Ghost of Tsushima: não há honra na guerra — Review

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Ghost of Tsushima é o mais recente título da Sucker Punch Productions exclusivo para o PS4, o primeiro em 6 anos desde os dois últimos jogos da série inFamous, Second Son e First Light.

Revelado pela primeira vez em 2017, ele representa uma mudança completa no estilo narrativo do estúdio, que se afasta dos temas urbanos para criar um conto ambientado no Japão feudal, durante um das fases mais turbulentas de sua história.

Sucker Punch Productions / Sony Interactive Entertainment / Ghost of Tsushima

“Guerra não torna ninguém grande”

A trama de Ghost of Tsushima é uma história original situada durante a primeira invasão mongol ao Japão, ocorrida em 1274. No mundo real a investida de Kublai Khan, que já havia unificado a China sob o império Yuan (para mais, leia nosso review sobre a primeira temporada da série da Netflix Marco Polo) avassalou a ilha de Tsushima, principalmente porque os samurais não estavam habituados ao estilo de luta dos invasores, que aos olhos deles, “não tinha honra” e não seguia nenhum tipo de etiqueta. Mas era eficiente.

Ainda assim, a primeira invasão não foi bem sucedida devido a uma tremenda tempestade que arrasou as naus mongóis, e na segunda tentativa (1291), outra tempestade, aliada a um exército samurai melhor preparado, expulsou de vez os invasores. É daí que vem a lenda dos “ventos divinos” (em japonês, kamikaze) que protegeriam o Japão contra forças estrangeiras, conceito que perdurou até o fim da Segunda Guerra Mundial.

Sucker Punch Productions / Sony Interactive Entertainment / Ghost of Tsushima

No jogo, algumas liberdades criativas foram tomadas de modo a conduzir a narrativa (that’s entertainment, afinal), o que nos traz ao conto de Jin Sakai, um samurai dentre os vários que se organizaram sob a liderança do lorde Shimura, o jitō (uma espécie de intendente e coletor de impostos de uma região geralmente apontado pelo shogun, diferente de daimyō, ou senhor feudal), tio do protagonista e sua figura paterna, para defender a ilha dos mongóis. Obviamente que os samurais são massacrados, Shimura é capturado e Jin quase morre, mas é salvo por uma ladra chamada Yuna.

A princípio, Jin é relutante ao considerar uma aliança com alguém de tão baixa estirpe (lembre-se que no Japão feudal, assim como no ocidente, havia um sistema de castas e os samurais eram uma força militar, ou seja, nobres), mas é ela quem aponta uma alternativa para a execução do plano louco do personagem, que é resgatar o lorde Shimura batendo na porta da frente da fortaleza mongol, because etiqueta samurai.

Claro que o cabeça dura tenta mesmo assim e Jin quase morre de novo, desta vez nas mãos do comandante das forças invasoras Khotun Khan (personagem criado para o jogo, baseado em Kublai Khan).

Sucker Punch Productions / Sony Interactive Entertainment / Ghost of Tsushima

Jin então se vê diante de um dilema: os métodos samurais de combate frontal não funcionam contra um exército que tem zero apreço por formalidades, e que mata, pilha, destrói e queima tudo em seu caminho. Assim ele muda seu estilo, se tornando mais furtivo e sorrateiro, adota métodos similares aos dos mongóis e contra a vontade, mas for força das circunstâncias, se torna um “Fantasma”, um guerreiro que fará o que for necessário para libertar a ilha de Tsushima.

Claro que seus meios serão considerados “sem honra” pelos aliados samurais que encontrará em sua jornada, algo que poderá lhe trazer uma série de infortúnios.

A lenda do Fantasma

A jogabilidade de Ghost of Tsushima oferece várias formas de combate. Ao contrário do que muitos pensavam, você não ficará preso a um estilo se escolher se portar como um samurai ou como um fantasma, as técnica são desbloqueadas usando pontos de habilidade, ganhos ao cumprir missões, salvar aldeões, desmantelar postos de controle mongóis, encontrar pontos de interesse e etc., e uma vez habilitadas, elas ficam disponíveis de forma permanente.

Sucker Punch Productions / Sony Interactive Entertainment / Ghost of Tsushima

Funciona assim: você pode encontrar inimigos e enfrenta-los de frente, em que o jogo oferecerá uma mecânica chamada “Confronto”. Ao ativa-la, Jin desafiará um oponente para um duelo, em que você poderá elimina-lo (ou até três, conforme evoluir a técnica) com apenas um golpe, e depois parte para combater os demais normalmente, com a espada ou flechas.

Ou se for de seu agrado, você pode invadir um campo de forma sorrateira, usar um sino para distrair um inimigo e apunhala-lo pelas costas com a espada curta (máximo de três assassinatos com a técnica evoluída), além de usar bombas de fumaça para ocultar sua presença, kunais para quebrar a defesa ou bombas de pólvora, para nocautear um grupo grande e elimina-los quando estiverem tontos.

A forma de lutar fica totalmente a seu critério, embora seja óbvio que em determinados capítulos, em específico os que dão prosseguimento à história, será necessário se ater a um ou a outro estilo de combate. E falando no combate frontal em si, há mais de uma maneira de lutar.

Sucker Punch Productions / Sony Interactive Entertainment / Ghost of Tsushima

Jin possui quatro posturas distintas com a espada, cada uma mais eficaz para um tipo de inimigo: espadachims, guerreiros com espada e escudo, lanceiros e os brutamontes, inimigos de grande porte. Trocar para a postura correta, segurando o botão R2 e apertando o botão correspondente é crucial, pois usar golpes na postura correta contra um inimigo causa maior dano em sua defesa.

O grande problema é que muitas vezes, você será cercado por vários inimigos variados, e todos tentarão te atacar ao mesmo tempo, obrigando-o a trocar constantemente de uma postura para outra, defender os ataques (há também um sistema de esquiva e outro de parry) e contra-atacar.

Dominar tudo leva tempo e por causa disso, o jogo indiretamente o estimula a jogar como um Fantasma, e não como um samurai.

Sucker Punch Productions / Sony Interactive Entertainment / Ghost of Tsushima

Na parte de exploração, Ghost of Tsushima é um jogo de mundo aberto e traz um mapa enorme, abrangendo toda a ilha que é dividida em três setores, abertos a cada um dos 3 atos do jogo. É possível cobrir terreno a pé ou a cavalo (mais desejável), mas uma vez que você tenha descoberto um novo ponto de interesse, o jogo permite se mover para lá usando a viagem rápida, que economiza bastante tempo, dadas as distâncias.

Há uma série de elementos a serem descobertos, de fontes termais que elevam sua energia a templos que concedem amuletos (cada um propiciando um desafio à parte), desafios que aumentam sua barra de Determinação (necessária para se curar e usar certas técnicas), eventos que concedem habilidades e armaduras especiais e capítulos opcionais, que desenvolvem as histórias de seus aliados.

A influência de Kurosawa em Ghost of Tsushima

Visualmente Ghost of Tssushima é um esplendor. O jogo abusa da potência extra de processamento do PS4 Pro e entrega uma riqueza alta de detalhes em 4K, ou no modo supersampling em 1080p. Mesmo no PS4 normal, porém o título é muito bonito, embora alguns probleminhas de texturas e construção de cenários tenha sido notadas.

Em sua defesa, a cópia fornecida pela Sony ainda carecia de algumas atualizações que foram lançadas durante o período de análise, tanto que o jogo não contava com dublagem em português brasileiro habilitada, esta prometida para versão final.

Voltando aos gráficos, há uma grande variedade de locações, de florestas a montanhas nevadas, campos abertos, praias, castelos feudais ricos em detalhes, vilarejos, campos madeireiros, fortes, campos incendiados e etc., todos muito bem detalhados. E você pode aprecia-los tanto no modo normal, quanto no curioso “Modo Kurosawa”: este, dissponível desde o início adiciona um filtro preto-e-branco, com falhas na tela para simular um filme antigo, bem como efeitos sonoros equivalentes.

Sucker Punch Productions / Sony Interactive Entertainment

Modo normal

Sucker Punch Productions / Sony Interactive Entertainment

Modo Kurosawa ativado

Segundo a Sucker Punch, o modo teve o aval do Akira Kurosawa State para ser nomeado em homenagem ao aclamado diretor de cinema (dica: confira o excelente episódio do finado canal Every Frame a Painting dedicado a como ele compunha o movimento em suas obras), e este teve que ser pensado para que elementos e ícones fossem fáceis de serem distinguidos, com ou sem cor.

A fotografia também teve que ser trabalhada para funcionar em ambos modos, mas é fato que algumas cenas no Modo Kurosawa podem ficar mais escuras ou mais claras do que o necessário, quando comparadas ao modo normal.

Na parte do som, temos desde efeitos muito bem executados para explosões, golpes de espada e etc., a uma trilha sonora étnica muito boa e adequada para o período em que o jogo se passa, composta por Ilan Eshkeri e Shigeru Umebayashi (Hannibal: A Origem do Mal). Na localização, você pode optar por áudio local, em inglês ou em japonês, com ou sem legendas.

Sucker Punch Productions / Sony Interactive Entertainment

Só que a influência de Kurosawa não se limita a um detalhe visual, toda a narrativa é conduzida como um de seus filmes, mas embora muitos apontem a óbvia semelhança com Os Sete Samurais (1954, que serviu de base para Sete Homens e um Destino) ou Yojimbō (1961, que Sergio Leone adaptou em Por Um Punhado de Dólares), principalmente na trama principal, talvez a obra que mais se aproxime de Ghost of Tsushima seja Rashōmon (1950).

Assim como no filme, muitos dos contos nas histórias paralelas, focadas em pessoas comuns tratam de narrativas onde as pessoas dão seu ponto de vista de um fato, que nem sempre é verdade. Há aqueles que buscam se aproveitar da invasão mongol da melhor maneira, outros são levados a uma situação desesperadora, mas nem sempre uma história é o que parece ser.

Conclusão

Ghost of Tsushima é um trabalho ambicioso, tanto em termos de jogabilidade em títulos de mundo aberto, quanto em seu estilo narrativo que  usa elementos e estilo de um dos maiores cineastas que o mundo já viu. O resultado é uma experiência que várias horas que devem ser saboreadas com atenção, desde a atenção aos elementos do cenário, às reviravoltas de roteiro.

O jogo nem de longe tem o peso emocional de The Last of Us Part II, sem dúvida alguma o título mais relevante e necessário de 2020, mas isso não quer dizer que a obra da Sucker Punch seja menor. A seu modo ela é mais próxima de Horizon Zero Dawn, e ainda que Aloy e Jin Sakai sejam bem diferentes, ambos querem libertar seu povo das forças opressoras, não se importando com o preço que pagarão por isso.

Sucker Punch Productions / Sony Interactive Entertainment

Na minha opinião, Ghost of Tsushima é um jogo típico do fim de uma geração, que usa todos os recursos do PS4, devidamente azeitados e amaciados em quase 7 anos de janela, para entregar uma experiência de alto nível em termos de narrativa e jogabilidade, que deverá perdurar na memória dos jogadores por muito tempo.

Assim, Ghost of Tsushima e The Last of Us Part II são os dois últimos grandes exclusivos do PS4, que preparam a inevitável mudança de foco da Sony com suas plataformas de mesa, assim que o PS5 for devidamente lançado no fim de 2020.

Ghost of Tsushima — Ficha Técnica

  • Plataformas — PS4 (analisado no PS4 Pro);
  • Desenvolvedora — Sucker Punch Productions;
  • Distribuidora — Sony Interactive Entertainment;
  • Classificação Indicativa — 18 anos.

Pontos Fortes

  • Excelentes gráficos e cenários exuberantes;
  • Trilha e efeitos sonoros de primeira;
  • Narrativa muito bem amarrada;
  • Mapa gigante, com muitos elementos a serem descobertos;
  • Modo Kurosawa é um adicional muito bem executado.

Pontos Fracos

  • Dominar e usar todos os modos de combate ao mesmo tempo exige dedicação e atenção;
  • Alguns probleminhas com texturas.
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