God of War: Ragnarök – A eterna luta pela liberdade criativa

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Na última quinta-feira (9) a Sony realizou um evento para mostrar um pouco dos jogos que está produzindo e entre eles estava o God of War: Ragnarök. Dando continuidade à saga de Kratos pela mitologia nórdica, o trailer nos apresentou a um pouco da jogabilidade, mas o que gerou debates foi a representação escolhida para alguns personagens.

God of War: Ragnarök

Crédito: Divulgação/Santa Monica Studios

Uma das maiores curiosidades daqueles que encararam o jogo anterior era se teríamos finalmente a oportunidade de enfrentar a figura mais conhecida daquela mitologia, o Deus do Trovão, Thor. O Santa Monica Studios então aproveitou para confirmar a presença do filho de Odin nesta continuação, mas apenas através de um vislumbre do seu martelo.

Porém, logo após a divulgação do trailer o diretor de arte do God of War: Ragnarök (o brasileiro Rafael Grassetti) usou sua conta no Twitter para publicar a seguinte arte conceitual:

O que se viu na sequência foi uma chuva de reclamações. Além do Thor contar com barba e cabelos ruivos, o que mais incomodou uma parcela dos jogadores foi a bela barriga do personagem, fazendo com que alguns o considerassem menos imponente e muito longe da imagem de um deus nórdico que muitos idealizam.

Teria então o estúdio descaracterizado demais o principal defensor de Asgard e Midgard? Pois a resposta para esta pergunta não é tão simples.

Para começar, precisamos levar em consideração que a mitologia se baseia em lendas, com a aparência dos personagens sendo bastante subjetiva. Logo, não estaria errado uma obra tomar alguma liberdade ao representar deuses e heróis. Além disso, a própria série God of War não pode ser considerada historicamente precisa, apesar de usar muito do que foi contado pelos povos antigos para criar as aventuras do Fantasma de Esparta.

Quanto a o que sabemos sobre o Thor, os registros sobre ele são raros, com os poemas Edda em prosa e Edda em verso, ambos de Snorri Sturluson, sendo consideradas as principais fontes. Nele o famoso guerreiro é descrito como detentor de um grande apetite sexual e um sujeito a ser temido, pois ao contrário de Odin e Loki, que estavam sempre planejando seus passos, o Deus do Trovão não pensava duas vezes antes de usar o famoso Mjölnir.

Quanto a sua aparência, é preciso considerarmos alguns detalhes. O primeiro é a sua famosa paixão pela bebida — o que é comumente associada a uma barriguinha — e a segunda é que ele é descrito como um homem forte e grande. O problema é que este é um conceito que mudou com o passar do tempo e por isso não podemos pensar no Thor da mitologia como a figura que conhecemos nos quadrinhos ou no MCU (Universo Cinematográfico Marvel).

Durante o jogo anterior, o personagem Mimir chega a se referir a ele como “gordo”, “suado” e “estúpido” e mesmo se ignorarmos a clara a antipatia do conselheiro de Odin pelo Deus do Trovão, o natural é que os nórdicos o “vissem” como alguém mais próximo do que o pessoal do Santa Monica Studios propôs com a tal arte conceitual. De qualquer forma, se você acha que um homem como ele não causaria um tremendo estrago num campo de batalha, basta pensar nos competidores do World’s Strongest Man, que estão longe de ter um corpo parecido com o de alguém como Chris Hemsworth.


Crédito: Reprodução/Santa Monica Studios

Mesmo assim, percebendo a polêmica que havia se formado, o diretor do God of War: Ragnarök, Eric Williams, conversou com o pessoal do site GameInformer e explicou o motivo de terem seguido por este caminho.

Bem, eu não sei, nós apenas queríamos que ele fosse um menino grande, sabe? A interpretação da Marvel para ele é uma coisa, é interessante. Queríamos ir um pouco mais fundo na mitologia. Ele tem uma presença imediatamente e não é sempre por causa dos músculos […]

Eu queria que ele fosse como um homem infantil, como se você tivesse tanto poder e pudesse fazer aquelas coisas, você não iria crescer. Não precisaria fazer isso. Você simplesmente faz o que quiser.

Semelhanças com The Boys a parte, quem seguiu na mesma toada foi Cory Barlog, que dessa vez participará da produção como diretor de criação. Para ele, a ideia com esta versão do Thor é mostrar que “nem tudo precisa ser uma massa muscular para ainda ser fantástico, poderoso e intimidador.

Porém, não foi apenas o visual do Deus do Trovão que dividiu opiniões nas redes sociais. No final do trailer podemos ver uma garota chamada Angrboda e para quem conhece um pouco de mitologia nórdica, sabe que ela é uma gigante (Jötunn) e que ficou conhecida por se tornar a primeira esposa de Loki, além de ser a Deusa do Medo.

O que não agradou algumas pessoas foi a personagem ser retratada como uma mulher negra, com alguns se sentindo ofendidos provavelmente por achar que o God of War: Ragnarök servirá como uma ferramenta para acabar com o conceito de “pureza racial” dos nórdicos.


Crédito: Reprodução/Santa Monica Studios

O que estas pessoas talvez não saibam é que existiam negros entre os vikings, alguns tendo chegado até a Escandinávia como exploradores, outros como escravos. De qualquer forma, ao ver algumas pessoas reclamando da decisão no Twitter de uma cosplayer que ficou empolgada com a revelação, o diretor de narrativa, Matt Sophos, disse o seguinte:

Eles também têm gnomos azuis na mitologia nórdica? O Loki era filho de um semideus grego? Por favor, me mostre onde em Eddas diz que todos os Jötunn eram lírios brancos. Deixa-me poupar o seu tempo… você não pode. Eu os li.

Você sabe que os Jötunn não são reais, certo? Eles podem ser qualquer um ou qualquer coisa. Alguns até eram serpentes. Mas eu entendo. Você só estava bem com o Jörmungandr porque suas escamas eram brancas, certo? Bem, boa sorte para você. Espero que encontre um jogo que se encaixa melhor com as suas sensibilidades.

Mas enquanto um grupo está destilando todo o seu ódio ao acusar a equipe responsável pelo God of War: Ragnarök de estar buscando visibilidade ao incluir diversidade no jogo, outros estão comemorando justamente esta tentativa do Santa Monica Studios de fugir do lugar comum.

Contudo, se a onda de preconceito disfarçada de cuidado com precisão histórica não fosse suficiente para lamentarmos, há ainda o ataque à liberdade criativa da desenvolvedora. É triste pensar que ainda hoje é preciso profissionais saírem em defesa de suas criações, tendo que justificar porque fizeram isso ou aquilo. E como estamos falando de um jogo que não se propõe a ser um documento histórico, essa necessidade de explicações se torna ainda mais absurda.

A discussão provavelmente se estenderá por um bom tempo, mas o que tranquiliza é saber que os cães ladrarão, mas a caravana irá passar. O que não descobri ainda é onde estava esse revoltado pessoal quando transformaram o Thor em um sapo; quando Gaia virou uma mera enorme rocha ambulante; ou quando Baldur foi representado como um psicopata, algo muito diferente do que é dito na mitologia nórdica. Aparentemente a indignação só é válida para certas mudanças.



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