A linguagem Scratch, usada por milhares de crianças em todo o mundo para aprender lógica e princípios de programação, foi bloqueada na China. A decisão de banir a ferramenta, usada no currículo escolar do país se deu por causa de projetos publicados no site oficial, que tocaram em assuntos sensíveis ao país.
O Scratch foi desenvolvido pelo MIT Media Lab e disponibilizado pela primeira vez 2002, com o lançamento estável em 2007. Trata-se de uma linguagem de programação visual em blocos, voltada principalmente para crianças e leigos, criada com o intuito de ensinar as bases lógicas de ferramentas comerciais, bem como linguagens diversas como C, Java, Python e outras funcionam.
Sua interface intuitiva foi pensada para o uso em salas de aula, o que permitiu o Scratch ser adotado por instituições educacionais em todo o mundo, inclusive no Brasil; ajuda também o fato de que o projeto foi traduzido para mais de 40 idiomas, português incluso.
Na China não foi diferente, o Scratch fazia parte do material escolar oficial sancionado pelo Partido Comunista chinês, e os alunos tinham acesso tanto ao compilador, que funciona offline, quanto ao site oficial, que hospeda projetos e tutoriais.
Bom, “tinha” do verbo “não mais”.
Segundo informações da GreatFire.org, organização que monitora quais sites foram censurados na China, o bloqueio ao portal do Scratch foi instaurado no dia 20 de agosto de 2020, no entanto, um usuário denunciou o banimento seis dias antes.
A título de curiosidade, o Meio Bit não está bloqueado na China… por enquanto.
Atualmente, o portal do Scratch está completamente inacessível no País do Meio, o que impossibilita a estudantes chineses acessarem novos materiais e tutoriais disponibilizados pelo projeto.
O compilador por sua vez funciona localmente, o que significa que crianças poderão continuar a usá-lo, ao menos até o momento em que for também banido das salas de aula do país, o que pode não demorar a acontecer.
Afinal, o que aconteceu? Segundo uma publicação oficial (em chinês) da imprensa chinesa, que foi ao ar um dia após o bloqueio, projetos publicados no portal do Scratch “insultaram profissionais do país”, ao conterem “conteúdos humilhantes, falsos e difamatórios contra a China”.
Na prática, os tais projetos (que podem ou não serem chineses) listavam territórios como Taiwan, Hong Kong e Macau como independentes, assunto este espinhoso para Pequim, que considera os três como parte do país; basta ver a situação atual de HK e lembrar que no passado, o premiê Xi Jinping ameaçou invadir Taiwan e impor uma reunificação forçada.
Segundo o governo chinês, qualquer site ou serviço que atue localmente e que publique informações sobre o país deve seguir as regulamentações do Partido Comunista da China, o que em última hipótese, deveria levar à censura dos projetos “problemáticos” no território. Como isso não aconteceu, o portal foi banido.
Segundo a imprensa local, o banimento do Scratch seria uma forma de fomentar o desenvolvimento de linguagens de programação locais, tanto comerciais quanto educacionais, de modo a depender cada vez menos de produtos externos.
É preciso lembrar que desde os imbróglios entre China e Estados Unidos envolvendo empresas como a ZTE e a Huawei, ou produtos como o TikTok se tornaram comuns, o desejo de eliminar produtos e soluções externas, a fim de desenvolver os seus próprios vem se tornando cada vez mais forte na China.
Com informações: TechCrunch
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