Muito, mas muito atrás da Látvia

O preclaro leitor conhece a República da Látvia? Não é um país muito conhecido. Nem muito grande: ocupa uma área de 65 mil km, ligeiramente superior à do Estado da Paraíba, e abriga pouco mais de dois milhões de almas. Sua capital é Riga, que concentra mais de um terço da população. Se situa no Norte da Europa, às margens do Mar Báltico, confrontando com Estônia, Lituânia, Rússia e Bielorrússia. Tornou-se independente da Rússia no início do século passado, mas depois disso foi ocupada pela Rússia, pela Alemanha Nazista e novamente pela Rússia, só recuperando sua independência há pouco mais de vinte anos. No inverno, faz um frio de cão (a temperatura média de dezembro a fevereiro é inferior a três graus negativos) e, tanto quanto eu saiba, a única coisa que me vem à mente referente a Látvia é o pinho de Riga. Então que diabos a Látvia está fazendo logo na abertura de uma coluna sobre tecnologia? Bem, é que no último trimestre do ano passado a taxa de conexão à Internet de que desfrutaram seus cidadãos se situou em oitavo lugar entre as mais rápidas do mundo tanto em valor médio (10,4 Mb/s) quanto em valor de pico (48,8 Mb/s), enquanto a do Brasil, com seus mais de duzentos milhões de habitantes e 8,5 milhões de km ocupou o 83º lugar em valor médio (com vergonhosos 2,7 Mb/s) e 76º em valor de pico (20,4 Mb/s). Descobri estes dados no State of the Internet Report recém publicado pela Akamai – um documento em formato PDF que pode ser baixado pelo leitor e contém uma análise minuciosa do estado da Internet nos últimos três meses de 2013. Akamai em havaiano significa “esperto”, “safo”, “habilidoso”. Foi o nome escolhido para a Akamai Technologies, uma gigante sediada em Massachussets, EUA, especializada em soluções para a Internet. Cada vez que você visita o sítio de um de seus clientes, como o Facebook, por exemplo, seu navegador vai buscar as informações em uma das cópias exatas do sítio abrigada nos servidores da Akamai. Além do Facebook, a lista de seus clientes inclui Twitter, Bing e outros gigantes. Por isso não é de estranhar que pelos 140 mil servidores da Akamai passem 30% do tráfego de Internet mundial. Ora, 30% de todo o tráfego e uma amostra mais do que representativa. Portanto, para a Akamai, basta analisar seu próprio tráfego para chegar a uma análise mais que confiável sobre o estado da Rede em todo o mundo. E não apenas sobre isso, mas sobre qualquer outra coisa que diga respeito à Internet, e sempre com dados absolutamente atualizados. Figura 1: uso de programas navegadores Por exemplo: qual o programa navegador mais usado? A Figura 1, obtida no site da Akamai , mostra a porcentagem das conexões efetuadas por cada um deles aos servidores da Akamai nos últimos quinze dias, revelando a liderança folgada do Google Chrome, com o Internet Explorer brigando com o Mozilla Firefox pelo segundo lugar e o resto brigando para se ver livre da rabeira. Mas deixemos de digressões que isto pouco tem a ver com a coluna de hoje e voltemos ao relatório da Akamai sobre o estado da Internet no último trimestre de 2013. O relatório é um documento muito bem apresentado e fartamente ilustrado com capítulos que discutem pormenorizadamente o que aconteceu naquele trimestre nos campos da Segurança, Penetração da Internet, Distribuição Global e Por Regiões (EUA, o restante das Américas, Asia e Oceano Pacífico e EMEA – Europa, Oriente Médio e África), Conectividade Móvel e, finalmente, um relato e análise dos principais eventos e interrupções do serviço na Rede. São quarenta suculentas páginas prenhes de dados que, evidentemente, não dá para analisar aqui. Vamos, então, nos restringir a um ponto: a distribuição da Internet no mundo e a posição do Brasil neste contexto. No período analisado a média mundial da taxa de conexão à rede cresceu 5,5% e com isto atingiu 3,8 Mb/s. Mas, curiosamente, dos 10 países ou regiões com maior taxa média, metade apresentou queda em relação ao trimestre anterior. Um deles foi a Coréia do Sul, cuja queda de 1,1% na taxa média não foi suficiente para roubar-lhe a liderança, pois seus 21,9 Mb/s permaneceram como a maior taxa média mundial. Que, apesar da queda sofrida por alguns países no último trimestre, apresentou em todo o ano um crescimento médio de 27% sem que qualquer país apresentasse redução.   Aliás, esta tendência ao crescimento predomina. Entre os países ou regiões qualificados para a análise (aqueles com mais de 25 mil endereços IP cadastrados à plataforma Akamai), 78 registraram durante último trimestre do ano passado um crescimento da taxa média de conexão variando de 0,2% no Brasil (2,7 Mb/s) a 50% no Quênia (1,9 Mb/s). No que toca ao crescimento anual, os campeões foram a Irlanda, com 59% e a Coreia do Sul, com 57%. Veja, na figura 2, obtida no relatório da Akamai, uma tabela com a lista de países em ordem decrescente conforme o valor de suas taxas de conexão médias, a variação no trimestre considerado e a variação anual. E repare na oitava posição sustentada pela Látvia. Figura 2: os dez países com mais rápidas conexões à Internet (valor médio) Curiosamente, a distribuição dos países em relação ao valor de pico da taxa de conexão (a média dos valores máximos das taxas de conexão obtidas por cada endereço IP daquele país ou região) é diferente daquela obtida para o valor médio e mostrada na Figura 2. A título de comparação veja, na tabela da Figura 3, a lista dos países em ordem decrescente do valor de pico de suas conexões à Rede, o valor de pico obtido no último trimestre de 2013, o crescimento porcentual em relação ao trimestre anterior e o crescimento anual em 2013. Figura 3: os dez países com mais rápidas conexões à Internet (valor de pico) E o Brasil, como é que fica neste cenário? Mal, como era de esperar. Primeiro, vamos examinar nossa posição relativa usando exatamente os mesmos critérios usados acima: valores médio e de pico da taxa de conexão à Internet. Figura 4: os 14 países das Américas com mais rápidas conexões à Internet (média e pico) Para facilitar, vamos juntar ambas as tabelas na Figura 4, a da esquerda listando os dez países das Américas com conexões mais rápidas ordenados decrescentemente em relação ao valor médio da conexão e a da direita uma tabela homóloga considerando o valor de pico. A primeira coluna de cada tabela mostra a classificação do país em relação a todos os países analisados. As demais colunas são equivalentes às das figuras anteriores: nome do país, taxa em Mb/s (valor médio na tabela da esquerda, valor de pico na da direita), crescimento porcentual no último trimestre de 2013 e crescimento porcentual anual). Excetuando os EUA, cujos dados já foram mostrados nas tabelas anteriores, a conexão mais rápida segundo valores médios nas Américas foi a do Canadá, a 16ª do mundo com seus 9 MB/s. E a mais lenta a da Bolívia, a 135ª do mundo com seus 1 Mb/s. Já no que toca aos valores de pico, a mais rápida ainda é no Canadá (40,5 Mb/s) a 18ª considerando todos os países analisados, e a mais lenta a da Venezuela, 129ª do mundo, com 10,4 Mb/s. E o Brasil, como fica? No que toca a nosso valor médio registrado de 2,7 Mb/s, ficamos um pouco abaixo do meio da tabela: ocupamos o nono lugar entre os países das Américas e o 83º do mundo. Já no que diz respeito aos valores de pico, estamos um pouco melhor: somos o sexto das Américas com 20,4 Mb/s e o 76º do mundo. Quando se trata da análise de países (e não na de regiões) o relatório da Akamai diferencia as taxas de conexão mais rápidas em dois patamares, o primeiro quando seu valor médio se situa entre 4 Mb/s e 10 Mb/s (que chama de “alta taxa”, (“broadband”, em inglês) e o segundo quando o valor médio ultrapassa os 10 Mb/s (que chama de “high broadband”; seria isso “alta alta taxa” ou “altíssima taxa”? Você escolhe). Esta subdivisão se presta à criação de um novo parâmetro que permite comparar a relação entre os números de conexão de um e de outro tipo. Esclarecendo: nos EUA, uma em cada três conexões (33%) é fechada com taxas acima dos 10 Mb/s, enquanto no Chile isto ocorre apenas com uma entre 83 conexões (1,2%). Já no que toca ao limiar de 4 Mb/s, nos EUA três em cada quatro conexões (75%) são feitas com taxas acima deste valor, enquanto que no Chile apenas uma em cada quatro (26%) ultrapassam os 4 Mb/s. Como interpretar isso? Simples: um alto valor da porcentagem de conexões acima de 10 Mb/s significa que se pode classificar genericamente as conexões naquele país como “rápidas”. Já uma baixa porcentagem de conexões acima de 4 Mb/s permite classificar genericamente as conexões naquele país como “lentas”. Figura 5: distribuição de taxas de conexão superiores a 10 Mb/s e a 4 Mb/s nas Américas Veja na Figura 5 a lista dos países das Américas classificados em ordem decrescente de acordo com a porcentagem de suas conexões superiores a 10 Gb/s na tabela da esquerda e a 4 Mb/s na tabela da direita. E repare que, nem em uma nem em outra, a posição do Brasil é invejável. Eu poderia especular sobre as razões que nos fazem ficar em posição tão inconfortável em todas estas listas, pois tenho cá minhas teorias. Mas, pelo menos por agora, acho mais conveniente apenas oferecer os dados para sua análise. Depois, quem sabe, os discutiremos. Mas a seção de comentários aí embaixo está à disposição de todos para dar seus pitacos, que serão muito bem aceitos. Basta se registrar (um processo rápido e indolor) e expor suas ideias. B. Piropo Problemas com velocidade de Internet? Confira as dicas no Fórum do TechTudo. saiba mais Leia todos os artigos de B. Piropo Evolução tecnológica Um preconceito ao contrário

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