A queda significativa nas vendas de automóveis premium, atribuída também à crise econômica agravada pela pandemia do coronavírus, levou a montadora Mercedes-Benz a encerrar a produção de seus carros no Brasil. A decisão afetará 370 funcionários da companhia em Iracemápolis, interior de São Paulo, que não serão demitidos imediatamente e poderão, entre as hipóteses, aderir a um programa de demissão voluntária.
Inaugurada em 2016, a fábrica recebeu R$ 600 milhões em investimentos e produzia o SUV GLA e o sedã médio Classe C. Novas unidades do SUV não surgem desde setembro, enquanto os processos relacionados ao sedã acabaram na última quarta-feira (16). A meta, afirma a Mercedes, era fabricar até 20 mil veículos por ano, mas apenas 1.206 GLA e 1.785 Classe C foram emplacados entre janeiro e novembro de 2020, segundo dados da Fenabrave.
Com 24.235 habitantes, Iracemápolis perde, assim, o segundo maior empregador do município. “Entre empregos diretos e terceirizados, a Mercedes ocupava de 500 a 600 trabalhadores”, disse o gerente administrativo Luiz Marrafon à ISTOÉ.
Mercedes encerra operações em fábrica no interior de São Paulo.Fonte: Reprodução
Quem segue caminho semelhante é a Audi, que, com o fim de incentivos, deve abandonar sua linha de produção em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba, no Paraná.
Por enquanto, uma das confirmações é que a montagem da atual geração do modelo A3 na unidade será encerrada ainda em 2020. De todo modo, a montadora declara estar em contato direto com o governo federal para evitar medidas mais extremas.
Declínio industrial brasileiro
O relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento divulgado em 2016 já alertava para um fenômeno que classificou como desmantelamento precoce da indústria no Brasil, ou seja, o setor deve entrar em colapso antes de atingir todo seu potencial.
No começo da década de 1970, indica o documento, a participação das manufaturas na geração de emprego e valor agregado no Brasil correspondia a 27,4%. Em 2014, essa participação caiu para 10,9%. Segundo o IBGE, a taxa em 2018 era de 11%.
Indústria brasileira pode entrar em colapso antes de atingir todo seu potencial.Fonte: Pexels
Choques econômicos vividos pelo mercado nacional nos anos 80, abertura comercial nos anos 90, abandono das políticas desenvolvimentistas e emprego da taxa de câmbio como ferramenta no combate à inflação intensificaram o processo, na avaliação do estudo, reforçado, ainda, por reformas liberalizantes do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial e, mais recentemente, pela pauta exportadora focada em commodities e por um real considerado valorizado.
Reverter a situação é possível, indica o levantamento: “A experiência de sucesso de países industrializados demonstra que a transformação estrutural exige atenção a diferentes fontes de crescimento, incluindo estimular investimento privado e público, apoiando o desenvolvimento tecnológico, fortalecendo a demanda doméstica e aumentando a capacidade dos produtores domésticos de cumprir exigências internacionais.”
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