fbpx

O mistério do Triângulo das Bermudas: o que a ciência diz

O Triângulo das Bermudas todo mundo conhece ou já ouviu falar, mas aonde fica, o que há de verdadeiro, o que há de exagero e o que há de misterioso? Bem, como o MeioBit não é o History Channel, você já deve estar antecipando…

1 – O que é o Triângulo das Bermudas?

Segundo a lenda o Triângulo das Bermudas seria uma região do oceano onde estranhos fenômenos atmosféricos, eletromagnéticos, temporais e gravitacionais ocorreriam. Navios desapareceriam sem deixar vestígios, aviões sofreriam desorientação quando seus sistemas de navegação parassem de funcionar, os rádios teriam suas comunicações cortadas e eles sumiriam mais rápido do que se atacados por Langoliers.

Embora (dizem) o Triângulo das Bermudas exista desde tempos imemoriais, o primeiro “desaparecimento” registrado é de 1945, e a primeira referência à área é de um artigo de jornal de 1950.

2 – Onde fica o Triângulo das Bermudas?

Essa é fácil e difícil de responder, pois cada autor dá uma localização um pouco diferente, mas na média o Triângulo das Bermudas tem seus vértices em Miami, Porto Rico e o Arquipélago das Bermudas, cobrindo uma área de quase 4 milhões de Km2.

3 – Quantos navios e aviões desapareceram por lá?

Depende, as quantidades variam. Na percepção popular, milhares, todos os dias. Segundo uma lista indiscriminada, foram 14 incidentes aéreos e 15 incidentes envolvendo navios. Todos sem explicação, exceto os que foram investigados, esclarecidos mas não removidos dos livros.

4 – Como o Triângulo das Bermudas ficou tão famoso?

Essencialmente por causa desse sujeito aí de cima, Charles Berlitz, e antes que você faça a piada, sim, ele era neto do fundador do curso de inglês, que em nova York se chamava só curso.

Berlitz era autor de livros e dicionários de bolso na escola da família, mas seu interesse mesmo era escrever sobre o paranormal, incluindo Atlântida, Roswell, Projeto Filadélfia, Arca de Noé e, principalmente, o Triângulo das Bermudas, que rendeu um livro em 1974 que vendeu nada menos que 20 milhões de exemplares em 30 idiomas.

Do dia para a noite uma superstição vaga restrita à população local se tornou algo que “todo mundo sabia”, culminando em pessoas questionando se seus vôos passariam pelo temível “Triângulo do Diabo”. Existe muita gente que até hoje acha que a área é evitada por aviões e navios, que fazem de tudo para não passar nem perto.

5 – Qual o Mistério do Triângulo das Bermudas?

A lista de explicações sugeridas pelos entusiastas para o Triângulo das Bermudas é bem eclética:

5.1 – Aliens

Talvez cansados de aumentar a quantidade natural de orifícios em bovinos, os aliens tenham estabelecido uma base submarina na região do Triângulo das Bermudas, abduzindo aeronaves e navios para fazer suas terríveis experiências sexuais com os tripulantes. o que justificaria o avistamento de USOs (sunidentified submerged objects) na região.

5.2 – Atlântida

Alguns defensores do Triângulo das Bermudas dizem que o lendário continente perdido de Atlântida, que dependendo da verba do filme pode ser reduzido a uma cidade, fica na região do Triângulo, e as abduções ocorrem quando os humanos chegam perto demais de onde não deviam.

5.3 – Meteoro Misterioso

A idéia é que um meteoro alienígena gigantesco tenha caído na região, e seja responsável pelas anomalias eletromagnéticas do Triângulo das Bermudas, mais ou menos como Wakanda, mas T´Challa no caso seria muito mais molhadinho e ao invés de pantera seria o Bagre Negro.

5,4 – Stargate

Uma variação da teoria dos Aliens, haveria um stargate no fundo do mar, usado por raças alienígenas como porta de entrada para nossa região do espaço, e quando acionado causaria as tais anomalias. Uma sub-variação dessa hipótese é que um mini-buraco negro seria o culpado.

5.5 – Bolhas Gigantes de Metano

Essa é mais cientificamente plausível, sugere que campos de detritos no fundo do mar formariam bolhas de Metano, que cresceriam até se tornar gigantescas, então se desprenderiam da lama e subiriam para a superfície, causando alterações na densidade da água, e sugando os navios, que seriam despedaçados pelo movimento súbito.

6 – Vôo 19 – O Caso Mais Famoso

No dia 5 de Dezembro de 1945 um vôo de treinamento decolou de Ford Lauderdale, Flórida. Cinco torpedeiros TBM Avenger, com 14 tripulantes. O comandante era o Tenente Charles Carroll Taylor, veterano da Guerra do Pacífico, com 2500 horas de vôo.

O vôo era tranquilo, decolariam, seguiriam para o Sudeste até as Bahamas, depois Norte e então voltariam para Oeste, pousando no ponto de origem.

A decolagem ocorreu às 14h10min, por volta de 15h um outro vôo na região recebeu uma transmissão pedindo auxílio. A transmissão foi respondida, mas seguiu-se silêncio, até que o Tenente Taylor se identificou, dizendo que as duas bússolas estavam com defeito, que ele estava voando sobre terra, com certeza as Keys (aquele arquipélago enfileiradinho na ponta da Flórida) mas ele não sabia como chegar em Fort Lauderdale.

O comandante do outro vôo instruiu: “Coloque o Sol na sua asa esquerda e siga Norte.”

Taylor respondeu que iria seguir em rumo 30 graus por 45 minutos para não voar em direção ao Golfo do México, e então embicaria para o Norte.

Perguntando, Taylor não respondeu se estava equipado com equipamento de radionavegação.

16h56min Taylor transmite de novo dizendo que estão seguindo rumo Leste, 90 graus por dez minutos. O tempo começa a piorar, nuvens estranhas preenchem o ar, a comunicação fica pior e pior. 17h24min Taylor transmite, “Vamos voar Oeste 270 graus até ficarmos sem combustível”

18h04min, outra transmissão: “Mantendo 270, não voamos para Leste o suficiente, melhor guinar para Leste novamente”

18h20min, a última mensagem: “Todos os aviões em formação cerrada, vamos ter que pousar na água se não acharmos terra. Quando o primeiro avião ficam com menos de 10 galões de combustível, pousamos todos juntos”

Depois disso, nenhum sinal, e para piorar, um PBY Catalina que foi mandado para procurar pelo vôo do Tenente Taylor desapareceu sem deixar vestígios com 13 tripulantes a bordo. Nada foi encontrado, o mistério perdura até hoje…. tcham tcham tchaaaammm….

O que a ciência diz

Nem demorou. Um ano depois de Berlitz, foi publicado um livro chamado The Bermuda Triangle Mystery: Solved , de Larry Kusche, um pesquisador americano. Ele estudou os relatos de Berlitz e achou dezenas de inconsistências, entre elas:

  • Um navio desaparecido que teria saído de um porto no Oceano Atlântico mas ele desapareceu de um porto de mesmo nome… no Pacífico.
  • Barcos desaparecidos que reapareceram mas Berlitz esqueceu de tirar da lista
  • Aviões que teriam caído em uma praia cheia de gente mas nenhum jornal local menciona o acidente
  • Condições meteorológicas ignoradas; barcos e aviões desaparecidos em tempo ruim viravam desaparecimentos misteriosos
  • Testemunhos e relatos inconsistentes com os dados dos inquéritos investigativos
  • Acidentes ocorridos fora do Triângulo das Bermudas tratados como sendo parte dele.

Várias outras afirmações de Berlitz foram desmentidas por outras fontes. Ele afirma em seu livro que o Lloyd’s de Londres cobra uma taxa maior para segurar navios que passem pelo Triângulo das Bermudas, e que registram grande número de desaparecimentos.

O Lloyd´s negou que cobre a mais E que tenha registro de naufrágios acima da média na região.

O V.A.Fogg é um petroleiro que é listado em várias compilações de naufrágios misteriosos no Triângulo das Bermudas, dizem que toda a tripulação desapareceu, somente o corpo do Capitão foi achado, em sua cabine, segurando uma caneca de café. Em realidade a Guarda Costeira dos EUA fotografou o naufrágio, com corpos de vários tripulantes. Ah sim, o naufrágio foi na costa do Texas.

Em essência Berlitz criou toda uma mitologia baseando-se em acidentes esparsos e explicáveis, e alguns pontos de superstição local, que ele extrapolou para um fenômeno de proporções continentais.

7 – O risco de passar pelo Triângulo das Bermudas

Vou contar um segredo: Se você já foi bater ponto em Times Square pra gritar YATTA!!, você passou pelo Triângulo. A região é uma das mais navegadas e sobrevoadas do mundo. Veja o tráfego aéreo e naval em um momento de um dia típico:

Quanto ao número de acidentes, em 2013 a WWF fez uma pesquisa para identificar as áreas mais perigosas do mundo para navegação. O Triângulo das Bermudas não ficou nem entre os dez primeiros.

Milhares de navios e aviões passam por ali todos os anos. Os entusiastas se esforçam para achar acidentes que se encaixem como “misteriosos”, mas acabam incluindo misteriosos desaparecimentos como aviões monomotores voando em tempestades de raios de Categoria 6.

8 – Mas e o Vôo 19?

Vários detalhes são omitidos dos relatos fantásticos do Vôo 19, entre eles:

  • O Tenente Taylor chegou atrasado e estava de ressaca
  • Ele não queria voar naquele dia
  • Nenhum dos aviões tinha relógio
  • nenhum dos aviões levava mapas

Essas duas últimas eram importantes pois o treinamento era justamente para ensinar aos pilotos mais inexperientes como navegar usando referências geográficas, sem auxílio externo.

As bússolas do Tenente Taylor terem quebrado não era nada extraordinário, esse tipo de equipamento principalmente em 1945 quebrava toda hora, e eles utilizaram as bússolas de outros aviões do grupo.

Em determinado momento foram captadas transmissões de um dos pilotos questionando a decisão de Taylor, mas a disciplina militar falou mais alto. Não é a primeira vez que isso acontece, nem foi a última, muita gente ainda lembra o fatídico vôo Varig 254, que partiu de Marabá com destino a Belém, mas o comandante ao invés de seguir rumo 27, programou o piloto automático para rumo 270, e apesar de passageiros alertando que estavam na direção errada, o comandante só foi perceber que havia algo errado, tipo o Sol estar se ponto na proa, ao invés do lado esquerdo do avião, quando foi tarde demais.

Taylor tinha um histórico de desorientação, tendo se perdido e abandonado o avião duas vezes, e sua convicção de que estava voando sobre a Keys deixa claro que ele não sabia aonde estava.

Triangulação das transmissões colocaram os aviões do vôo 19 a 100Km ao norte das bermudas, em mar aberto, e voar para o leste só os colocaria mais longe da costa. Quando o combustível acabou as condições eram de tempestade, com ondas de 15 metros. Nada misterioso em sumir num mar assim.

9 – E todos os outros casos?

Seguem o mesmo modelo, lembrando que testemunhas não são confiáveis. As pessoas adoram embelezar suas historias, vide as que no acidente do Eduardo Campos viram o avião em chamas (coisa que não aconteceu, segundo o vídeo) e o sujeito que relatou no Jornal Nacional, emocionado, como chegou até o Deputado ainda vivo e fechou os olhos dele. Apenas pra depois o Eduardo Campos ter que ser identificado por DNA, dada a falta de qualquer pedaço de tamanho significativo.

Não há nenhuma desproporção entre os acidentes no Triângulo das Bermudas e no resto do mundo, como confirma Guarda Costeira da Estados Unidos. E todas as “anomalias”, luzes, sons, bússolas descontroladas misteriosamente sumiram depois da popularização das câmeras digitais e celulares que filmam.

Aviões e navios às vezes desaparecem, é um fato da vida, mesmo com toda a nossa tecnologia o Mundo é um lugar muito grande, e nós somos muito pequenos. Lembra do desparecimento do vôo 370 da Malaysia Airlines em 2014?

Conspiradores idiotas e jornalistas irresponsáveis soltaram suas teorias malucas, mas ninguém minimamente razoável cogita explicações sobrenaturais, as pessoas emocionalmente não aceitam mas entendem que o mar é muito grande muito fundo e é difícil achar coisas nele, mas se o avião tivesse caído no Triângulo das Bermudas IMEDIATAMENTE se transformaria em um dos desaparecimentos mais famosos.

Percebe como funciona? Mesmo situação, lugares diferentes, explicações diferentes.

Por isso a lenda se perpetua, as pessoas repetem de zoeira, algumas a sério, outras ficam no “vai que…” e temos um meme, no sentido criado por Richard Dawkins, uma memória coletiva que se reproduz, adapta e perpetua. Culturalmente o Triângulo das Bermudas é idêntico à Lenda do Boto, uma explicação simples e confortante para um acontecimento fora de nosso controle, cuja explicação pode não ser de nosso agrado.

Então é mais fácil culpar alienígenas do que equipamento defeituoso ou negligência, ou admitir que sua filha fez saliência com o Edson Celulari, aquela safada.


Source link

Comentários no Facebook

× Consulte-nos!