NASA adia volta à Lua para 2025 e prioriza o SLS

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Em uma coletiva de imprensa realizada nesta terça-feira (9), a NASA comemorou o fim dos 7 meses de litígio com a Blue Origin, por escolher a Starship da SpaceX como única opção de módulo de pouso lunar do Programa Artemis. No fim, Jeff Bezos saiu derrotado em definitivo.

A paralisação total dos trabalhos com a SpaceX teve suas consequências, e o retorno de astronautas norte-americanos à Lua, anteriormente programado para 2024, foi adiado em um ano. Ao mesmo tempo, a agência espacial se realinhou com a Câmara de Representantes, que não vai com a cara de Elon Musk, ao afirmar que o foguete SLS segue como a principal plataforma do programa.

SLS, a "obra de igreja" da NASA (Crédito: Divulgação/NASA)

SLS, a “obra de igreja” da NASA (Crédito: Divulgação/NASA)

A coletiva contou com a presença de William “Bill” Nelson II, diretor da NASA, e James “Jim” Free, administrador associado para o Desenvolvimento de Sistemas de Exploração da agência espacial. Tendo se passado 5 dias da decisão da Corte de Apelações dos EUA em dispensar o processo da Blue Origin, Nelson não poupou palavras e desceu o sarrafo na companhia de Bezos, dizendo que ela fez os trabalhos acerca do retorno à Lua ficarem completamente parados por quase um ano inteiro.

O diretor não fez questão de esconder que os principais culpados pelo adiamento da primeira missão tripulada à Lua para 2025 são Bezos e os advogados da Blue Origin, visto que a Dynetics, a outra empresa que perdeu a chance de vender seu projeto de módulo de pouso para a NASA, não deu seguimento ao protesto inicialmente feito contra a decisão, quando este foi dispensado. A Blue Origin, pelo contrário, seguiu em frente e processou tanto a agência quanto a SpaceX, alegando que a decisão era “prejudicial ao mercado”.

Bezos acabou fazendo fama de mau perdedor, uma vez que Amazon também entrou com um processo contra o governo dos EUA, quando a empresa perdeu um contrato com o Pentágono para a Microsoft. No fim das contas, a iniciativa inteira foi para o brejo.

No caso da NASA, a agência era legalmente proibida de conduzir qualquer tipo de atividade envolvendo o desenvolvimento da plataforma Starship junto à SpaceX, mesmo discutir o assunto, e todos os pagamentos foram consequentemente congelados. Na prática, a empresa de Elon Musk não pôde sequer dar prosseguimento ao projeto por conta própria.

Nelson só foi autorizado a entrar em contato com Gwynne Shotwell, presidente e COO da SpaceX, após a decisão da Corte de Apelações sair. Só a partir de agora, ambas companhias poderão se realinhar e decidir os próximos passos.

A NASA usou a comitiva para clarificar qual será o cronograma do Programa Artemis daqui por diante, e tratou de explicar alguns pontos de dúvida que pairavam há algum tempo.

Starship, Dynetics HLS e ILV da Blue Origin em escala, com humano para referência (Crédito: John MacNeill)

Starship, Dynetics HLS e ILV da Blue Origin em escala, com humano para referência (Crédito: John MacNeill)

Sobre o prazo “irreal” de Trump

Originalmente, os planos da NASA para uma nova missão tripulada à Lua, que deverá contar com a primeira mulher a colocar os pés no satélite, visavam o ano de 2028, no mínimo, mas isso mudou em 2019, quando o então presidente dos EUA Donald Trump anunciou o Programa Artemis. Visando sua reeleição (o que não ocorreu), o chefe do executivo determinou que a missão seria lançada em 2024, e a agência que se virasse para cumprir o cronograma.

Tecnicamente, tal data não era viável no início, mas como o governo Trump se mexeu para flexibilizar a participação de empresas privadas, como a SpaceX, em detrimento da obra de igreja que é o foguete SLS (Space Launch System) da Boeing, um projeto caríssimo (+ US$ 2 bilhões por lançamento) e que já estava para lá de atrasado.

No fim das contas, Trump perdeu a eleição e a administração atual, sob o comando de Joe Biden, pôde reavaliar as prioridades acerca de uma data mais realista, mas a NASA nunca disse com todas as letras que a meta do presidente anterior era irreal, pois é um órgão do governo e depende de verbas públicas, liberadas pela Casa Branca e o Congresso.

Muito provavelmente o prazo de 2024 não seria cumprido, mesmo que a Blue Origin não processasse o governo, mas a situação acabou por criar um bode expiatório, em quem a NASA irá jogar toda a responsabilidade pelo atraso. Ironicamente, Bezos vai acabar maquiando uma presepada do Trump, e levar a culpa sozinho.

Sobre o foco da NASA no SLS

Os jornalistas presentes na coletiva notaram que o foco da NASA se concentrava principalmente no SLS e na cápsula Orion, a plataforma pela qual a Boeing é responsável, mesmo tendo dedicado um tempo para explicar o rolo entre a agência, a Blue Origin e a SpaceX, que atrasou o desenvolvimento da Starship. Era quase como se o projeto de Musk fosse secundário, o que acabou se confirmando depois.

Jim Free chegou a mencionar que a plataforma Starship possui “dificuldades de arquitetura” referentes ao modo que ela será operada. Embora seja capaz de decolar e pousar sozinho, a espaçonave do Musk não tem combustível suficiente para fazer um voo direto, vencendo o poço gravitacional da Terra e seguir, sem escalas, rumo à Lua ou ao espaço profundo, ao menos, não por enquanto.

O projeto da SpaceX prevê que o Starship seja reabastecido em órbita, enquanto que um outro lançamento, desta vez de um SLS e uma cápsula Orion, será enviado direto para a estação Gateway, na órbita lunar. Lá, a Starship se acoplaria novamente para que os astronautas (três no máximo, é o que cabe na Orion) sejam transferidos para a nave da SpaceX, que só então seguirá para a Lua.

Na volta, a Starship decolaria sem auxílio da Lua e se reconectaria outra vez na Gateway, para transferir os astronautas de volta para a Orion. Só então ambas seguiriam para a Terra, com a tripulação viajando apertada mais uma vez.

Representação artística de uma Starship acoplada à estação Gateway, em escala (Crédito: Reprodução/Reddit)

Representação artística de uma Starship acoplada à estação Gateway, em escala (Crédito: Reprodução/Reddit)

Falando desse jeito parece uma complicação desnecessária, e é, mas a SpaceX projeta que o custo total por lançamento, mesmo com o reabastecimento, ficará em torno de US$ 50 milhões, muito menos que o do SLS, que joga fora um foguete perdido a cada nova missão. Ainda assim, ele é capaz de fazer a viagem de forma direta e sem escalas, o que a NASA entende como uma vantagem.

Essa bagunça existe porque a NASA será obrigada a entubar a existência do SLS, que custou até o momento a inacreditável soma de US$ 18,6 bilhões, e embora seja extremamente seguro, acumulou uma série de atrasos, alguns deles jamais justificados pela Boeing. Como o foguete é um projeto conduzido no modelo antigo de parceria público-privada, ele pertence ao governo dos EUA, que dita como ele deve ser construído, por quem, em que estado e etc.

Além do montante já gasto, que precisa ser justificado para os contribuintes, é preciso lembrar que o SLS é uma plataforma política. A Câmara de Representantes já manifestou, mais de uma vez, sua aversão a contratos mantidos com a Blue Origin e a SpaceX, por estes serem mais flexíveis. A NASA define objetivos, disponibiliza uma verba X e a companhia que se vire para cumprir as metas, inclusive decidindo onde e como construir os módulos.

Esse modelo de contrato não pode ser conduzido por determinações do Congresso, em que políticos podem usar (e usam) o SLS como uma plataforma para gerar empregos e desenvolvimento tecnológico em seus respectivos estados, o que obviamente, se convertem em votos. De modo resumido, a Starship não pode ser transformada em uma bancada eleitoral, diferente do concorrente da Boeing.

Quando questionado diretamente sobre a possibilidade da NASA abandonar o SLS e o Orion em prol da Starship, Bill Nelson foi taxativo: “só existe uma plataforma capaz de fazer lançamentos diretos entre a Terra e a Lua”, este sendo o foguete da Boeing. Talvez por pressão da Câmara, a agência esteja planejando tratar o projeto da SpaceX como um mero backup, ainda que se comprometa a pagar por ele.

A Starship pode acabar se tornando um mero backup (Crédito: Divulgação/SpaceX)

A Starship pode acabar se tornando um mero backup (Crédito: Divulgação/SpaceX)

Por outro lado, a SpaceX possui planos de chegar à Lua e Marte sem escalas, sem depender de reabastecimentos em órbita. O foguete Super Heavy, antigo BFR (de Big F#%&*!§ Rocket mesmo, mas que a SpaceX jurava que era Big Falcon Rocket; no fim mudaram o nome para evitar a fadiga), está sendo projetado exatamente para ser tão ou mais potente que o SLS. São 72 metros de altura, 28 motores Raptor e 3.400 t de combustível, o que seria suficiente para sair de órbita e seguir direto para qualquer destino.

Some-se a isso o fato de que a Starship possui ela própria 6 motores e 1.200 t de combustível, distribuídos em 50 metros, o que a torna suficientemente manobrável e capaz de acelerar, mesmo após ser desacoplada do Super Heavy. Uma Orion, assim como as cápsulas do programa Apolo, viajam “na banguela” a maior parte do tempo.

O primeiro teste dos motores do Super Heavy foi realizado em julho de 2021, com o módulo BF3, que será usado para testes em solo; a companhia diz que poderá testar um disparo de 9 motores com o BF4, o que será usado para lançar uma Starship pela primeira vez.

O teste, ainda sem data, visa fazer o lançamento de uma Starship da base no Texas para um ponto próximo da ilha de Kauai, no Havaí. O BF4 cairá no Golfo do México, onde será recuperado.

Ainda assim, a NASA muito provavelmente não se mostrará interessada em abrir mão do SLS em prol do Super Heavy, por causa de pressões políticas. Ao mesmo tempo, a companhia de Elon Musk não dispõe do cheat de dinheiro infinito que governos têm.

Por fim, há controvérsias se mesmo uma empreitada totalmente privada, visando chegar à Lua ou Marte por conta própria, não seria barrada por envolvimento do governo, de um jeito ou de outro.

Fonte: NASA, Teslarati

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