéticos. A doença, agressiva, afeta então o nariz, seios da face, os olhos, o cérebro e os pulmões – e pode ser fatal.
Imagem microscópica de célula atingida por fungo negro.Fonte: Unicamp/Reprodução
A mucormicose tem taxa de mortalidade de 50%. Para Nair, ela pode ser desencadeada nos pacientes pelo uso de esteroides durante o tratamento da Covid-19. Os esteroides reduzem a inflamação nos pulmões e parecem ajudar a interromper alguns danos que podem ocorrer quando o sistema imunológico entra em atividade para combater o novo coronavírus.
Em pacientes diabéticos e não diabéticos com Covid-19, os esteroides acabam por reduzir a imunidade e aumentam níveis de açúcar no sangue. Os médicos indianos acreditam que essa queda na imunidade possa estar desencadeando os casos de mucormicose.
Mucormicose pós-covid
“O diabetes diminui as defesas imunológicas, o coronavírus o agrava e, em seguida, os esteroides agem como se estivéssemos jogando gasolina no fogo”, explicou Nair. O cirurgião ocular já atendeu cerca de 40 pacientes com a infecção fúngica em abril. Muitos deles eram diabéticos que se recuperaram da covid-19 em casa. 11 deles tiveram um olho removido cirurgicamente.
Entre dezembro e fevereiro, foram relatados 58 casos da infecção na Índia. A maioria dos pacientes contraiu a doença entre 12 e 15 dias após a recuperação da covid-19. O Hospital Sion, de Mumbai, relatou 24 casos da infecção nos últimos dois meses, quatro vezes mais do que a média anual do hospital. Desses pacientes, 11 perderam um olho e seis morreram. Grande parte era diabética de meia-idade e havia sido infectada pelo fungo duas semanas após se recuperar da covid-19.
Mumbai: hospital da cidade relatou que casos de mucormicose vêm aumentando rapidamente.Fonte: Pixabay
Na cidade de Bengaluru, Raghuraj Hegde, cirurgiã oftalmologista, também viu os casos dispararem: foram 19 casos de mucormicose nas últimas duas semanas, a maioria em pacientes jovens. “Alguns estavam tão doentes que não podíamos nem mesmo operá-los”, relatou à BBC.
Sintomas de mucormicose
Os pacientes geralmente apresentam sintomas de nariz entupido e sangramento; inchaço e dor nos olhos; pálpebras caídas; visão turva e, finalmente, perda de visão. Pode haver manchas pretas na pele ao redor do nariz. Os médicos dizem que a maioria busca tratamento tarde demais, quando já está perdendo a visão.
Tratamento agressivo
É preciso remover cirurgicamente o olho para impedir que a infecção alcance o cérebro. Em alguns casos os pacientes perderam a visão em ambos os olhos e, em casos raros, é preciso remover o osso da mandíbula para impedir que a doença se espalhe.
Uma injeção intravenosa antifúngica que custa R$ 250 a dose precisa ser administrada todos os dias por até oito semanas – e é o único medicamento eficaz.
Como evitar o fungo mortal
Rahul Baxi, médico especializado em diabetes, afirmou que uma forma de impedir a infecção fúngica é garantir que os pacientes com Covid-19 recebam a dose e duração corretas de esteroides. Ele tratou cerca de 800 pacientes diabéticos com covid-19 em 2020 e nenhum contraiu a infecção. “Os médicos devem cuidar dos níveis de açúcar após a alta dos pacientes”, disse Baxi à BBC.
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