Todo lançamento da Apple tem sua dose de controvérsia, e o dos novos iPhones não é exceção: o iPhone 11 Pro e sua versão maior, o iPhone 11 Pro Max, os atuais modelos de ponta da maçã estariam disparando respostas desconfortáveis em pessoas que sofrem de tripofobia, um tipo de medo supostamente ligado a resquícios evolucionários. A culpa seria das câmeras traseiras, ou melhor, a posição delas.
DISCLAIMER: As imagens deste post podem ser incômodas para algumas pessoas.
Durante o anúncio do iPhone 11 Pro, a Apple destacou a presença das câmeras, sendo duas de 12 megapixels também presentes no iPhone 11; a primeira traz ângulo normal e abertura f/1,8, enquanto a segunda possui ângulo Ultrawide e f/2,4. A terceira, exclusiva do 11 Pro e Pro Max também possui 12 MP, mas conta com zoom óptico de 2x.
O conjunto traz um LED melhor que o do iPhone 11 e um microfone dedicado a fazer “zoom de áudio”, para aumentar o volume de vídeos captados à medida que você aproxima o foco. A disposição dos sensores, do Flash e do microfone (a Apple não embarcou no trem do sensor ToF, talvez porque não o julga necessário) segue um padrão encadeado, como num favo de mel (ou um cooktop, se formos maldosos… e somos), para se diferenciar da maioria dos concorrentes, com exceção do Nokia 9 PureView.
Sendo justo, o celular da Nokia foi o primeiro a disparar reações dos ditos tripofóbicos, mas quando se trata da Apple, as coisas sempre escalam.
O que é tripofobia?
O termo tripofobia (do grego trýpa, buraco e phobos, medo) foi usado pela primeira vez em 2005, em um fórum do Reddit (os problemas começam aí, mas chegarei lá) para designar o medo irracional ou aversão a padrões irregulares ou conjuntos de buracos encadeados, geralmente pequenos e muito próximos.
Pense em um favo de mel ou veja a imagem abaixo, de um cacho de sementes de lótus, que você vai entender melhor.
As respostas a uma imagem do tipo variam muito de pessoa para pessoa, indo desde um leve desconforto a expressões de pânico e repulsa severa. O primeiro estudo descrevendo o distúrbio foi publicado em 2013 (cuidado, PDF), pelos Drs. Geoff Cole e Arnold Wilkins, do Departamento de Psicologia da Universidade de Essex. No artigo, os pesquisadores apontam que as causas do incômodo podem estar ligadas à forma como o ser humano evoluiu.
Segundo Cole, o caso que levou à pesquisa foi de uma pessoa que relatou ter um medo irracional do polvo-de-aneis-azuis, uma das espécies mais venenosas do planeta (obrigado de novo, Austrália). A investigação mostrou respostas semelhantes em pessoas que viam padrões circulares irregulares em espécies historicamente perigosas ao homem, como escamas de cobras e de crocodilos.
A tripofobia também é disparada por padrões circulares cutâneos, causados por doenças altamente infecciosas e fatais como sarampo e varíola. No mesmo balaio, entram infestações por vermes, como as causadas por bernes, as larvas da mosca-berneira (Dermatobia hominis), cujos casos são comuns na América Central e do Sul, incluindo as áreas rurais do Brasil.
Dica para a vida: nunca pesquise por “calcanhar de maracujá” no Google Imagens. Você foi avisado.

Em 2017, materiais promocionais da 7ª temporada de American Horror History flertaram com a tripofobia e incomodaram muita gente, como esperado
A conclusão que se chega é que no caminho para a Evolução, o Homem aprendeu a rejeitar e evitar animais que apresentem um padrão de círculos irregulares encadeados, assim como teve que gerar repulsa em indivíduos infectados, algo nocivo para a tribo. É semelhante ao medo irracional de aranhas e cobras que muita gente tem, por serem animais especialmente perigosos.
O dr. Jenkins trabalha com ainda outra hipótese, de que a configuração de buracos, manchas e caroços irregulares tenha ligação com propriedades matemáticas, tais como as de imagens que causam incômodo visual ou dores de cabeça, o que explica tais imagens supostamente afetarem até quem não é tripofóbico. Segundo o pesquisador, o cérebro teria dificuldades de processar o que vê, passando a exigir mais oxigênio e mais energia para lidar com o problema, o que levaria a um desconforto geral.
Até o momento, a tripofobia não é considerada uma desordem mental (como outras fobias) por ter se originado através de discussões na internet, mas há correntes que defendem sua inclusão na categoria de fobias específicas; não há um tratamento oficial para o distúrbio, embora psicólogos trabalhem com pacientes usando terapia de exposição, de modo a fazê-los se acostumarem com os padrões e diminuir as respostas incômodas.
O tema vira e mexe é usado no entretenimento em conteúdos voltados a chocar o público, como a 7ª temporada de American Horror History, ou todas as obras de Junji Ito, considerado um dos mestre do gênero mangá de terror.
iPhone 11 Pro x Evolução
Os novos iPhones seriam os primeiros que não contaram com a mão do designer Jony Ive, que deixou a maçã em junho, log, é de se supor que o design encadeado das câmeras do 11 Pro e 11 Pro Max tenham sido um acidente, pautado na necessidade da empresa de fazer diferente dos concorrentes.
Dessa forma, o design com as câmeras alinhadas em fila, seja na vertical ou na horizontal, como a Samsung já usou e ainda usa, jamais seria o escolhido para figurar nos novos aparelhos. Assim, a elevação quadrada precisa acomodar a terceira câmera nos modelos maiores de forma encadeada, assim como o Flash e o microfone.
Desde o anúncio dos novos iPhones, muitos usuários reclamam na internet que a posição das câmeras disparou respostas de tripofobia, só que como a Apple é agora o alvo, não seria surpresa se as pessoas estivessem aumentando ou inventando reações.
Ao mesmo tempo, por mais que as pessoas relatem se sentirem mal ao olharem para o celular, a tripofobia ainda não é reconhecida como uma patologia legítima e há resistência da comunidade médica em fazê-lo, pelo simples fato de que ela surgiu na internet.
Independente disso, cabe à Apple ficar de olho nas reclamações e separar o joio do trigo, para o caso de que realmente o iPhone 11 Pro esteja causando incômodo; se comprovado, é algo a se levar em conta para o iPhone 12 Pro.
Com informações: BBC.
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