Jogos de construção de cidades isométricos são comuns, mas poucos conseguem retratar a grande febre que se viveu entre os títulos de duas décadas atrás. Games como Caesar 3 e Pharaoh marcaram época e ajudaram a crescer um gênero de nicho único.
No final de 2020 me chamou a atenção o fato de Pharaoh ressurgir das tumbas, após anúncio de que o game chegaria em uma nova versão. Pharaoh: A New Era ainda segue sem data, mas já está na lista de espera. Foi então que, pesquisando, me deparei com Nebuchadnezzar, jogo que bebe diretamente da fonte.
Nebuchadnezzar, ou Nabucodonosor (bem mais fácil de falar), foi o quarto rei da Segunda dinastia de Isim. Segundo a história, ele foi um dos governantes mais fortes do mundo. Chegou até mesmo a derrotar o Império Egípcio.
Durante muitos anos estudei teologia e é praticamente impossível desvencilhar um dos mais poderosos da história com o descrito nos escritos religiosos, principalmente os que se referem à profecia de Daniel.
Por mais que tenha este nome, Nebuchadnezzar compreende um período mais abrangente da história e o jogo não se limita aos fatos descritos acima. Seu objetivo será desenvolver a cultura da antiga Mesopotâmia ao longo das Eras, até chegar a conquista da Babilônia pelos Persas, no século 6 a.C. Você poderá passar pelos jardins suspensos da babilônia e, quem sabe, encontrar o profeta israelita Daniel.
Aprendendo com o Rei da Suméria
Para quem não é familiarizado com o gênero, Nebuchadnezzar traz uma campanha inicial que lembra um tutorial. Para quem gosta de história ficará feliz com as referências, principalmente do seu tutor. Um personagem chamado Gilgamesh será o responsável em te explicar tudo e mais um pouco para que você possa crescer nas terras inóspitas da Mesopotâmia.
Gilgamesh, cujo nome significa “o velho que rejuvenesce”, foi rei da Suméria e fundador da cidade de Uruk (antiga cidade situada a 270 km ao sul de Bagdá) por volta de 2700 a.C.
Você terá à sua disposição 4 campanhas iniciais que servirão como aprendizado e mais uma série de missões para completar. O jogo ainda disponibiliza um modo de criação robusto, que promete levar os fãs as criações mais espetaculares.
Um caos
Em Nebuchadnezzar, o gerenciamento é bem simples. Alguns locais, como a fazenda, serão responsáveis pela produção da matéria-prima, como leite e trigo. Outras edificações vão fazer o processamento, como as padarias, que transformarão os cereais em pães. Já, a última, e mais importante, os mercados, responsáveis pela distribuição dos bens de consumo.
Os funcionários dessas lojas serão a mola propulsora do seu império. Seu objetivo é vender os itens de porta em porta e aqui começa o primeiro problema. As rotas são totalmente customizáveis, fazendo com que você possa ganhar tempo. Só que o imbróglio começa a surgir no momento em que sua cidade cresce. Você sempre terá que customizar novamente a rota, sempre que uma casa nova aparecer na região.
Por mais que seja minuciosamente adequado para o jogo, com o tempo a confusão começa. É um microgerenciamento chato e que vai te fazer perder um bom tempo para algo chato.
A logística de distribuição é muito bem demonstrada nos menus, com estatísticas e porcentagem de todos os gostos. É até possível ver de forma clara o quando você produz de um bem e o quanto está sendo vendido dele.
Por mais que seja fácil de entender, aqui aparece outro problema. O gerenciamento de crise não facilita sua vida, transformando a diversão num verdadeiro caos psicológico. O tico e o teco vão ter que bater cabeça para achar onde está o entrave que impede o crescimento da sua vila. Pode ser uma rua que impede o acesso, ou até mesmo um problema mais grave na distribuição.
Pau que nasce torto…
Como dizia aquela banda brasileira, começou errado, já era. Nebuchadnezzar é um resumo perfeito de tudo aquilo que foi escrito na letra da música. Para você fazer sua cidade prosperar, além do micro gerenciamento explicado acima, precisará exportar seus bens de outros locais. Somente assim você vai conseguir arrecadar ouro, que é a base para a construção e desenvolvimento da cidade.
Se a sua região não for próspera no gerenciamento, se ela der prejuízo, será praticamente impossível captar dinheiro. Esta poderia ser uma modificação importante no futuro. Talvez colocar impostos nos produtos para que o jogador não fique refém das caravanas para arrecadar ouro.
Nostalgia pura
Os gráficos não empolgam, mas são fiéis aos grandes clássicos do gênero. Vale destacar que aqui não é o foco do jogo. Porém, isto não significa que eles não sejam bem feitos. O fato da população ser mostrada de uma forma maior do que o normal facilita o entendimento de tudo o que está acontecendo na cidade. Aumenta a imersão e a sensação de controle do que ocorre na região.
A trilha sonora é simples, com pouca variação, mas é muito boa e nos remete aos jogos antigos, principalmente o encontrado na franquia Age of Empires. Outro dia deixei o game ligado no menu inicial só para ficar escutando a música.
Vale a pena?
Nebuchadnezzar possui elementos clássicos importantes para o seu sucesso. Necessita de implementações e variações, principalmente no que se refere ao gerenciamento e captação de ouro. O desafio pode ser intenso, deixando a diversão um pouco de lado, afastando aqueles que buscam entretenimento. Para os verdadeiros fãs de jogos deste gênero, vale a tentativa, até para relembrar os grandes títulos feitos no passado.
NOTA 75
“Hora de construir os jardins suspensos da Babilônia”
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