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O que o Banco Central vai fazer em 2021? [Parte 2]


Alguns dias atrás escrevi sobre a Agenda BC#, os principais objetivos do Banco Central para o ano de 2021, e compartilhei um pouco mais da visão estratégica do regulador para assuntos como Pix e o novo mercado de recebíveis. Hoje, falaremos um pouco mais sobre outras importantes novidades que vêm pela frente.

Open Banking

Já falei algumas vezes sobre o open banking aqui. A premissa básica do modelo é “os dados são do cliente e cabe a ele (e não ao banco) decidir o que fazer com eles”.

Dessa forma, em 2021 entrou em funcionamento o Open Banking, que será viabilizado por meio de interfaces de programação de aplicações (APIs) padronizadas entre as empresas — bancos, instituições financeiras e fintechs — que operam no mercado financeiro, criando uma série de novos modelos de negócios que se baseiam no mais fácil acesso a dados dos clientes.

Com mais acesso à informação, o Open Banking permitirá aos clientes compartilhar o acesso aos seus dados financeiros com terceiros, sobretudo fintechs e novos entrantes, que podem usar esses dados para oferecerem aos consumidores melhores produtos e serviços financeiros.

Espera-se, pois, uma melhor competição entre as empresas, que com mais informação podem oferecer melhores taxas, serviços mais rápidos e produtos mais customizados. Quem ganha com isso é o cliente, pois o aumento da competição certamente trará maior conveniência, bem como custos e experiência do usuário melhores.

O Open Banking seguirá uma tendência mundial (já foi implementado em diversos países no mundo) e aqui será divido em fases.

Na primeira fase, os bancos, que são participantes obrigatórios, desenvolveram junto ao Banco Central os padrões e as regras de utilização das APIs para que pudessem disponibilizar os dados de seus clientes, informações sobre seus produtos e serviços, assim como detalhes sobre as movimentações financeiras e operações de crédito que oferecem. Na segunda fase, que está prevista para 15 de julho, serão feitos cadastros e transações de clientes relativos aos produtos e serviços da fase 1. Na terceira fase, que tem prazo para 30 de agosto, ocorrerão os serviços de iniciação de transação de pagamento. Na quarta fase (15 de dezembro), serão desenvolvidos outros produtos, serviços e transações de clientes, como operações de câmbio, investimentos, seguros e contas-salário.

Inteligência artificial e segurança da informação

O Banco Central tem tentado fomentar e favorecer o florescimento de um mercado financeiro mais digital, moderno e eficiente. Sou testemunha ocular desse processo, desde quando comecei a discutir com o Banco Central a respeito do surgimento, no Brasil, das primeiras fintechs em 2015, e o regulador sempre adotou uma postura aberta e progressista sobre o assunto.

A visão do regulador sempre foi pró aumento de competição, desde que os novos players respeitassem as regras, procedimentos e, principalmente, se mostrassem adeptos ao diálogo com os entes regulatórios.

E posso afirmar que isso foi muito salutar, pois o sistema financeiro brasileiro sempre foi reconhecido mundialmente pela sua solidez e seriedade. Havia, como ainda há, espaço para redução de burocracia, automatização, digitalização, redução de taxas e custos, bem como aumento da competição. Mas as regras e os princípios precisavam ser respeitados.

Por conta disso, uma parte importantíssima da Agenda BC# é direcionada ao incentivo de desenvolvimento de sistemas ainda mais robustos de segurança e que possibilitam melhor uso de dados, sem expor clientes.

Desse modo, e até mesmo por conta da pandemia, espera-se que 2021 seja um ano em que a tecnologia deva ganhar ainda mais destaque no mercado. Alguns exemplos: uso de inteligência artificial no atendimento aos clientes, automatização do back office das empresas financeiras, digitalização de processos, melhorias nos processos de abertura de contas, operações 100% online e uso de análise dos dados para criação de produtos mais personalizados.

E, nessa mesma linha, os bancos e as fintechs devem investir pesado em segurança cibernética e segurança da informação. Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), os bancos no Brasil investem anualmente cerca de R$ 2 bilhões em sistemas de tecnologia da informação voltados para a segurança – valor que corresponde a cerca de 10% dos gastos totais do setor com TI.

O objetivo é garantir a tranquilidade de seus clientes e colaboradores, desenvolvendo e implantando novas soluções e tecnologias, melhorando a cada dia os seus canais de atendimento, além de manter equipes de especialistas que identificam situações divergentes do comportamento habitual do cliente.

As Fintechs, se quiserem continuar ganhando espaço e relevância no mercado financeiro, vão sempre precisar elevar a barra também nos quesitos segurança e tranquilidade, oferecendo isso para seus clientes.

Dessa forma, 2021 promete muito investimento em sistemas e ferramentas tecnológicas, infraestrutura e segurança, além, é claro, de melhores experiências do usuário, com ambientes cada vez mais rápidos, cômodos para o usuário e seguros.

Todo o mercado precisa se adaptar às mudanças trazidas pela pandemia e pela Agenda BC# e, por enquanto, os impactos das mudanças estão sendo positivos. E quem ganha com isso, certamente, é o cliente do mercado financeiro.

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Paulo David, colunista quinzenal do TecMundo, é fundador e CEO da Grafeno, fintech que oferece contas digitais e infraestrutura de registros eletrônicos para empresas e credores, além de sócio do SPC Brasil na construção de infraestrutura para o mercado financeiro. Antes da Grafeno, fundou a Biva, primeira plataforma de empréstimos peer-to-peer do Brasil, que foi adquirida pelo PagSeguro, empresa de meios de pagamentos. Foi superintendente do Sofisa Direto, a divisão digital do banco Sofisa. Atuou no time do Pinheiro Neto Advogados e na equipe da gestora de investimentos KPTL (ex-Inseed Investimentos). É investidor-anjo em fintechs no Brasil e na Europa.


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