Nova criptomoeda pode causar escassez de HDs e SSDs

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Uma nova criptomoeda pode causar uma nova onda de escassez e preços exorbitantes no mercado de componentes para computadores, desta vez focado em HDs e SSDs. Desenvolvida pelo criador do BitTorrent, a Chia se coloca como uma opção ecológica ao método de mineração atual, usando espaço de armazenamento para a realização dos cálculos de geração das moedas virtuais.

Embora ainda não esteja disponível para o usuário comum, isso não impediu mineradores chineses de iniciarem uma corrida para comprar grandes quantidades de HDs e SSDs nos últimos dias, o que pode se tornar um movimento generalizado em pouco tempo.

Disco rígido por dentro (Crédito: StockSnap/Pixabay)

Disco rígido por dentro (Crédito: StockSnap/Pixabay)

A maioria das criptomoedas disponíveis, como Bitcoin, Ethereum e outras, utilizam o método de “proof-of-work” para disponibilizar fragmentos aos usuários. Ao disponibilizarem poder computacional para o cálculo de uma nova moeda virtual, frações dela são revertidas a todos que colaboraram com o esforço.

Quanto mais poder, mais fragmentos, e por isso mineradores adquirem quantidades insanas de placas de vídeo para montar seus grids. O mercado se beneficiou da corrida por anos, afinal a procura era maior que a demanda, e os preços explodiram. Se o consumidor não conseguia comprar uma GPU para seu PC, ou se notebooks gamers ficaram ridiculamente caros, o problema era do usuário.

O mercado só começou a dar sinais de mudança com a pandemia da COVID-19, em que a produção de componentes em geral despencou vertiginosamente, graças à escassez de semicondutores e matéria-prima. Sem ter como produzir nem o mínimo para os consumidores que realmente importam às fabricantes, que são os clientes corporativos, e não ter nem o mínimo para justificar os novos lançamentos, empresas começaram a estudar meios de inibir o uso de GPUs para mineração.

No cenário mais imediato, o preço das GPUs se tornou ainda mais insano, estourando a marca dos 5 dígitos para os modelos de ponta, e mesmo as de entrada e defasadas se tornaram ridiculamente caras. Até o mercado de usados, movimentado por consumidores não-mineradores (GPUs usadas em grids são em geral inúteis para uso final, após forçadas ao extremo por longos períodos de tempo), está lucrando bastante com o repasse de placas de vídeo.

É preciso notar que o mercado geral de componentes enlouqueceu com a pandemia. Com menos matéria-prima, menos produtos e consequentemente, preços mais caros. De processadores a displays e placas-mãe, e mesmo produtos não necessariamente ligados, como gabinetes, foram reajustados. Os HDs e SSDs por enquanto continuam razoavelmente disponíveis e por preços civilizados, mas isso pode mudar em breve.

Tudo por causa da Chia.

Sementes de chia (Crédito: Stacy Spensley/Flickr) / criptomoeda

Sementes de chia (Crédito: Stacy Spensley/Flickr)

Não esta.

De acordo com o manifesto (cuidado, PDF) publicado pela startup chinesa Chia Network, a nova criptomoeda Chia se destaca das demais disponíveis no mercado por não usar o método de “proof-of-work” para a concessão de fragmentos aos colaboradores. Ao invés disso, ela usa o conceito de “proof-of-space”, em que espaços não utilizados em unidades de armazenamento são usados para a geração das moedas, e quanto mais espaço dedicado, mais fragmentos. Segundo o paper, a Chia resolve problemas de identificação dos participantes causadas por falhas no método tradicional de “proof-of-stake”.

A Chia foi concebida pelo programador norte-americano Bram Cohen, criador do protocolo P2P do BitTorrent, como uma alternativa ecológica à mineração de criptomoedas tradicional. A lógica é que não apenas HDs e SSDs consomem menos energia e emitem menos gases do efeito estufa do que GPUs, como são muito mais baratos do que as placas de vídeo. Pelo menos até o momento, antes da moedinha virtual de Cohen se tornar real.

Isso porque embora a Chia ainda não esteja disponível para mineração por usuários finais, a companhia de Cohen já despertou interesse de potenciais investidores, como a Andreessen Horowitz, que injetou US$ 3,4 milhões na empresa, viabilizando um possível IPO parcial, podendo levantar um capital de até US$ 50 milhões, sem colocar uma única criptomoeda sequer no mercado.

Claro que criptomoedas vêm e vão, algumas dão certo e outras não, mas a proposta da Chia, endossada por um profissional minimamente respeitado na comunidade e real, diferente dos Satoshis Nakamotos da vida, e que já recebeu um aporte financeiro sem nem mesmo disponibilizar seu produto, já levou os mineradores chineses a uma previsível corrida por unidades de armazenamento.

Segundo informações do site de Hong Kong HKEPC (em chinês), consumidores estão comprando em massa HDs e SSDs de grandes capacidades, variando entre 4 e 18 TB, já criando estoque para a composição de grids e arrays para a mineração da Chia, aproveitando o momento em que os componentes ainda podem ser adquiridos por valores civilizados.

E como manda a Lei da Oferta e Procura, pouca disponibilidade de um produto leva a uma escalada de preços, e como tudo que envolve mineração de uma criptomoeda, os valores podem se tornar insanos à medida que as unidades sumirem do mercado, algo que será agravado intensamente devido a falta de matéria-prima, causada pela pandemia da COVID-19.

Uso de arrays de HDs e SSDs para mineração pode se tornar comum (Crédito: EMC) / criptomoeda

Uso de arrays de HDs e SSDs para mineração pode se tornar comum (Crédito: EMC)

Os efeitos foram imediatos. De acordo com a reportagem, os preços das unidades foram reajustados conforme o aumento da procura, de US$ 26 a US$ 77 em média. Todos os produtos relacionados a armazenamento, desde os dedicados a usuários finais, como as unidades voltadas a clientes corporativos, estão sumindo das prateleiras e sites de e-commerce, e os preços estão sendo reajustados conforme a procura, que tende a aumentar.

O ponto principal aqui é que diferente de uma criptomoeda tradicional, que são processadas com mais velocidade de acordo com a potência provida, o que leva à procura maior por GPUs de alta performance, a Chia não exige um componente de última geração, baseando-se apenas na quantidade de espaço provido pelo minerador para os cálculos. Dessa forma, qualquer tipo de HD ou SSD serve, desde os mais antigos aos mais novos, incluindo unidades externas (como pendrives, embora seja muito difícil que sejam viáveis para isso) e unidades de expansão M.2 e NVMe, por exemplo.

O argumento de “criptomoeda verde” depende também de outros fatores, como o grid energético ao qual os usuários mineradores estão ligados, pois nada adianta se a energia fornecida for de termelétricas movidas a carvão, ou mesmo por hidrelétricas, que promovem grandes impactos ambientais.

Em última análise, a Chia só servirá para minar um dos últimos componentes para PCs cujos preços não enlouqueceram e que ainda pode ser adquirido com razoável facilidade. Pode ser que a moeda em si não vingue como tantas outras, mas na possibilidade dela se estabelecer como uma opção sólida de mineração, é certo que os HDs e SSDs sumirão do mercado, e os poucos que restarem custarão os olhos da cara. Como aconteceu com as GPUs.

Fonte: Tom’s Hardware, ExtremeTech

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